Trabalhos, textos sobre a Guerra do
Ultramar ou livros

título: "Vozes no Charco"
autor: Fernando Manuel Brites
editor: (o Autor)
1ªed. Leiria,1999
277 págs
24cm
dep.leg: PT-141647/99
ISBN: 972-98089-2-9
Em Moçambique, exerceu funções nos
Caminhos de Ferro de Moçambique.
Em Leiria, exerceu funções na Caixa de Previdência, no
Gabinete de Ingresso ao Ensino Superior, no Instituto de
Desenvolvimento e Inspecção das Condições de Trabalho,
no Governo Civil (na qualidade de Secretário), e como
Coordenador da Secção de Processo do Instituto de Gestão
Financeira da Segurança Social.
Aposentado, é licenciado em Direito pela Universidade
Internacional de Lisboa, e Pós-Graduado em Estudos
Europeus pela Faculdade de Direito da Universidade de
Coimbra.
Sócio efectivo de várias colectividades da freguesia do
Arrabal, participou na criação do Centro de Cultura e
Desporto do Arrabal, foi membro da Assembleia de
Freguesia do Arrabal, Presidente da Assembleia Geral da
Filarmónica do Arrabal, sócio fundador e Presidente do
Clube Recreativo e Desportivo do Soutocico. Fez parte da
Comissão Coordenadora das comemorações do IV Centenário
da Freguesia do Arrabal e da Comemoração do Centenário
da Filarmónica do Arrabal, tendo participado activamente
na criação das duas monografias.
Publicou os seguintes livros: Mirante (poesia,
Moçambique, 1970); Canção para um poema só (poesia,
Leiria, 1975); Vozes no Charco (ensaio sobre a guerra
colonial, Leiria, 1999); O último patamar (monografia,
Soutocico, 2012).
Galardoado com o 1º Prémio no VII Encontro de Poetas de
Leiria, com o soneto "Descalça-te, minha cidade".
Participou em co-autoria nos livros: 5x5 Poetas de
Leiria (1983); Poesia Contemporânea em Leiria (Antologia
dos Poetas de Leiria, 1988); Orvalhos de Saudade
(Antologia de Poetas da Freguesia do Arrabal, 2001).
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(¹) in "Correio
da Manhã"
25.01.2015 10:00
“A guerra fez mal à minha geração”
Podia ter ficado em Moçambique como civil mas senti-me
sozinho.
Por: Ana Maria Ribeiro

Fui para Moçambique com 18 anos trabalhar numa empresa
de artigos elétricos. Seis meses depois concorri aos
Caminhos de Ferro de Moçambique. Fiz a inspeção militar
em Lourenço Marques, atual Maputo. A 14 de janeiro de
1972, com 20 anos, fui para Boane, a 30 quilómetros da
capital, para fazer a recruta. Cinco dias depois fazia
21 anos.
Após os três meses da recruta tirei a especialidade em
reconhecimento de cavalaria na antiga Vila Pery
(Chimoio). Em três meses aprendi tudo sobre carros de
combate, as célebres Panhard e as Fox. Ainda estive um
mês em Pemba, a antiga Porto Amélia, antes de ser
mobilizado para Macomia, palco de guerra no norte de
Cabo Delgado.

Aí começou, para mim, a verdadeira guerra colonial.
Vivia-se em estado de permanente sobressalto e apesar de
não ter muitas razões de queixa, porque nunca fui
ferido, o meu grupo detetou minas, teve uma rebentada
num Unimog, sofreu uma emboscada no Moja e teve um
ataque à morteirada ao quartel, no Natal de 1972.
Fazíamos patrulhamentos para proteção às colunas civis
que transitavam entre Ancuabe e Macomia e entre esta e o
Chai. Nisto, apenas há a lamentar os feridos na mina
rebentada. Perdi companheiros de luta, sim, mas em
acidentes. Em Macomia faleceu
Artur Lopes, furriel, ao
cair de uma viatura em andamento e, em Tete, o
Filipe
Alves, também furriel, esmagado quando a Panhard se
virou no desaterro à saída da cidade. Eram ambos da
minha especialidade. Com ele faleceu também o cabo
atirador [Agostinho
Lopes de Sousa]. Só se salvou o condutor.
ESCREVER UM LIVRO
Passado um ano fui transferido para Marara, no distrito
de Tete, que ficava a meia distância entre Tete e a
barragem de Cahora Bassa. Em Tete foi pior. Quando
cheguei ainda não tínhamos blindados e andávamos a dar o
corpo às balas como atiradores de cavalaria. Os carros
chegaram passados meses e aí um pelotão de Marara passou
a fazer proteção às colunas de Changara para Tete e
daqui para Cahora Bassa.
Quando se deu o 25 de Abril estava a fazer proteção num
aldeamento de Boroma, onde havia uma missão de padres e
freiras italianos. Na altura houve agitação. Tentativas
de golpes da Frelimo que nós fomos sempre controlando.
Nessa altura, por indicação superior, voltei à base de
Marara e, finalmente, para Maputo, em junho de 74,
transferido para o esquadrão militar da cidade.
Quando pensávamos que estava tudo a correr bem, deu-se o
7 de Setembro. Para comemorar o Acordo de Lusaka e a
transferência de poderes para a Frelimo, os negros da
periferia invadiram a cidade com insultos aos brancos.
Estes revoltaram-se e ocuparam as instalações do Rádio
Clube.
Foi complicado. Começaram as revoltas e os morticínios.
Matava-se quem quer que entrasse na cidade e nós
tínhamos de andar a proteger as pessoas. Chegámos a
andar 40 horas seguidas em cima de uma Panhard a fazer
patrulhamentos entre o aeroporto e a cidade. Foi então
que começou o êxodo dos lusos.
A 20 de outubro de 74 passei à disponibilidade e voltei
a trabalhar nos Caminhos de Ferro, mas sentia-me sozinho
e acabei por regressar a Portugal em maio de 1975. No
meu livro ‘Vozes no Charco’ recordo a guerra colonial e
os malefícios que causou à minha geração.
depoimento de FERNANDO BRITES
Comissão: Moçambique, 1972-1974
Força: Cavalaria
Atualidade: É casado, tem dois filhos. Aos 64 anos, é
reformado da Segurança Social

Grupo de combate no quartel de Marara
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Os falecidos referenciados no texto supra:

Artur Dias Lopes
Artur Dias Lopes, Furriel Mil.º de Cavalaria, nasceu na
freguesia e concelho de Lourenço Marques, mobilizado
pela Região Militar de Moçambique para servir naquela
Província Ultramarina integrado no Esquadrão de
Cavalaria 1.
Faleceu no dia 5 de Novembro de 1972
Filipe Baptista Alves
Filipe Baptista Alves, Furriel Mil.º de Cavalaria,
natural do lugar de Silva, da freguesia de Carrazedo de
Montenegro, concelho de Valpaços, mobilizado pela Região
Militar de Moçambique para servir naquela Província
Ultramarina integrado no Esquadrão de Cavalaria 3.
Faleceu no dia 16 de Julho de 1973

Agostinho Lopes de
Sousa
Agostinho Lopes de Sousa, 1.º Cabo Atirador, nascido no
dia 15 de Novembro de 1950, no lugar de Corvos, da
freguesia de Anaia, concelho de Ponte Lima, mobilizado
pela Região Militar de Moçambique para servir naquela
Província Ultramarina integrado no Esquadrão de
Cavalaria 3.
Faleceu no dia 16 de Julho de 1973. Tinha 22 anos de
idade.
Está sepultado no cemitério da freguesia de
naturalidade.
Que as suas Almas descansem em Paz!