«A realização deste Trabalho de
Investigação Aplicada (TIA) marca o
"terminus" do mestrado em Ciências
Militares — Arma de Infantaria, no
ramo do Exército —, iniciado no ano
lectivo de 2006 e frequentado na
Academia Militar.
Com este trabalho, é-nos permitido
pôr em prática e desenvolver
capacidades de investigação, bem
como alargar o nosso espectro de
conhecimentos relativos á Guerra do
Ultramar, um período que deixou a
sua marca na História de Portugal e
nas vidas de tantos portugueses,
combatentes ou não, e, naturalmente,
nos seus familiares.
As
operações psicológicas são levadas a
cabo, quer em tempo de paz, quer em
tempo de guerra. A Acção Psicológica
não tira partido do potencial de
combate de uma forma convencional,
mas pode ser vista como
multiplicador do mesmo. Através
deste tipo de operações, pode
levar-se o inimigo a capitular, sem
antes o empenharmos decisivamente em
combate. Através da persuasão,
pretende-se mudar a forma de pensar
das gentes, bem como as suas
atitudes perante determinadas
matérias, o que irá,
consequentemente, alterar os seus
comportamentos.
Num período em que as grandes
potências mundiais começam a
libertar-se das suas colónias,
Portugal não via com bons olhos a
descolonização, pretendendo manter o
"Império multi-continental e
plurirracial". Com o objectivo de
manterem a posse das mesmas, os
portugueses iniciam três campanhas,
na África portuguesa, que os vai
levar a enfrentarem um estilo de
guerra completamente novo. Na época,
a formação militar, adoptada pela
generalidade dos países, baseava-se
no conceito de "guerra
convencional", a qual empenhava
grandes massas de exércitos,
representantes de diversos
"estados-nação". Contudo, os
portugueses não enfrentavam nenhum
exército estadual, mas sim grupos
rebeldes, os quais levavam a cabo
operações de guerrilha Estes
rebeldes possuíam, no seu íntimo, um
recurso que se poderia mostrar
decisivo: a motivação que os fez
desafiar um país e acreditar na
vitória. Sendo este ideal a sua
principal arma, os portugueses
rapidamente verificaram que poderiam
e necessitavam de levar a cabo
operações de acção psicológica, de
forma a retirarem aos rebeldes a
vontade de lutar, e ás populações, a
ideia implementada da legitimidade
da luta das guerrilhas. Os
portugueses procuraram, desta forma,
chegar ao coração dos autóctones e
criar neles um sentimento
"pro-lusitano".
Venho, com este trabalho, juntar a
minha curiosidade histórica pelos
conflitos no Ultramar português á
temática da Acção Psicológica, uma
área que me desperta muito
interesse. Creio que se torna
importante analisar a forma como
estas técnicas procuram moldar e
orientar a vontade das gentes, e a
forma como as Forças Armadas tiraram
partido delas.
Não se trata apenas de uma simples
investigação de factos históricos,
mas, ao mesmo tempo, de uma
homenagem a todos os que tomaram
parte na guerra, e que fizeram o
melhor que sabiam sempre que lhes
era dada a possibilidade para tal.
Devido ao espaço temporal que nos é
garantido para a realização dos
trabalhos, tornou-se necessário
delimitar o tema sobre o qual nos
debruçamos. Com esse fim, dentro da
Guerra do Ultramar, escolhemos, como
Teatro de Operações, a Província de
Moçambique. A Acção Psicológica
tratada centra-se unicamente na
vertente militar, não nos debruçando
sobre as acções da Administração
Civil ou da Direcção Geral de
Segurança Embora desenvolvamos sobre
a doutrina de Acção Psicológica, uma
área referente a escalões mais
elevados, é nosso objectivo
cingirmo-nos ao que era feito pelas
companhias.
Coloca-se aqui uma questão central:
de que forma foi levada a cabo a
Acção Psicológica, na Província de
Moçambique, por parte das Companhias
do Exército português?
Foi com uma pesquisa bibliográfica
que se iniciou este trabalho. No
âmbito da doutrina de Acção
Psicológica, muitas fontes surgiram,
desde livros doutrinários datados da
Segunda Guerra Mundial, até fontes
mais recentes e actuais. Porém, uma
vez que analisamos uma época
histórica concreta a Guerra do
Ultramar —, a doutrina portuguesa da
época surgiu como sendo a referência
mais plausível. Não nos interessa o
que de novo foi feito
posteriormente, nesta área, mas sim
as bases de actuação dos nossos
militares.
No entanto, quando surgiu a
necessidade de descer aos casos
práticos das companhias,
deparámo-nos com um problema: a
falta de dados bibliográficos
concretos sobre a aplicação da
doutrina de Acção Psicológica, ao
nível das companhias e,
especificamente, no teatro de
Moçambique Daí, a realização de
algumas entrevistas semi-formais a
combatentes que vivenciaram a guerra
na primeira pessoa.
Dos quatro capítulos que compõem
este trabalho, no primeiro, fazemos
uma breve caracterização da
Província de Moçambique, uma visão
sobre a sua população e etnias, bem
como os movimentos subversivos e o
início do conflito armado; no
segundo, analisamos alguma
terminologia essencial para a
compreensão do tema, desde a
tipologia de guerra do Ultramar até
ao caso específico da Acção
Psicológica, contendo esta os
fenómenos de propaganda,
contra-propaganda e informação, bem
como os princípios e alguns meios de
disseminação do primeiro; no
terceiro, descemos aos aspectos
específicos da propaganda sobre as
populações e sobre os militares das
nossas forças; no quarto e último
capítulo, e para atingir o nosso
objectivo, centramo-nos nas
companhias: o que foi feito, a nível
prático, no âmbito da Acção
Psicológica.»


