

Angola:
Esquadra 94 «DO MICONGE A LUIANA»
Base Aérea n.º 9
«FIDELIDADE E CORAGEM»
Moçambique:
Esquadra 503 «ÍNDIOS»
Aeródromo de Manobra n.º 51
Aeródromo Base n.º 5
«HODIE UT HERI STAMUS»
Medalha de Prata de
Serviços
Distintos com palma.

Nasceu a 15 de Abril
de 1943 em Chaves, em cujo Liceu Nacional concluiu os
estudos liceais.

Em 1962 ingressou na Academia Militar (AM) «DULCE ET
DECORUM EST PRO PATRIA MORI», onde se licenciou em
Ciências Militares e Aeronáuticas.
Em Maço de 1967
concluiu na Base Aérea n.º 1
(BA1 -
Sintra) «SABER PARA BEM SERVIR», o
tirocínio de
pilotagem em Cessna-T37.

Em Outubro de 1967 concluiu na Base Aérea n.º 3
(BA3 -Tancos) «RES NON VERBA» o curso complementar de
pilotagem em helicópteros.
Em Novembro de 1967 promovido a alferes piloto-aviador,
colocado em Angola
na Esquadra 94 (Esq94) «DO MICONGE A
LUIANA» da Base Aérea n.º 9 (BA9 -
Luanda) «FIDELIDADE E
CORAGEM».
Em 1970, promovido a tenente, louvado pelo secretário de
Estado da Aeronáutica e agraciado com uma
Medalha de
Prata de Serviços Distintos com palma.
Em Dezembro de 1970
regressou à Metrópole e no
mês
seguinte foi colocado na Base Aérea n.º 3 (BA3-Tancos)
«RES NON VERBA»
como piloto-instrutor de helicópteros.
Em Julho de 1973
colocado no Aeródromo de Manobra 51 (AM51-Mueda) do
Aeródromo
Base n.º 5 (AB5 - Nacala) «HODIE UT HERI
STAMUS», no nordeste de Moçambique, como oficial de
operações da Esquadra 503 «ÍNDIOS».
Em Fevereiro de 1974, capitão, passou a comandar aquela
esquadra de AL-III, até regressar à Metrópole em Maio de
1975.
Livro:
"Estórias
Vividas - Relatos de Guerra de um Piloto de Helicópteros
em África"

título: "Estórias Vividas - Relatos de
Guerra de um Piloto de Helicópteros em África"
autor: José Augusto Barrigas Queiroga
editor: Fronteira do Caos
1ªed. Porto, Jun2014
177 págs (ilustrado)
23x15cm
preço: 16,50€
ISBN: 989-8647-29-0
Depoimento:
- «Um dos episódios de guerra que mais me marcou
passei-o na segunda comissão, em Moçambique, por finais
de 1973.
Em Mueda, no coração do Planalto dos Macondes, distrito
de Cabo Delgado, onde as nossas tropas tinham um
importante dispositivo. Esta região do extremo Norte de
Moçambique, separada da vizinha Tanzânia pelo Rio
Rovuma, era um santuário da guerrilha. O Rovuma dividia
os territórios, mas não separava o povo Maconde. O
trânsito dos guerrilheiros vindos da segurança da
Tanzânia era relativamente fácil. Essa facilidade e o
temperamento guerreiro dos macondes fizeram com que a
guerrilha nos tivesse provocado, ao longo dos anos,
fortes dores de cabeça.
O aeródromo de Mueda, que servia o destacamento de
helicópteros, era frequentemente flagelado pela
artilharia da Frelimo – quase sempre ao entardecer. Um
dia, lembro-me que imediatamente a seguir ao almoço,
dirigia-me para a sala de operações quando um 'jeep'
pára perto de mim com os pneus a chiarem no asfalto.
Salta um jovem alferes do Batalhão de Mueda. Vi logo,
pela pressa, que tinha acontecido alguma desgraça. A
maior parte das operações que os helicópteros faziam
eram evacuações – de mortos ou feridos –, ou de
transporte de material de apoio a colunas em
dificuldades.
– "Meu capitão, dá licença?" –, diz-me o alferes.
E, sem me dar tempo para responder, acrescentou:
– "A coluna de Mocímboa do Rovuma foi atingida por uma
mina. Uma viatura pesada ficou inoperacional, mas é
recuperável. Precisamos de fazer chegar lá o material o
mais rapidamente possível."
Compreendi a pressa do alferes. Não podíamos abandonar
uma viatura recuperável no terreno – e obrigar a coluna
a passar uma noite naquele local à espera do material
significava expor os soldados a ataques dos
guerrilheiros com consequências imprevisíveis. Era a
zona onde actuava o Destacamento 25 da Frelimo.
Eu era o comandante do destacamento de helicópteros de
Mueda. Tinha seis pilotos em permanência. Éramos seis
pilotos em permanência.
Perante um pedido de apoio aéreo deste tipo,
aparentemente sem grande dificuldade, normalmente teria
chamado um dos pilotos mais jovens. Mas, considerada a
urgência da missão e porque já estava na pista, decidi
que eu fazia a missão. Não precisava de chamar mais
ninguém, a não ser o mecânico de voo, e avisar o
comandante do aeródromo, major Vaz Afonso.
A missão não duraria mais do que 45 minutos. Mas ia ser
executada numa área onde os aviadores não gostavam de
voar. A nudez da mata expunha o helicóptero a atiradores
no solo. O voo a baixa altitude minimizava este
inconveniente. Mas nesta zona o voo envolvia outro
perigo. Voar a baixa altitude sobre árvores totalmente
despidas de folhagem fazia-nos perder a noção da
altitude e da distância aos ramos. Um voo nestas
condições podia provocar facilmente a colisão com um
tronco de árvore. A velocidade era da ordem dos 180
quilómetros por hora.
Decidi voar ao lado da picada – ora de um lado ora do
outro, serpenteando-a, sem nunca perdê-la de vista. Com
estas mudanças de posição evitava estar demasiado tempo
em exposição no mesmo rumo. As manobras repentinas no ar
dificultavam a missão de atiradores da guerrilha, que
muito naturalmente esperavam pela passagem de um
helicóptero em socorro da coluna. Não iria fazer o mesmo
trajecto na volta de regresso.
Passados alguns minutos, já estava em contacto pelo
rádio com a escolta da coluna. Atingi o objectivo sem
incidentes. A coluna estava parada numa zona larga e
desmatada do planalto, relativamente perto da base dos
guerrilheiros do Destacamento 25.
Quando fiquei à vertical da coluna, um militar em cima
da viatura avariada indicava-me um local ao lado para eu
deixar a peça. Mas a sugestão não me agradou, uma vez
que não conseguia manter, com toda a segurança, as pás
do helicóptero afastadas das árvores. A peça que
transportava era pesada. Decidi largá-la uns metros ao
lado da picada, perto da viatura acidentada, mas sem
obstáculos à volta e a razoável distância das bermas da
mata. Aterrei envolto por uma nuvem de poeira. O
mecânico fê-la deslizar rapidamente para o solo:
– "Pronto, já está!" –, diz o mecânico.
Não demorou sequer um minuto entre a largada da peça e o
início do regresso ao aeródromo.
Perguntei se precisavam de mais alguma coisa.
Disseram-me que não. Despedi-me:
– "Boa sorte e até breve em Mike Delta" –, disse-lhes
pelo rádio.
O indicativo do rádio-farol de Mueda era MD, pelo que
usávamos o alfabeto fonético (Mike Delta) para designar
a base.
Como já tinha decidido utilizar uma rota diferente no
regresso, inflecti para Sul de modo a apanhar o rebordo
do planalto e, ao longo dele, rumar a Mueda. Tinha
acabado de deixar para trás as primeiras viaturas da
coluna, em direcção a Mueda, quando ouvi no rádio o
indicativo genérico que o Exército usava para chamar os
helicópteros:
– "Mosca, mosca, aqui terra!"
Sabia que não havia mais helicópteros na zona. A chamada
só podia ser para mim:
– "Transmita."
Respondi, à espera de ouvir alguma coisa que não me
tinha sido dita momentos antes. Mas não. O que ouvi
deixou-me transtornado:
– "Mosca, mosca, aqui terra. Temos um ferido grave."
Nem queria acreditar que era a coluna que acabara de
deixar. Pedi confirmação:
– "Terra, aqui mosca. Confirma que é no local onde
deixei a peça?"
– "Correcto e afirmativo. Foi outra mina. É um ferido
grave."
Inverti o rumo, em direcção ao local. Ainda pairava
sobre a coluna uma nuvem de fumo esbranquiçado. Lá
estava, na picada, entre duas viaturas, a enorme cratera
do rebentamento. Uns tantos militares ainda estavam
deitados, aparentemente aturdidos com a violência da
explosão ou com ferimentos ligeiros. Feridos graves não
havia. A vítima estava feita em pedaços. Os restos
carbonizados do corpo foram recolhidos em panos de tenda
e embarcados no helicóptero.
Senti-me culpado daquela morte. Acabei por colocar a
peça num local perigoso. Obriguei um homem a deslocar-se
num terreno suspeito. Este soldado acabou por accionar
uma mina anti-pessoal que, por simpatia, fez explodir
uma outra, de fósforo, anticarro.
Um soldado que estava entre duas viaturas, ficou feito
em pedaços. Os seus restos mortais estavam agora no meu
helicóptero, rumo a Mueda.»
(MGen José Queiroga,
in "Senti-me culpado pela morte de um
soldado"; CM-Domingo 23Mar2008)
Breve
apresentação:
- «Piloto de Alouette-III em Angola, na Esq94
da BA9, depois nos "Índios" em Moçambique, estes relatos
na 1ª pessoa oferecem-nos uma visão dos acontecimentos,
das operações e das emoções de um piloto de
helicópteros.»
(Jaime Regalado, 30Jun2014)
Recensão:
- «Estamos perante um pequeno grande livro,
sobre a temática da última guerra que as Forças Armadas
Portuguesas travaram no antigo Ultramar. A natureza das
situações vividas e o modo claríssimo e franco como são
descritas, tornam esta obra uma das mais tocantes que já
lemos sobre este conflito.
O modelo escolhido, várias situações descritas com
princípio, meio e fim, com uma dimensão que não sendo
pequena – dá perfeitamente para descrever o que se
passou nos seus mais diversos ângulos –, também não se
torna maçadora, funciona na perfeição e consegue,
apoiando-se em notas esclarecedoras ou pequenas
explicações técnicas no texto, transmitir ao leitor,
mesmo o que de helicópteros nada perceba, uma imagem
muito clara do que foi a guerra para estes militares,
sobretudo os pilotos e mecânicos dos Alouette III.
Mas não só para estas tripulações, muito também ficamos
a saber sobre a actuação de outros meios da Força Aérea.
Sobre as "forças de superfície", a opinião, baseada em
factos relatados não é muito abonatória, reconhecendo no
entanto o profissionalismo de comandos e pára-quedistas.
De assinalar que esta obra, escrita na primeira pessoa,
consegue de modo que direi exemplar, fugir ao
auto-elogio, infelizmente uma prática (irritante) em
muitos livros de memórias. Aliás talvez até penda para o
seu contrário em várias situações. A espaços parece
haver quase que um pedido de desculpas pela conduta que
na altura o piloto tomou e que anos depois ainda duvida
se foi ou não a correcta.
Aborda sem complexos, aspectos como a participação da
DGS no conflito ou os seus próprios erros e medos, mas
também nos transmite acções de combate e evacuações
médicas, nos limites e para além do que seria seguro,
que colocam o leitor perante homens, geralmente jovens,
com uma extraordinária noção do dever, uma capacidade de
ajudar os outros – desconhecidos, apenas soldados como
eles, ou mesmo civis –, porque essa era a sua missão.
Ponto.
O autor, José Augusto Barrigas Queiroga, major-general
piloto aviador na situação de reforma, cumpriu duas
comissões de serviço pilotando Alouette III, em Angola e
Moçambique, e seleccionou da sua memória 16 estórias que
muito nos dizem, sobre a História do que foi a
participação das tripulações destes meios aéreos na
guerra naquelas antigas Províncias Ultramarinas, nos
anos em causa (1967-70 e 1973-75).
As selecção das estórias, dá ao leitor um enorme volume
de informação sobre o modo como a guerra foi vivida
pelos pilotos e mecânicos de Al III, mas também sobre
muitos outros aspectos deste conflito, havendo partes do
livro que nos fazem rir, outras em que a tensão vivida a
bordo do Al III parece que também nos ataca, e ainda
outras em que nos sentimos verdadeiramente emocionados.
Como é costume dizer-se entre nós, "nos EUA isto dava um
excelente filme!"
Tem todos os ingredientes e mais um: aconteceu. Em boa
hora o major-general José Queiroga decidiu contar-nos.
Não sendo muito rico em iconografia, não deixa de ter
algumas fotografias dos AL III em operação –
curiosamente, parte delas do nosso colaborador Alfredo
Serrano Rosa –, e mapas para melhor apresentar algumas
das situações "voadas". Mesmo que mais imagens, fotos e
mapas, tornassem a obra visualmente mais atraente,
também é verdade que este livro é para ser lido e
durante este processo, a clareza e simplicidade da
escrita, muitas vezes vivendo de diálogos entre os
intervenientes, transmitem uma vivacidade que dispensa
as imagens.
Prefácio de Manuela Castelo, viúva de um piloto de
helicóptero, facto que julgamos inédito e é de profundo
significado, como se percebe no livro.»
(Miguel Machado, 08Nov2014)