Batalhão de Caçadores 1933
História
da Unidade
O Batalhão de
Caçadores 1933 (CCS, CCac1790, CCac1791 e
CCac1792) «O QUE FIZERMOS VOS DIRÁ QUEM
SOMOS», mobilizado pelo Regimento de
Infantaria 15 (Tomar), para servir na província
ultramarina portuguesa da Guiné, no período
de Outubro de 1967 a Agosto de 1969.
Excertos
do livro:
PREÂMBULO
Foi-me confiada, estou convicto de que com
pouco acerto, a apresentação de notas
preambulares ao trabalho que está perante
Vós.
Após a leitura de tais notas, no caso em
que, como é óbvio, elas vierem a ser lidas,
ser-Vos-á dado apreciar uma história que fez
História, mau grado a condição modesta da
maioria dos seus protagonistas.
Ela é uma história de verdade, fielmente
contada. Trata-se da reprodução de documento
oficial, designado por "História da
Unidade"; no caso em presença, "HISTÓRIA DO
BATALHÃO DE CAÇADORES 1933".
Volvidos que foram 25 anos, após o seu
regresso de terras longínquas da Guiné que
foi portuguesa, alguém houve por bem
promover a reedição integral de tal
documento, a fim de ser conhecida e
divulgada, aos quatro ventos, a saga dos
valorosos Homens que enformaram a Unidade em
análise, durante a sua permanência, naquelas
terras. Apenas receio que, pela frieza da
sua condição de documento oficial, algo
venha a ser relegado para plano ignorado.
Abrirei um parêntesis, para lembrar que,
como em outras ocasiões, já referi, apenas
me coube a honrosa missão de comandar o B.
CAÇ 1933, em circunstâncias pouco ortodoxas
e assaz efémeras. Nessa conformidade, mau
grado o facto de muito me ter sido dado
viver, numa situação de campanha, tenho por
bem declinar a assunção do direito de me
incluir, no todo dos valorosos Homens, a que
aludi.
Darei por fechado o parêntesis, atrás aberto
e prosseguirei na exposição das
considerações iniciadas.
Disse-Vos, atrás, que a história que, por
certo, captará a Vossa atenção é uma
história de verdade.
Todos nós temos, por não passíveis de
controvérsia, os conceitos de "verdade", de
"toda a verdade". Assumo, todavia a
convicção de que existem verdades que são só
nossas e que elas permanecem nas insondáveis
profundezas do foro íntimo de cada
indivíduo.
Também esta história não revela algumas
verdades.
Na realidade, ela não fala das duras
provações e dos sacrifícios, a que fomos
submetidos.
Não fala da angústia produzida, pela demora
no regresso de sub-unidade empenhada em
missão de risco e com a qual foi perdido o
contacto via rádio.
Guarda, para si, tudo quanto foi o tormento
de Madina do Boé, o inferno de Béli, o
isolamento do pequeno posto do Chéche e os
sérios motivos de inquietação, despertada
pelos sempre iminentes e algumas vezes,
consumados, bombardeamentos a S. Domingos.
Não fala das noites de mortificante vigília,
bem pouco consentâneas com o retemperar da
fadiga.
Nada revela quanto às carências decorrentes
de naturais dificuldades de
reabastecimentos.
Nada diz, ainda, a propósito da dolorosa
angústia que atormentou a vida dos que
ficaram longe.
Na realidade, esta história guarda consigo
algumas verdades; no mínimo, as que referi,
dentre outras.
A PÁTRIA HONRAI, QUE A PÁTRIA VOS
CONTEMPLA!...
Eu não sei se, na sua grandiloquência, as
palavras do poeta podem ser interpretadas
como tratando-se, na sua essência, de um
mero pacto, se bem que rico em simbolismo.
Se me não enganei, direi, sem rebuço ou
dúvida, que os briosos Homens do B CAÇ 1933
cumpriram a sua parte do acordo. Refiro-me,
naturalmente, àqueles que ofereceram a
própria vida e aos que puderam regressar,
incólumes ou mutilados.
Que seja cumprida a outra parte. Que a
Pátria e os homens honrem o seu compromisso,
não deixando que caiam no olvido sublimes
valores.
Este é o meu voto.
Armando Saraiva
in página 3 da História da Unidade
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BATALHÃO DE CAÇADORES 1933
RESUMO DOS FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES
O Batalhão de Caçadores 1933 tem como
Unidade Mobilizadora o Regimento de
Infantaria 15. A instrução do Batalhão
realizou-se no R I 15 a partir de MAIO de
1967. A sua organização teve lugar no Campo
Militar de Santa Margarida, de 7 a 19AGO67,
a que se seguiu a Instrução de
Aperfeiçoamento Operacional, na qual teve de
se vencer uma série de dificuldades
provenientes da falta de meios existentes,
conseguindo-se apesar de tudo um bom nível
de instrução, para os Quadros e para as
Praças.
O embarque do Batalhão para a Província
verificou-se em 27SET67, no Cais de
Alcântara, no navio "TIMOR" e na madrugada
do dia 03OUT fundeou-se ao largo de BISSAU,
tendo sido o desembarque pelas 0800.
A CCS/BCAÇ entrou em Sector na região de
NLAMEGO, Sector L3, tendo as suas Companhias
sido destacadas para FÁ e ENCHEIA como
Reserva do Comando Chefe. A CCAÇ 1792 que
desembarcou cerca de um mês depois na
Província foi destacada para o Sector de
FARIM.
Em NLAMEGO, Sector L3, área com
características especiais dada a extensão da
ZA e as populações existentes de etnia FULA,
foi desenvolvida uma intensa actividade
operacional não só para detecção dos Grupos
IN que ali actuavam como para contacto das
populações que era necessário proteger. A
Sul de NLAMEGO e da estrada que conduz a
PICHE, sobretudo no itinerário NLAMEGO -
CHÉCHÉ o contacto com o IN era quase sempre
por emboscada deste ou então quando não
havia contacto havia implantação de minas
que provocaram algumas baixas e danos em
viaturas. O IN na área apresentava-se com
elementos muito bem treinados e
poderosamente armados que utilizavam o
terreno da melhor maneira tirando do seu
perfeito conhecimento o melhor partido. Os
Grupos que actuavam além destas
características tinha ainda uma de grande
importância que era a da sua grande
mobilidade pois, nomadizava quase em
permanência surgindo quase sempre por
surpresa. A região do SIAI onde se acoitava
oferecia-lhe as melhores condições. Foram
realizadas durante o período de cerca de 4
meses, no Sector L3, 29 Operações muitas
delas conduzindo à detecção de minas A/C e
A/P que o IN implantava com grande profusão,
sendo de salintar as Operações "LUPA" e
AGORA OU NUNCA" realizadas na região do SIAI
pelos contactos havidos e pelas baixas
infligidas ao IN. Na primeira 4 mortos
confirmados e feridos em número não estimado
e na segunda 1 morto confirmado com a
captura da sua arma automática. Tanto numa
como noutra operação as NT sofreram alguns
feridos graves sendo outros ligeiros.
Em meados de FEVEREIRO de 1968 o Comando e
CCS do Batalhão abandonaram o Sector L3
tendo após cerca de um mês de permanência em
BRÁ, seguido para S. DOMINGOS onde assumiu a
responsabilidade do Sector 01B mais tarde
designado 06.
Neste Sector, houve que fazer-se uma
adaptação à Zona que tinha características
completamente diferentes da anterior. Assim
a ZA do Batalhão era reduzida e as
Companhias que tinha na sua dependência
também em número reduzido.
As populações da Zona Oeste de etnia Felupe,
extraordinariamente fiéis à causa Nacional,
mantendo-se as outras com uma certa
indiferença em relação à nossa presença.
A actividade agora em moldes diferentes,
visto não haver um Inimigo localizado em
Território Nacional. Tratando-se de uma zona
fronteiriça em que o IN tem como preocupação
dominante, o passar, para Sul, o tipo de
operação utilizada era predominantemente a
emboscada e o patrulhamento intensivo de
toda a faixa de fronteira.
Foram realizadas de ABRIL a DEZEMBRO de
1968, 158 operações e em 1969 até 17JUL
foram realizadas 60 operações e 89 acções de
pelo menos um dia de duração.
Os contactos havidos foram reduzidos
tendo-se no entanto detectado e levantado
inúmeras minas A/C e A/P.
O Batalhão enquanto no Sector 06 foi alvo de
algumas flagelações por parte do IN, tanto
nos Aquartelamentos das suas Subunidades
como nalguns núcleos populacionais em auto
defesa, sendo de destacar como mais violenta
a que o IN realizou na noite de 27/28AG068
ao Aquartelamento de S. DOMINGOS.
Enquanto a CCS e Comando do Batalhão
desenvolviam a sua actividade nos Sectores
L3 e 06, as suas Subunidades orgânicas
actuavam na Província em MADINA DO BOÉ, a
CCAÇ 1790, desde meados de Janeiro de 1968
até Fevereiro de 1969; a CCAÇ 1791 em
ENCHEIA e a CCAÇ 1792 em SALIQUINHEDIM, K-3
Sector de FARIM.
Tomaram parte em muitas operações podendo-se
destacar pela sua importância as Operações
"INSTAR" GOSSE GOSSE" "IMIGRANTE" "GRÃO
DUQUE" "FORTIFEIO" "LINCE" "ESPADA RUBRA"
"NOBRE AUDÁCIA" "MABECOS BRAVIOS" realizadas
pela CCAÇ 1790. Esta Subunidade durante a
sua permanência em MADINA DO BOÉ, executou
várias operações na área, tendo tido 13
contactos exteriores com o IN e sofrendo 243
flagelações ao Aquartelamento sendo de
destacar a flagelação levada a efeito pelo
IN na noite de 13/14 MAR68 em que a sua
duração foi de 10 horas. A todas reagia com
manobra ou fogo das suas armas pesadas tendo
na reacção a algumas das flagelações,
provocado baixas ao Inimigo.
No abandono do Quartel de MADINA DO BOÉ, por
ordem superior, na operação "MABECOS
BRAVIOS" sofreu o maior acidente verificado
na Província, em que na passagem do RCORUBAL
desapareceram por afogamento 25 elementos
europeus e 5 nativos desta Subunidade.
Em todas as operações e acções realizadas a
Subunidade infligiu ao IN, 43 mortos e 13
feridos confirmados tendo ainda capturado 16
elementos. Capturou ao IN diverso material
de guerra e grande quantidade de munições de
armas ligeiras e pesadas.
Foi distinguida com uma CITAÇÃO do Exmº CMDT
DO AGR 1980 na operação "INSTAR", com uma
CITAÇÃO de S. Exª o CMDT MILITAR e com um
DESPACHO de S. Ex° o Comandante Chefe das
FAG.
A CCAÇ 1791 realizou também inúmeras
operações de que se destacam as Operações
"BARROTE" "BOLO REI" "CACHIMBO DE OURO"
"BANIR" "GUERRA SEGUIDA" e "LANÇA AFIADA".
Na realização das várias operações e acções
que realizou teve um total de 20 contactos
com o IN infligindo-lhe 8 mortos e 6 feridos
confirmados e tendo capturado 22 elementos.
Capturou ainda ao IN diverso material de
guerra, explosivos e muitas munições. Foi
CITADA pelo CMDT DO BAT 1915 pela sua
extraordinária acção na operação "CACHIMBO
DE OURO" e ainda pela acção psicológica que
eficaz e exuberantemente desenvolveu no seu
Sector captando as populações, conseguindo a
recuperação de grande número de elementos IN
ou seus colaboradores, pela confiança que os
seus métodos lhes inspiraram em que
mereceram referência especial a acção
educativa.
Coube à CCAÇ 1792 além do Sector de FARIM
onde esteve inicialmente sob a dependência
do BCAÇ 1932, a sua intervenção no Sector de
ALDEIA FORMOSA.
No Sector de FARIM realizou diversas
operações de que se destacam as operações
"CORSÁRIO III" "CESTO" "LOBO MAU" em que
foram assaltados Acampamentos IN com
destruição das suas instalações e meios de
vida e infligido ao IN vários mortos,
feridos e captura de diverso material de
guerra e munições. Nas operações "CABAZ"
"CAMÉLIA" e "LÂMPADA MÁGICA" em que tendo
havido contacto com o IN este sofreu
diversos mortos e feridos. Tendo sido
destacada para o Sector de ALDEIA FORMOSA a
Subunidade foi submetida a intensa
actividade operacional destacando-se as
operações "GRANDE RONCO" em que foram
detectadas 8 minas A/C e as nossas forças
foram flageladas pelo IN que sofreu alguns
feridos confirmados e a operação "ROYAL" na
região de MISSIRÃ (BUBA) em que foi
estabelecido contacto com o IN que sofreu 3
mortos além de feridos vários e lhe foi
apreendida uma Esp. SIMONOV.
Esta Companhia em virtude do seu bom
comportamento operacional, do seu
assinalável espírito de corpo e do elevado
grau de combatividade que possuía, foi
conduzida à obtenção de assinalados êxitos
pelo 4 que mereceu de S. Ex' o Comandante
Militar uma CITAÇÃO, que foi extensiva ao
seu Comandante de Companhia, capitão ANTUNES
REI.
Durante a sua permanência na Província o
Batalhão com as suas Subunidades orgânicas
teve as seguintes baixas em combate:
Mortos:
7 (sendo 2 Sargentos)
Feridos (evacuados para a Metrópole e HM
241:
33 (sendo 2 OF. CMDT BCAÇ e CMDT CCAÇ 1792,
2 Sarg. e 29 Praças).
O COMANDANTE,
RENATO NUNES XAVIER
COR. INF.
in páginas 309, 310
e 311 da História da Unidade
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