Trabalhos, textos sobre a Guerra do
Ultramar ou livros
Com auxílio de um
colaborador do portal UTW

José
Emílio Sequeira Ribeiro
Em 20Out69, embarcou no "NTT
Niassa" rumo a Luanda, integrado na
CCac2607/BCac2889.
Após desembarcar em 01Nov69, seguiu com
a sua subunidade para o norte distrital
do Uíge, tendo ficado aquartelado em
Quimbele e onde se manteve até transitar
em 12Mai71, com o seu batalhão, para o
subsector de Quibaxe, ficando desde
então e até 16Nov71, aquartelado na
Mussenga.
Iniciou a torna-viagem em 28Nov71, com o
seu batalhão, no "NTT Vera Cruz".
O livro:
"Crónicas
de Guerra ou
A História da Minha Ida à Guerra"

Ficha técnica:
Título: "Crónicas de
Guerra ou a História da Minha Ida à
Guerra"
autor: José Emílio Sequeira Ribeiro
editor: (o Autor)
1ªed. Proença-a-Nova, Ago2006
141 págs
24x16cm
preço: 12€ (portes incluídos) *
dep.leg: PT-246471/06
* contacto:
mailbox <jemilioribeiro@gmail.com>
Apoios:
Câmara Municipal de
Proença-a-Nova
Junta de Freguesia de
Proença-a-Nova
Centro Municipal de
Cultura e Desenvolvimento de Vila Velha
de Ródão



Sinopse:
– «Este livro é uma compilação das
crónicas que fui escrevendo num jornal
regional.
São relatos do dia-a-dia de uma
juventude na guerra, com as suas
angústias e vivências. É mais um
desenrolar de recordações, da forma como
encarávamos a guerra, com a irreverência
própria da idade, retirando à guerra o
cunho fatalista, sem no entanto, longe
disso, ser uma exaltação de tal acto.
É uma visão, com um certo humor, dos
tempos que ali passámos, de modo a que,
independentemente da frente de guerra,
seja possível a quem combateu noutros
locais, se rever naquelas histórias...
Enfim, é aquilo que retive da guerra...
Para quê lembrar as desgraças... »
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excerto das páginas 9, 13
a 15 do livro:
Aos leitores
A linguagem utilizada, pode parecer um pouco dura, por
vezes até, um pouco baixa.
Seria no entanto falsear a narração dos factos, que se
pretendem, tanto quanto possível, e já lá vão mais de
trinta anos, o mais próximo possível da realidade.
O clima de guerra não se prestava a esmeros de
linguagem...
Se por ventura, algo ferir a sensibilidade do leitor
aceite as minhas desculpas. Não é essa a minha intenção.
Apenas tive a intenção de exaltar os bravos que nós
éramos, esquecendo as lágrimas, que muitas vezes
escorriam pela face, os medos que sentíamos.
Não é um livro de humor é um livro com amor ao tempo que
passamos juntos.
Algumas situações são romanceadas, mas todas elas
assentam em factos verídicos e aconteceram, "aIgures em
Angola".
Não queria terminar sem deixar aqui bem expresso, que
estas crónicas apenas se destinam a puro entretenimento.
Foram um retractar de memórias e de histórias bem
vividas na lembrança do autor, não visando de modo algum
a exaltação da guerra, e se nelas apenas se deixou
transparecer momentos mais ou menos bizarros, e até de
alguma felicidade e humor isto será fruto de alguma
clivagem própria do ser humano, e do temperamento do
autor
Para quê recordar os momentos de angústia, de revolta e
de sofrimento?
Faço votos para que fique a mensagem, de que vale a pena
viver a vida, e mesmo os momentos maus podem um dia ser
recordados com saudade!
No final do livro encontrará um breve "dicionário" para
compreender certos termos que aqui são usados.
Aos
meus camaradas
Estas crónicas são dedicadas também aos meus camaradas,
citarei apenas alguns
deles, todos seria fastidioso, mas todos éramos amigos,
para inimigo bastava o do exterior.
Ao capitão Vieira Monteiro, meu primeiro comandante, um
homem excepcional, um grande comandante. Faço-lhe um
reparo; ao apenas permitir que nos embebedássemos quando
fazíamos anos, ou quando a mulher ou namorada nos
pusesse “os cornos’, fez com que eu viesse muito mais
velho...
Amado por todos, foi sincera a aclamação que todos lhe
tributamos, ao comemorarmos o final da nossa comissão,
passeando-o em ombros.
Ao capitão Machado, o mal amado, (o três palitos) eu
quero dizer; quando lhe encostei a “Walther” á cabeça,
era apenas para coçar o quico...nada mais.
Ao capitão (miliciano) Cavaleiro quero agradecer os
conhecimentos que nos transmitiu da cortiça e das
rolhas, a tentativa, de nos ensinar a jogar bridge.
Nunca percebi aquela de mandar tocar para formar às seis
da manhã (na Mussenga), para informar a Companhia que
deveríamos andar impecavelmente fardados, estando o Sr.
com um chapéu tipo mexicano na cabeça...
Ao alferes médico Dr. Cristiano, (Dr. fardado ou em
cuecas...), pela paciência com que nos aturamos. Volto a
reafirmar que não fui eu que parti a enfermaria, foi um
sismo ali localizado...
Ao alferes Marques, a calma e a descontracção, a
bondade, a competência e a muita paciência, um grande
senhor …
Ao alferes Vide, o homem da Cabaca. Um homem com peso,
um grande homem, um grande espírito de amizade, e muita
força...
Ao pequeno alferes Pereira, e não vou contar a historia
de quando ia passar a homem de pleno direito no Quango,
de manta debaixo do braço, (ia-se inaugurar...) ia para
o capim ter com a Maria do Congo, e já perto,
voltando-se para traz perguntou as últimas instruções;
“e agora o que é que eu faço?.."
Aos alferes Gama e Petiz, pela calma e poucas ondas,
também não navegamos muito juntos...
Ao primeiro sargento Sécio, desculpe qualquer
coisinha...
Ao primeiro sargento Fortuna, grande velho e grande
amigo...
Ao primeiro sargento Pereira, o Toninho agora já não
esta doente para eu sair na sua vez?... era com prazer e
amizade que eu o fazia.
Aos meus camaradas furriéis.
Coke, meu irmão, meu amigo. Tínhamos o mesmo "cacimbo"
entre os amigos éramos mais amigos. Juntos reinventamos
o lança-chamas com um pulverizador; que não nos assou
por sorte. Fizemos a máquina de semear feijão, puxada
pelo guincho do unimog. Inventamos a implosão, quando
deitamos abaixo a barraca da Rosa á granada...
Fizemos muitas e safamo-nos, as caçadas, as bebedeiras,
(o teu coketeil, que pôs os bagos de arroz como
chumbo... por sorte não bebi...), as noitadas...
Ao Esquetim, um alentejano de Elvas, sobressaia pela sua
exuberância.
Um dia na Mussenga, não conseguia “obrar”, resolveu
introduzir para o ânus vaselina, a coisa resultou mesmo,
e era vê-lo e ouvi-lo, de calças na mão à porta das
sanitas clamando; <<rapazis venham ver coisa linda e tão
brilhanti...>>
Ao Biqui, o A. B. C. Rosado, fazia turnos diários de
vinte e tal horas na cama...
Ao meu amigo autorrodas, o Gonçalves, pensava nas “zauisas”,
no puto e no BMW com "contaboltinhas e bolante de pau".
Um grande amigo e companheiro de maluquices...
Ao Gomes, gago por natureza, alentejano, natural de
Paredais (seria passarinho?), martelou-nos com a sua
viola e o "não se morre de saudade”.
Tocava, coçava a flor do Congo ou estava com o
paludismo...
Ao pequeno Peixoto, que escondidamente escrevia á
namorada, não alinhava em cartas de grupo... só que a
dormir vomitava tudo o que tinha escrito...
Ao Figueira, ao grande e ao bom amigo, tão grande, tão
forte e tão porreiro...
Ao Cheicho, calmo e gozador. Será que alguma vez pagaste
os pratos e as travessas que partistes, na messe do
Quimbele, depois de não ligarmos puto ao teu discurso de
que deveríamos ser calmos e serenos?...
Ao Silva o vagomestre que nos alimentava o corpo e a
alma com o seu humor. Gostei da tua calma, quando o
Gonçalves, por não ter gostado da sopa, te enfiou a
terrina pela cabeça abaixo, e tu escorrendo sopa,
chupaste o bigode e apenas disseste; <<David, vai ao
rancho e traz um pratinho de sopa, está uma
delicia...>>.
Ao Hilário, já nessa altura estava mais virado para o
alto, andava sempre nas nuvens...
Ao Ulisses, pensava mais em Luanda, gozava o prato e
divertia-se á nossa custa...
Ao Falcão, ia contando as notas de quinhentos para pagar
as multas dos “cabacinhos”….
Ao meu cabo Baptista, ao cabo auto Bidarra, ao soldado
Sousa, os nossos mortos de corpo, aqui está o vosso
espírito!
Ao padeiro o Pinto, estavas quase em coma alcoólica,
trinta segundos depois pus-te a fazer pão. A experiência
vale muito...
Ao Almeirim, e as suas cuecas, agora são boxer's, à tua
permanente boa disposição.
Ao cabo Garcia, o cantineiro, que tantas vezes
visitava...
Ao Santo Antoninho, que jurou matar-me e ficámos grandes
amigos...
Ao Leites que tanta sola gastou a acarretar-me
cerveja...
Ao Ginguba, ao Reguila, ao Vareiro, que sempre foram
voluntários para me acompanhar...
Nunca mais acabaria, não posso deixar de falar dos
“meus".
O poeta Nobre, o Frade e o “Pilinhas", que certamente
anda a ver da pinsula para dar ao senhor doitor…
A todos um grande abraço...

Inauguração do monumento que assinalou
na Mussenga, a nossa passagem por
aquelas paragens e ficou como homenagem
aos nossos mortos

