ASPECTOS DA TOMADA DE NAMBUANGONGO
Segundo Tito Lívio, após a
victória de Canas, Maárbal
comandante da cavalaria,
voltou-se para Aníbal e
disse-lhe: "É indispensável
que tires deste triunfo
todas as consequências, que
dele devem decorrer. Dentro
de poucos dias deves jantar
no Capitólio. Entendo que
deves seguir quanto antes,
eu te precederei com a
cavalaria, de sorte que os
Romanos venham a saber da
minha chegada, antes de
terem tido notícia da minha
partida".
Aníbal recusou invocando
tempo para meditar e
reflectir acerca da marcha
sobre Roma.
Maárbal retorquiu: "Sabes
vencer, Aníbal, mas não
sabes aproveitar-te da
victória".
Em Julho-Agosto de 1961, em
Angola, dos três Comandantes
de forças militares
empenhadas na tomada de
Nambuangongo, apenas um teve
a visão do general Maárbal e
por coincidência também era
o Comandante da coluna de
cavalaria, o Esquadrão 149.
Ainda antes da grande
arrancada do Esquadrão do
Ambriz, foi enviado, em
exploração do terreno, um
pelotão que foi atacado no
Cavunga a 53 kms e regressou
de noite, temeroso e aflito,
com alguns feridos ligeiros.
Imediatamente o Comandante,
perante a perplexidade dos
oficiais, deu ordem para o
mesmo pelotão se preparar e
avançar de novo para
explorar a victória do
Cavunga sem dar tempo à
recomposição defensiva do
inimigo. Este episódio deu
discussão acesa entre
Comandante e Alferes que
atrazou o arranque
definitivo do Esquadrão e
foi motivo de duradoura
discórdia entre ambos,
embora o Alferes reconheça
hoje a razão e justeza
militar do sacrifício
pedido, face ao sinal que
tal acto arrojado
representava quer para o
inimigo quer para o interior
da Unidade. Hoje o Alferes
pode orgulhar-se de ter sido
o primeiro a passar as
portas da guerra, com
feridos mas com sucesso e
homens receosos mas
confiantes combatentes já
iniciados no fogo de
combate.
Já houvera precedentes mas
este foi o sinal claro da
estratégia geral que estava
na cabeça do Comandante e um
aviso inequívoco de actuação
futura dado a todos os
oficiais, sargentos e praças
sob seu comando. A surpresa
era a táctica diária,
explorar em força cada
victória era a estratégia
geral até ao objectivo
final. Em Quimbunbe, após um
segundo acampamento e
analizada a actuação, forças
e armamento do inimigo, o
Comandante decide avançar de
noite e dia sem parar,
exactamente no sentido de
chegar junto do inimigo
antes que este soubesse da
sua partida. E sobretudo
estar sempre pronto a
carregar sobre o inimigo e
fazê-lo recuar mesmo que
este infligisse feridos e
mortos como aconteceu na
batalha de Zala. Com tal
rapidez e força de pressão
contínua não foi possível ao
inimigo colocar mais
abatizes e alçapões na
picada e de noite tornou-se
inofensivo.
Constatado o sucesso prático
do uso da estratégia
definida , após um dia em
Zala para hastear bandeira,
com parada a rigor de
Soldados sujos e
sorridentes, rotos e ratos
de guerra, no Posto
Administrativo local, o
Comandante quer impôr a
marcha imediata para
Nambuangongo, mas aqui a vóz
dos subalternos foi mais
forte devido aos feridos, à
fadiga geral e sobretudo à
falta de munições. O
Comandante pensou arrancar
com as condições existentes
e uma força menor desde que
pudesse contar com o pelotão
adido de blindados ligeiros,
mas este não aderiu e o
Esquadrão ficou em Zala
outro dia para ser
reabastecido por via aérea
através duma pista de terra
capinada no momento. Na
arrancada final de Zala para
Nambuangongo manteve a mesma
determinação de fazer a
caminhada de noite e dia sem
parar e foi confirmado o
facto de que o inimigo
estava impotente e sentia-se
batido pois limitou-se a
observar de longe a
progressão sem intervir.
O Esquadrão 149 não foi o
primeiro a jantar em
Nambuangongo, tomou o
pequeno almoço depois do
jantar do Batalhão 96, mas
também esta Unidade havia
iniciado a operação dias
antes e desobstruira um
percurso mais curto. E foi
notório e sentido pela tropa
das duas Unidades em marcha
sobre o objectivo final, que
o Estado Maior da Operação
Viriato se serviu da
actuação fulgurante do
Esquadrão 149, estimulando a
competetividade para ser
primeiro e obter os louros
da conquista, as tropas mais
próximas e assim atingir em
tempo útil o objectivo
militar que correspondia ao
objectivo político da
altura.
Por natureza própria ou por
conhecimento e estudo, o
Comandante Capitão Rui
Abrantes, professor de
táctica na Academia Militar,
demonstrou na prática ter as
qualidades e visão
estratégica do grande
Maárbal, pela lucidez em
analizar as potencialidades
próprias e do inimigo, pela
argúcia, sagueza e
capacidade estratégica, pelo
comportamento exemplar na
frente de combate, pelo
respeito militar e humano
quer frente aos seus homens
quer perante o adversário,
desde o primeiro dia
conquistou a disposição e
entrega total dos seus
Soldados face a qualquer
situação. E todos confiaram
e corresponderam tão pronto,
decidida e abnegadamente sob
constante perigo de vida,
que os regressados ilesos se
sentem heróis vivos
resgatados da companhia dos
heróis feridos e mortos em
combate, pela conduta,
coragem e moral impostos,
desde a primeira hora pelo
comando do Esquadrão.