
Victor Centúrio Almeida
Ex- militar do Batalhão de Caçadores 12
da Região Militar de Angola, no período de 1970 a 1974
O livro:
«A amnésia da
guerra dita colonial portuguesa de Angola»
Fonte e aquisição:
http://www.bubok.pt

Aos ex-combatentes metropolitanos que
participaram na Guerra Colonial entre 1961 a 1975.
Aos
17 combatentes portugueses falecidos, que participaram
directamente nesta guerra, recrutados ou naturais do
concelho de Rio Maior (*).
Conclusão da guerra em Angola
A guerra dita colonial de Angola terminou
fisicamente em 1975, mas nem os angolanos ganharam nem
os portugueses perderam; melhor dizendo perderam todos,
se tivermos em conta a guerra civil que se prolongou por
mais de 27 longos anos e até 22 de Fevereiro de 2002
(*) -
linkado à listagem dos mortos na Guerra do Ultramar e
eram naturais do concelho de Rio Maior
Excerto:
«Aos ex-combatentes da
guerra do ultramar de Angola
A imaginação da minha identidade
individual é uma arrumação difícil, ou mesmo
impossível, da memória sob amnésia, no sítio
remoto, para onde trespasso essa identidade;
mas paradoxalmente, e por esse facto, as
minhas identidades individual, colectiva ou
cultural não existem; ou seja são o nada,
para onde envio os meus trespasses mentais
continuamente, na esperança que existam
arrumados e nunca me perturbem.
O meu maior esforço mental diário é o de
regressar ao momento, que antecedeu em anos,
a minha partida para um quartel militar em
África, quando julgava que esse facto, nunca
viesse a acontecer, como aconteceu.
A perplexidade que me atingiu, quando me
apercebi que tinha chegado a hora de partir,
nunca mais me largou, continuando hoje,
sendo certo também que será crónica e durará
para sempre, prolongando-se para muito além
do dia do regresso dos cenários mais
próximos da guerra.
A única função pré-ciente do mega-cérebro
é dirigir e orientar a atenção, pensar,
memorizar e imaginar, numa forte e decisiva
influência material e moral directa sobre o
segundo cérebro (hipotálamo).
Consciêncializar, como propõe a
psicanálise não existe.
Afectivamente, na presente memória de
cada um, não acontece fenómeno algum, porque
é imune e distante das sensações e
sentimentos passados, os quais só reconhece
num eco de impressão muito difuso e fraco.
À memória do segundo cérebro autónomo
(hipotálamo),no mesmo sítio, acontece de
tudo: perplexidade, alegria, tristeza,
disfunção, alucinação, viciação orgânica;
sugestionamento, sonho, pensamento
distorcido; memorização pedante,
surrealismo, irracionalismo, ordenação
errada de afectos, dependência fisiológica;
vontade e projecção de mobilidade.
A função desta segunda memória, diga-se
em abono da verdade, é igual à memória de
qualquer outro animal, seja de que espécie
fôr. ... »