
“…
Em finais de
Janeiro de 1973, na pujança da minha vida (7x4=28 anos
de idade), coube-me em destino que fosse tomar posse do
posso administrativo de Quionga (Cabo Delgado), mesmo
junto à foz do Rovuma, um grande rio de África, onde
permaneci (7x3=21 meses).
Estive para
não desembarcar por não haver cais acostável. Da fragata
que me levou de palma até lá passei para uma jangada e,
daí para terra, fui às costas de um soldado europeu.
À minha espera
estava o comandante militar e as minhas forças – 7
cipaios (polícias africanos).
Tinha uma bela
mansão, tipo colonial, feita pelos alemães, frente ao
pequeno posto administrativo, onde se encontrava o meu
intérprete (nem adjunto havia) e o funcionário dos C.T.T.

Existia uma
aldeia bastante bonita, toda pintada ao género árabe e
uma população de cerca de duas mil almas, praticamente
todas muçulmanas e de idioma “suahili”. Pertencente ao
meu posto, tinha também cerca de 25 (2+5=7) milícias de
protecção civil e outro aldeamento de cerca de mil
almas, guardadas por 3 guardas fiscais e distanciado uns
7 quilómetros. Tinha o simpático nomo de Quirinde.
População
europeia, apenas os militares, um pelotão da metrópole e
outro de Grupos Especiais (G.E.), de maioria africana.
Não existia qualquer mulher europeia (apenas a minha mãe
e irmã, foram uma vez até lá). O comerciante principal
era indiano e o enfermeiro e o professor africanos.
Havia a escola
e o antigo posto de alfândega servia de aquartelamento
militar. As habitações, além das casas do enfermeiro e
do comerciante, eram palhotas.
Já fora da vedação de arame farpado que circundava a
povoação existia um pequeno cemitério abandonado, onde
se podia ver a campa de um general alemão.
(*)
Ali vivi
talvez o melhor ano da minha vida, num antigo palacete,
guardado à noite por duas sentinelas e que servia também
de hospedagem, de hospital, etc.
A sua base era
uma cisterna para armazenamento da água da chuva e tinha
um quintal enorme com bastantes árvores de fruto
tipicamente africanas.
Governei esse
povo e nunca foi necessário mandar alguém para a prisão,
embora se aplicassem os castigos merecidos aos
prevaricadores.
…”
in : "Quionga,
meu amor"
(*) -
Sublinhado pela equipa do UTW