Trabalhos,
textos sobre operações militares ou livros
Elementos cedidos por
um colaborador do portal UTW

Jorge Cobanco
Nascido em Lisboa a
21 de Agosto de 1940, com um ano de idade foi para Cabo
Verde com seu pai, que ali cumpriu serviço militar; e
aos cinco regressou a Lisboa.

Em 1948 viajou com a
família para Angola, fixando-se em Sá da Bandeira e onde
fez o curso liceal.
Em 1959 incorporado
no Exército, fez o curso de sargentos milicianos e ficou
colocado no Grupo de Artilharia de Campanha, em Luanda.
Em Dezembro de 1960
passou à disponibilidade; mas em 1961 foi chamado
novamente às fileiras.
Veio a permanecer em
São Salvador do Congo, com a 2ª Bateria, entre Abr63 e
Fev64.
Posteriormente, com a
profissão de locutor e produtor, trabalhou em várias
emissoras angolanas.
- «Dedico esta obra a
todos os que, envergando a mesma farda, servem ou
serviram no Ultramar... Todos os que viveram comigo
estes "Onze Meses de Guerra em Angola", do primeiro ao
quarto pelotão daquela Bateria de Artilharia... Quem me
ajudou a transformar em livro, uma obra sem
pretensões... Capitão Gomes Cachadinha, pelo apoio
constante que me deu... Maria Carmen, pela palavra
própria, no momento oportuno, não me deixando
desistir...
"11 meses de guerra em Angola"

título: "11 meses de
guerra em Angola"
autor: Jorge Cobanco
editor: (o autor)
1ªed. Novo Redondo, 1970
148 págs (ilustrado)
[excerto]
- «Toda a gente levava o rosto embuçado pelos lenços,
que protegiam de certo modo daquela poeirada, já que os
olhos iam protegidos com óculos próprios. Óculos do
Exército. A coluna avançava calmamente. Toda a gente
conversava ria e fumava. Toda a gente fazia o possível
por passar o tempo da melhor maneira. Sem dar pela sua
marcha, descontraidamente.
Na GMC da frente seguia uma secção que era comandada
pelo Galvão. O "gigante" como era conhecido. Devo dizer
que o Galvão media cerca de 1,90m.
O ambiente, à volta era o mesmo de sempre. Capim
amarelento, corroído pelo sol que queima, por um sol que
aquece verdadeiramente, e que faz suar.
A paisagem de momento para momento sofria contínuas
alterações. Ou era uma planície que se atravessava, ou,
de repente, surgia um morro que parecia uma sentinela
vigilante.
À frente e, voluntariamente, tinha-se instalado um
soldado negro sobre um dos estribos da GMC.
Atento à estrada. Com intuito de verificar se por acaso
não estaria o trilho normal transfigurado. Diferente.
Com vestígios de ter sido mexido. Isso seria um sinal,
um sinal de que existiria mina. A tal panela preta que,
ao rebentar, provocava sempre estragos.
Todavia, calmamente, a coluna ia avançando com os olhos
postos na estrada.
Atento ao mais pequeno pormenor, o tal soldado, ia
olhando para a estrada... »
– «Algumas palavras acerca da obra.
Estas crónicas de guerra, que Jorge Cobanco resolveu
agora editar, são mais um testemunho da luta que o país
iniciou em Março de 1961 e mantém nos nossos dias.
Testemunho de um jovem que combateu, que viveu momentos
bons e maus, que teve alegrias e tristezas, que abriu os
lábios num ar de sorriso de satisfação ou os trincou,
num gesto de desespero. São testemunho de alguém que, de
espingarda em punho, percorreu regiões longínquas no
Norte, cumprindo o seu dever de cidadão.
São já muitos e variados os livros que se editaram sobre
esta guerra. Alguns apenas com um sentido meramente
oportunista, reportagens quantas vezes puxadas ao
sensacionalismo, para fazer vender a obra. É por isso
que à primeira vista o livro de Jorge Cobanco poderá
parecer mais um sobre acontecimentos no Norte. Mas não,
esta pequena obra vale essencialmente como um diário,
imparcial, humano, aqui e ali ingénuo de um homem
arrancado ao conforto da capital da Província, de uma
vida calma, se viu de repente transportado para o
desconforto de uma camarata num aquartelamento no Norte,
sem "colchões de molas". O "chão de terra batida", os
chuveiros primitivos, as mesas improvisadas, as
refeições enlatadas e depois o descobrir do perigo, o
contacto com a metralha, o barulho infernal das armas a
disparar e que causam uma impressão imorredoira a quem
pela primeira vez enfrenta, conscientemente o perigo.
As crónicas estão escritas com sinceridade, em tom de
diário, num estilo simples, procurando relatar o que ao
autor mais lhe feria os olhos e os sentidos.
É, afinal, uma obra sem pretensões, sem tiradas de
exagero, sem falsos militarismos, procurando apenas
relatar acontecimentos do dia-a-dia.»
(Sammy Santos, redactor do jornal "O Lobito")



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