Escola Prática de
Artilharia, 150 anos de História (1861 - 2011)

Oferta do
2.º Comandante Tenente Coronel
Hélder Perdigão
à Confraria dos
Amigos dos Anos Sessenta de Vendas Novas,
através do
Confrade Carlos Alberto Almeida
Vaz
(http://caas.terraweb.biz)
O
livro:
"Escola
Prática de Artilharia, 150 anos de História (1861 -
2011)"

título : Escola
Prática de Artilharia, 150 anos de História (1861 -
2011)
supervisão e edição:
2.º Comandante da EPA, TCor Art Vítor Hugo Dias de
Almeida
coordenação: Director
de Formação, TCor Art Vítor Manuel Morgado da Fonseca
Afonso Jorge
autores:
Gen José Alberto
Loureiro dos Santos,
Gen Gabriel Augusto
do Espírito Santo,
TGen Silvino da Cruz
Curado,
MGen Frederico José
Rovisco Duarte,
MGen Fernando Nunes
Canha da Silva,
Cor Tir Art João
Jorge Botelho Vieira Borges,
Cor Tir Art José
Alberto da Costa Matos,
Cor Tir Art José
Fernando Jorge Duque,
Cor Art Francisco dos
Santos Silva,
TCor Art Pedro
Alexandre Marquês de Sousa,
Maj Art Carlos Miguel
Siborro Leitão,
Doutora Maria da
Saudade Rodrigues Colaço Baltazar
fotografia da capa:
Zé Bicho
grafismo, impressão e
acabamento: JMG - Artes Gráficas e Publicidade, Lda.
tiragem: 500
exemplares
data: 04 de Dezembro
de 2012
ISBN:
978-989-96285-2-6
depósito legal n.º
351504/2
Nota
Introdutória:
As minhas primeiras
palavras são para saudar a iniciativa, do Comando da
mais antiga Escola Prática do Exército Português, de
publicar o presente livro intitulado "Escola Prática de
Artilharia, 150 anos de história (1861-2011)", no âmbito
das comemorações do seu 150° aniversário. Gostaria,
ainda, de prestar justo reconhecimento aos autores pela
sua insigne colaboração que, através de relatos cuidados
e detalhados, muitas vezes com recurso a experiências
próprias, homenagearam todos aqueles que contribuíram
para a criação da "Casa Mãe da Artilharia" e para o seu
desenvolvimento, consolidação e transformação ao longo
dos tempos, sublinhando a sua dedicação à formação e ao
treino operacional, bem como a sua ligação à comunidade
e ao município de Vendas Novas.
A Escola Prática de Artilharia foi criada por influência
de D. Pedro V, que teve a iniciativa de utilizar o
Palácio de Vendas Novas para a para a instalação de um
estabelecimento militar de instrução prática, evitando,
assim, que o nobre edifício se transformasse em
depósitos da Companhia de Caminho-de-Ferro do Sul.
Por Portaria de 18 de
março de 1861, do Ministro da Guerra, o então Visconde
de Sá da Bandeira, criou a Escola Pratica de Artilharia,
comemorando-se, este ano, os 150 anos de sua existência
ininterrupta, sempre sedeada em Vendas Novas, terra à
qual a ligam fortes laços de afetividade e apoio,
pautando o cumprimento da sua missão, honrando o mote
inscrito no seu brasão de armas, "Mais Afinando a Fama
Portuguesa", tal como citado no imortal poema épico do
nosso poeta maior, Camões.
Ao longo da sua
existência, a Escola Prática de Artilharia, teve e tem
um papel fundamental na investigação, estudo e
desenvolvimento da Artilharia Portuguesa contribuindo de
forma decisiva para a evolução do Exército nomeadamente
na atualização de doutrinas, procedimentos e técnicas,
na formação das sucessivas gerações de Oficiais,
Sargentos e Praças de Artilharia, a que se juntam
elementos de Países de Língua Oficial Portuguesa e de
outros ramos das Forças Armadas.
Tal representa não só
um louvável esforço e vontade de transmissão de
conhecimentos, mas também um significativo contributo
para a sociedade em geral, materializado através do
desempenho dos mais altos cargos, de natureza militar
e/ou civil e da nobreza e honra colocada em muitas das
atitudes evidenciadas, por parte de muitos artilheiros
formados na Casa Mãe da Artilharia Portuguesa, como são
exemplos, entre muitos outros, os seguintes: o
General Bernardo de Faria e Silva, oficial distinto
que comandou a 1ª Divisão do Corpo Expedicionário
Português, durante a 1ª Grande Guerra, em França; o
General Jacinto dos Reis Fischer, oficial de elevada
craveira que serviu a Escola durante vinte e cinco anos
consecutivos e veio a fundar a Misericórdia e a
Corporação de Bombeiros de Vendas Novas; o General
Eugénio Bilstein de Menezes, artilheiro totalmente
dedicado à sua Arma, ao serviço da qual participou na
batalha de La Lys; o General Eduardo da Costa
Ferreira, cientista e mestre insigne na Escola
Militar, que serviu a Escola Prática de Artilharia até
ao último fôlego, nela vindo a expirar no exercício das
suas funções; e o Tenente-Coronel Raul Mesquita
Passos Ramos, notabilizado como um dos mais
brilhantes oficiais da sua geração e que viria a falecer
numa missão de serviço na Guiné.
Com a publicação
deste livro a Escola concretiza mais um projecto que,
por certo, a par do livro 'A EPA: das origens ao
alvorecer do III Milénio", da autoria de Aleixo Pais,
será um tributo a todas as gerações de Artilheiros que
servem ou serviram na Escola Prática de Artilharia
engrandecendo o Exército e Portugal, e contribuirá para
manter viva a memória e a história desta Casa que é a
Casa-Mãe da Artilharia Portuguesa, que formou milhares
de Oficiais, Sargentos e Praças, dando corpo à nobre
missão de ensinar e participou em todos os
acontecimentos significativos dos últimos 150 anos da
sua história, contribuindo, assim, de forma indelével e
inquestionável, para o que é, hoje, a nação portuguesa.
Vendas Novas, 20 de
dezembro de 2011.
O Chefe do Estado-Maior do Exército
Artur Pina Monteiro
General
Prefácio
É com grande
satisfação e elevado orgulho que a Escola Prática de
Artilharia (EPA) apresenta o seu primeiro livro
electrónico (e-book), agora lançado sobre o formato de
papel, resultado de um esforço conjunto de diversos
autores, na sequência das Conferências Comemorativas dos
150 anos desta Unidade do Exército Português, realizadas
entre 13 de Outubro e 24 de Novembro de 2010.
Ao comemorar tão importante efeméride, em 18 de Março de
2011, pretende esta Unidade deixar um registo
diversificado e de qualidade, para utilização no
presente e para as gerações futuras, que permita
conhecer melhor o que foi o seu caminho ao longo deste
já extenso período de vida, de forma a poder reflectir
melhor sobre o seu presente e sobre o seu futuro. É pois
mais uma forma de comemorar esta importante data, com
grande dignidade e solenidade, mas também com orgulho
pelo trajecto percorrido e pelo trabalho realizado,
durante o seu percurso, pelos inúmeros militares e civis
que aqui serviram e servem com grande empenho,
dedicação, zelo e saber, de modo a elevar bem alto o
nome da Artilharia portuguesa.
Ao longo da sua
existência, a EPA formou milhares de Oficiais, Sargentos
e Praças, dando corpo à nobre missão de ensinar. A
qualidade da formação aqui ministrada contribuiu
decisivamente para o enriquecimento individual e
colectivo, em áreas tão diversificadas como a Táctica e
o Tiro, o Comando e Controlo, a Topografia, a Balística,
os materiais, a Matemática, a Liderança, a Administração
e, mais recentemente, também na área das novas
tecnologias, para só referir algumas das mais
significativas. A Escola formou combatentes que
participaram em todos os conflitos em que a Nação se
envolveu nos finais do século XIX e durante todo o
século XX, continuando a formar hoje as novas gerações
de militares que levam longe o nome de Portugal, nos
Teatros de Operações do Kosovo, do Afeganistão ou de
Timor. É tudo isto que queremos ver registado neste
livro.
A Escola formou pessoal do Quadro Permanente e
contratados, formadores e instrutores, operacionais e
pessoal de serviços, Quadros e Praças, pessoal de apoio
e administrativos, na instrução geral, na especialidade
e em cursos de formação e de qualificação enfim, sempre
na senda de melhor preparar os recursos humanos, para o
desempenho das exigentes funções decorrentes da vida
militar. Os militares da Escola ou aqui formados, deram
um precioso contributo ao desenvolvimento local e
nacional, sendo de destacar a sua participação em
actividades de natureza política, económica, cultural,
desportiva e social, nas mais diversas esferas de
actuação. A Escola e o seu pessoal estiveram envolvidos
em momentos decisivos da História Nacional, incluindo a
Implantação da República, de que se comemorou
recentemente o seu centenário, e na Revolução de 25 de
Abril de 1974.
A Escola colaborou decisivamente no desenvolvimento do
Concelho de Vendas Novas, da cidade e das suas
organizações locais, incluindo a Santa Casa da
Misericórdia e os Bombeiros, sempre numa perspectiva de
apoio à população, incluindo o seu funcionamento como
Hospital Provisório. Como reconhecimento pelos elevados
serviços prestados ao País e à região a Escola ostenta,
no Estandarte Nacional à sua guarda, diversas
condecorações, incluindo a de Grande Oficial da Ordem
Militar de Cristo, a Medalha de Ouro de Serviços
Distintos e o título de Membro Honorário da Ordem da
Liberdade. Foi-lhe ainda atribuída a Medalha de Ouro da
Cidade de Vendas Novas. Com um percurso tão rico e
diversificado, cumpre às gerações actuais honrar o seu
passado, lembrando a sua fundação. As minhas palavras,
na qualidade de Comandante da EPA, serão sempre
escassas, para descrever a honra que todos nós sentimos
em viver tão significativo momento, pelo que convido
todos os leitores deste livro a partilharem connosco
esta honra e a associarem-se aos militares e civis que
hoje servem o Exército e o País na casa mãe da
Artilharia portuguesa, para tornar estas comemorações
dos 150 anos da EPA mais dignas, mais nobres e mais
ricas.
Importa aqui considerar as finalidades contidas na
edição deste livro: conhecer o nosso passado, para
melhor o poder honrar, estudar o nosso presente, na
perspectiva de melhorar o nosso desempenho e
perspectivar o futuro, para melhor estar preparado para
o enfrentar. Para atingir este objectivo, o livro
encontra-se articulado em doze artigos, que cobrem todo
o percurso histórico da EPA nas suas diversas facetas:
história, comandantes, uniformes, infra-estruturas,
formação e perspectiva futura; inclui ainda capítulos
dedicados a momentos e temas específicos, designadamente
o período da Guerra de África, a participação no 25 de
Abril de 1974 e a Bateria 118. O riquíssimo conjunto de
informação aqui reunida constitui, certamente, um
manancial de investigação e estudo muito útil para um
melhor conhecimento da EPA e do seu percurso, pelo que a
sua leitura e consulta irá certamente proporcionar
momentos de grande satisfação e valorização pessoal e
institucional.
Ao comemorar os seus 150 anos de vida, actividade que se
estende ao longo de todo o ano de 2011, a Escola
pretende também atingir vários objectivos.
Em primeiro lugar honrar a memória dos nossos
antecessores, pelo muito que fizeram pela
Artilharia, pelo Exército e pelo País, tantas vezes com
sacrifícios pessoais, mas sempre com grande saber,
elevada capacidade técnica e vontade de bem servir, que
permitiram criar, desenvolver e manter uma organização
de grande qualidade. O valor do seu trabalho e dedicação
está profundamente enraizado no que é hoje o espírito e
o saber artilheiro.
Em segundo lugar pretende-se evocar o passado,
recuperando o seu património histórico, a sua memória e
o seu conhecimento. Esta é também uma oportunidade única
para investigar, aprofundar e recuperar memórias e
documentos, que irão enriquecer o património da Escola e
o espólio do seu Museu, em particular no que se refere
ao conhecimento do seu passado. Uma palavra de especial
agradecimento a todos quantos nos têm ajudado nesta
grandiosa tarefa.
Em terceiro lugar é nosso desejo desenvolver o
espírito artilheiro, particularmente em momentos de
grandes mudanças no ambiente operacional, em que não
abundam oportunidades para a Arma e os seus Quadros e
tropas mostrarem o seu valor e a sua experiência, como
artilheiros, respondendo às solicitações decorrentes das
missões no exterior em que forças nacionais estão
envolvidas.
Em quarto lugar, é nosso desejo incrementar a ligação
da Escola à Sociedade e ao meio envolvente, não só
através de actividades desenvolvidas em proveito da
população, mas particularmente dando a conhecer o seu
passado, a sua realidade actual, o seu trabalho e os
seus projectos, em estreita colaboração com o poder
local, o meio universitário, as instituições e as
empresas.
Em quinto lugar avaliar a actividade e a dinâmica
actual desta importante Unidade, contribuindo para
uma maior eficiência da sua acção, em particular nas
áreas da formação e do emprego operacional artilheiro.
Este é também um momento de reflexão sobre o presente e
um desafio para analisar o nosso trabalho, procurando
sempre manter o caminho do desenvolvimento e do
progresso.
Por fim pretende-se usar esta oportunidade para
antecipar o futuro, procurando apontar métodos e
caminhos para enfrentar os desafios que se nos irão
colocar, garantindo que a Escola continuará a formar as
gerações de artilheiros de hoje e de amanhã.
Consciente da
realidade e dos condicionalismos existentes,
organizou-se um programa de actividades que, a par de um
grande realismo, seja capaz de projectar a capacidade de
realização e de mobilização da Escola e dos seus
elementos, envolver uma série diversificada de
entidades, incluindo naturalmente para além do Comando
do Exército e de diversas das suas Unidades,
Estabelecimentos e Órgãos, as forças vivas da Sociedade,
com particular destaque para o Município de Vendas
Novas, bem como individualidades, empresas e
instituições, que se prontificaram a apoiar e acarinhar
esta iniciativa. Para dar corpo a todas estas
iniciativas, foi ainda decidida a criação de uma
Comissão de Honra, de uma Comissão Consultiva e de uma
Comissão Executiva, que programaram, coordenaram e estão
a conduzir as actividades que integram o Programa de
Comemorações. Estas Comissões são constituídas por
individualidades de grande prestígio e de reconhecidos
méritos, tendo sempre como denominador comum a sua
ligação a esta Unidade, incluindo um conjunto
significativo de Oficiais que aqui serviram, num
determinado momento do seu percurso militar,
designadamente todos os antigos Comandantes que ainda
hoje fazem questão de dizer "presente" sempre que
o chamamento da Escola lhe é dirigido. É com muita
satisfação e orgulho que dirijo uma particular palavra
de saudação e de profundo reconhecimento a todos os que
não hesitaram em aceitar o convite para integrarem estas
Comissões. O nosso bem-hajam. O Programa das
Comemorações dos 150 anos da EPA tem implícito um
conjunto de actividades que se estendem para além das
normais tarefas da Unidade. Procurou-se ser realista no
nível de ambição, sem esquecer a importância do evento.
Num período de particulares dificuldades para o País,
com consequências directas em todas as áreas de
actividade, seria certamente desadequado estabelecer um
patamar demasiado elevado e, portanto, não exequível.
Apesar de algumas carências significativas, com que a
EPA se vê confrontada no seu dia-a-dia, em particular no
que se refere à falta de recursos humanos qualificados,
saberemos ultrapassar as dificuldades e vencer mais este
desafio.
Os homens e mulheres
que tenho o grato prazer de comandar há precisamente um
ano e meio, já demonstraram sobejamente que são capazes
de abraçar as tarefas mais exigentes, com determinação e
vontade, transformando problemas em desafios e
convertendo os obstáculos num factor de motivação extra,
para atingir os objectivos definidos. Naturalmente que
temos contado com o apoio de todos, artilheiros ou não,
cidadãos de Vendas Novas, do Alentejo ou de qualquer
outra parte do País, militares ou civis, indivíduos ou
organizações, pois com a ajuda diversificada será muito
mais frutuosa esta jornada que agora vivemos. Estou
certo de que tudo temos feito para que esta efeméride
esteja em consonância com o glorioso mote da nossa casa,
parafraseando o imortal poeta, "Mais Afinando a Fama
Portuguesa".
Resta-me deixar uma
palavra de particular agradecimento aos autores deste
livro Comemorativo dos 150 anos da EPA, que dedicaram
muitas das suas horas de trabalho na investigação e
reunião da informação aqui compilada, para além da
apresentação já realizada sob a forma de Conferência,
aqui deixada como registo permanente para consulta das
gerações futuras. A todos o nosso bem-hajam. Como todos
os artilheiros, evocando Santa Bárbara, formulo votos e
desejos de que as comemorações dos 150 anos da Escola
Prática de Artilharia, onde se insere o lançamento deste
livro que aqui apresento, sejam mais um momento alto da
nobre tradição artilheira e do Exército.
Vendas Novas, 18 de Março de 2011.
O Comandante
Henrique José Pereira dos Santos
Coronel de Artilharia
Índice
Nota
Introdutória |
5 |
Prefácio |
7 |
A
História da Escola Prática de Artilharia |
13 |
Comandantes e Artilheiros Ilustres |
27 |
O Período
da Guerra de África |
49 |
A
Participação da EPA no 25 de Abril de 1974 |
71 |
A EPA no
Período Pós-25 de Abril de 1974 |
81 |
As
Tradições e a Cerimonial Militar |
127 |
A Bateria
de Artilharia n.º 118 |
149 |
150 Anos
de Uniformes da EPA |
177 |
O Palácio
das Passagens e o Polígono |
227 |
A
Formação e o Treino |
239 |
A Visão
da Cidade: Percepções e formas de
relacionamento com a Escola Prática de
Artilharia |
261 |
Importância do Presente e Perspectivas do
Futuro |
277 |
|
|
Ordem de Serviço n.º 1

|