Capitão Piloto
Aviador Alves Ferreira
De:
Abílio A. Ferreira
Enviada: sábado, 10 de Março de 2007 13:17
Para: UTW
Assunto: Livros: Informação sobre livros
relativos ao tempo da Guerra Colonial
Exmos Senhores
Os meus cumprimentos.
Chamo-me Abílio Alves Ferreira e sou Capitão Piloto na
Reforma. Fiz
comissões em Angola, Moçambique e Timor.
Foi sobre a descolonização deste território que escrevi
o livro "O ÚLTIMO VOO SOBRE TIMOR". Não pretendo vender
o livro, mas apenas dar a conhecer a muita gente o que
se passou em Timor em 75. Para isso coloquei o livro na
Web
Aí todos o podem baixar e ler sem qualquer custo.
Obrigado pela atenção.
Um grande abraço para todos os ex-combatentes.
O livro:
Para visualização do
conteúdo clique no sublinhado ou na imagem que se
seguem:
"O
Último Voo Sobre Timor"
(edição completa online)
título:
"O último voo sobre Timor"
autor: Cap. Pil.Alves Ferreira
editor: Paisagem
1ªed. Aveiro, 2003
112 págs (ilustrado)
21 x 14,5 cm
Excerto:
«... Senti que toquei com a perna
direita num coral e vi que sangrava. Regressei ao
acampamento onde já tinham iniciado o jantar. Passei
pelo chuveiro, vesti-me e fui também comer. A perna
ardia-me um pouco, mas já não sangrava. Tinha sido
apenas um arranhão.
Junto à messe, os miúdos brincavam atirando latas de
cerveja uns para os outros, por cima da rede de vólei.
Andavam contentes. A comida chegava para todos, mesmo
para eles. De cada vez que um Unimog ia ao aeroporto, aí
iam eles junto com os “páras”. Que futuro os esperava?
Pensei nos casamentos, três, que houve na ilha durante a
nossa permanência. A vida continuava. A nossa presença
lá, tinha sido aceite como uma benção.
Adormeci tarde nessa noite, mas fi-lo propositadamente.
Tinha marcado a minha ida a Lisboa para o dia 14.
Faltava apenas uma semana e isso era reconfortante.
Deviam ser umas três e meia da manhã quando alguém
entrou no nosso quarto chamando o maj. Barrento. Ao
princípio não consegui captar a conversa, pois
continuava ensonado. Ouvi falar de barcos,
bombardeamento, Indonésia, mas tudo sem ligação. Aos
poucos percebi que todos se levantavam. Fiz o mesmo.
Perguntei ao primeiro oficial que vi, o que se passava.
- Os indonésios estão a bombardear Dili!
Ah! Então era isso! Os meus pressentimentos tinham sido
certos. O destino de Timor estava traçado.
Lá ao longe, no silêncio da noite, podia ouvir-se a “voz
da razão”, os canhões da Indonésia!
A ordem surgiu de seguida:
- Vamos deixar isto. Preparar tudo para largar às 15
horas!
Pela minha parte estava pronto. O avião ficava sempre
abastecido, não fosse haver qualquer emergência.
Preparei as poucas coisas que tinha no Ataúro e meti
tudo numa mala. Faltavam as conchas! Não ia deixá-las
ficar. Eram o resultado de muitas horas passadas
naquelas maravilhosas águas do Ataúro. Tinha algumas a
limpar em casa de um pescador. Fui buscá-las.
- Ainda não estão todas prontas – disse o maubere.
- Não faz mal. Vão como estão. Eu limpo-as depois.
O homem parecia excitado como se percebesse que algo de
anormal se passava. Por fim decidiu-se ante a minha
mentira:
- É que eu vou de férias mais cedo e tenho que as levar.
Fique com o ácido e com isto. – entreguei-lhe os últimos
escudos de Timor que possuía.
Cuidadosamente encaixotei as conchas para seguirem na
corveta até Darwin.
A agitação era enorme. Toda a gente falava ao mesmo
tempo e punha problemas diversos.
- Os tipos da Cruz Vermelha querem ficar!
- Diga-lhes que não assumimos a responsabilidade pela
segurança deles.
- Que vamos dizer à tropa de cá?
- Chama-se o aspirante Ximenes. Diz-se-lhe que vamos
ficar aqui por perto para ver no que isto dá.
- Talvez seja melhor eu ir no avião para preparar as
coisas em Darwin.
- Eu também gostava de ir.
- O avião passa por cima de Timor e eles até o podem
abater!
- Bem, no avião, além do Ferreira e do Florindo, vai o
Barreto que tem passagem marcada para Lisboa depois de
amanhã e vai a família do primeiro sargento…
- Como vai reagir a população?
- Veremos…
As conversas continuavam neste ritmo. Os soldados
timorenses, de braços cruzados, olhavam para todo aquele
movimento.
Fui para o aeroporto com o Florindo e os restantes
passageiros. A hora H aproximava-se. Eram exactamente
três horas e cinco minutos daquela tarde de sete de
Dezembro, quando iniciei a descolagem. Era a minha
última viagem.
O último vôo sobre o mar de Timor!
O Ataúro foi ficando para trás. Lá à frente Dili, chamas
e fumo!
Tentei contar os barcos de guerra. Sete, suponho A
distância era bastante para poder afirmar com segurança....»