Elementos cedidos por um colaborador
do portal UTW
Sérgio
O. Sá
Sérgio de Oliveira e Sá, nasceu em 1943
na Cidadelha, lugar na freguesia de Santa Maria de
Avioso (concelho da Maia).

Em 1964, com a instrução primária e a profissão de
carpinteiro, foi incorporado no Exército, vindo a
concluir a recruta no RI8-Braga e a especialidade de
enfermagem militar no RSS-Coimbra, finda a qual e com o
posto de 1º Cabo foi colocado no BC7-Guarda.
Tendo sido mobilizado para servir em Angola, foi
transferido para o RI16-Évora e integrado na
CCac1463 do BCac1867.
Em 20Nov65 embarcou em Lisboa no NTT 'Niassa' rumo a
Luanda, onde com o seu batalhão desembarcou a 29Nov65.

A partir de 19Dez65, com a sua subunidade aquartelada na
Quibala Norte e sob comando do cap. inf. Nuno Vilares
Cepeda, participou em acções da sua especialidade naquela região noroeste de Angola.
Em 21Fev67, tendo entretanto o seu batalhão sido rendido
em Bessa Monteiro e colocado mais a norte no subsector
fronteiriço de Maquela do Zombo, com
a CCac1463 instalada na Ponte do Rio Zádi, seguiu com o
seu pelotão para o destacamento de Malele.
Em 02Jan68 o seu batalhão e subunidades orgânicas, após
rendição por outra unidade, recuaram ao Grafanil a fim
de aguardar embarque de regresso.
Em 14Jan68 o BCac1867 e outras unidades iniciaram no
porto de Luanda a torna-viagem, tendo o NTT 'Vera Cruz'
chegado a Lisboa no dia 23Jan68.
O livro:
"De Quibala a
Malele (Norte de Angola) - no decorrer de
uma guerra"

título:
"De Quibala a Malele (Norte de Angola) - no
decorrer de uma guerra"
autor: Sérgio O. Sá
editor: (o autor) *
1ªed. Porto, 2009 (Tipografia do Carvalhido)
318 págs (ilustrado)
formato: 22,5x15 cm
dep.leg: PT-295150/09
ISBN: 972-99059-7-1
(*) contacto:
sergio.o.sa@sapo.pt
Sinopse:
O autor cumpriu missão na CCac1463, de
29Nov65 a 14Jan68. Todo o livro é um relato atento,
sério, vivo e abrangente da missão de um combatente, que
logo nas primeiras páginas começa por abordar a história
longínqua dos primeiros dias de conquista, e no tempo, e
por entre capítulos da partilha da vida operacional, com
os camaradas de missão: a especial atenção às vivências
dos naturais e pausas de guerra.
Preâmbulo:
- «Angola.
Estava o ano de 1965 a chegar ao fim quando, por força
das circunstâncias de então, aí fui parar.
Deste-me do "pão que o diabo amassou". Nas tuas picadas,
nas tuas matas, nas margens dos teus rios, sob o sol
escaldante na tua savana, na humidade do teu cacimbo,
nas molhas dos dias consecutivos sob a tua chuva, nas
fraquezas que me apoquentaram, nas centenas de
quilómetros que galguei a pé e nos milhares que percorri
em viaturas,passando pelas terrinhas perdidas na
imensidão de teu chão, onde gente branca e negra
enfrentava a vida - e a morte - a seu modo. Uma sem a
verdadeira noção da sua cidadania; outra sofrendo a
cativante inocência do seu existir.
Oh Angola! Eu sabia que não eras minha, que não eras
nossa, ao contrário do que teimaram em afirmar.
E não foi fácil o meu viver no tempo em que me tiveste.
Mas porque me prendeste desta maneira? Que fascínio
tinhas, e tens, para me deixares com esta pungente, mas
saborosa, nostalgia quando penso ou falo de ti?
O autor.»
Recensão:
– «Sérgio de Oliveira e Sá nasceu em 1943.
Por força das múltiplas dificuldades em que cresceu teve
que ir trabalhar com 13 anos de idade, vindo a exercer,
ao longo do tempo, diversas actividades, incluindo de
carpinteiro, na construção civil e a de docente no
ensino público oficial. Músico
autodidacta participou em vários conjuntos e compôs
diversas músicas.
Tinha já 25 anos quando, após regressar de Angola – onde
fora obrigado a prestar serviço militar integrado nas
fileiras do exército português de 1965 a 68 – teve
oportunidade de iniciar os estudos liceais. Deu-lhe
continuidade e, sempre como estudante trabalhador,
seguiu depois estudos superiores. Em 1982 concluiu
licenciatura em Artes Plásticas e, mais tarde, mestrado
em História da Arte. Cedo se interessou por questões
inerentes ao Património Natural e Cultural, tendo
desenvolvido algum trabalho de investigação e divulgação
em prol da sua salvaguarda.
Como zona de guerra, são inúmeros os militares que
mencionam o Quitexe nas suas recordações vertidas em
livro. Falo hoje de um livro recentemente publicado “De
Quibala a Malele (Norte de Angola) – No Decorrer de Uma
Guerra” de Sérgio O. Sá, edição de autor.
A sua passagem pelo Quitexe está, no entanto toldada
pelas brumas da memória. No capítulo “Regresso a Quibala
pela estrada do Quitexe” refere-se aos perigos reais e
imaginários que afligiam quem nela circulava e ao susto
que aí sofreu, mas não recorda a passagem pelo Quitexe:
“As horas e os quilómetros foram passando, devagar
porque o camião ia carregado de mercadoria. Vista
Alegre, antiga Quifuafa, tinha entretanto ficado para
trás e por volta das 17.30 horas chegámos a Aldeia
Viçosa (…). Cedo demais, portanto, para ficarmos por
ali. (…) Daí que talvez não tivéssemos passado de
Quitexe onde provavelmente pernoitámos”.
Dedicado a todos os militares de Batalhão de Caçadores
1867, em geral, e em particular aos da Companhia de
Caçadores 1463, esta obra, que envolve um nítido cariz
autobiográfico, é fundamental para a compreensão das
angústias, dos medos e contrariedades que originavam
estados depressivos em que mergulhavam muitos dos nossos
jovens combatentes.
Sérgio Sá inicia o livro com uma vasta introdução em que
faz uma explanação das relações de Portugal com os povos
colonizados. Surpreende a sua capacidade de síntese, o
reportar de todos os pontos essenciais, remotos e
próximos para a compreensão do eclodir da guerra.
Encontro poucos livros de ex-militares com posições tão
clarividentes quanto ao que estava em jogo nas colónias.
A isto não é alheio a formação em história que viria a
adquirir depois da guerra, mas também a sua “clandestina
condição de objector de consciência”:
“Eu não partira para matar ninguém, mas para tentar
salvar quem viesse a necessitar dos meus cuidados de
socorrista, fosse soldado das hostes portuguesas, fosse
da guerrilha, mesmo que nesse caso se tratasse, de facto
ou por convenção de inimigo. (…) Amigo dos
guerrilheiros, sim, por ideal. Guerrilheiros e não
“turras”, como lhes chamavam, certamente para lhes
usurpar, mesmo que não de má fé, a
dignidade de pessoas e de combatentes com estatuto
equiparado tanto na missão quanto na submissão, ao que
quem assim os infamava. Amigo dos guerrilheiros
(…)
porque os considerava tão vítimas como eu, tendo, além
disso, de admitir que a razão que lhes assistia fazia
sentido e era justificada pela própria História”.
A sua rejeição da guerra deixou-a bem expressa em alguns
poemas:
Um Soldado à Deriva
Nesta terra envermelhada
Pelo sangue de tanta gente
Anda esta vida obrigada
A ver a morte de frente.
Segue trilhos e pegadas
Entre o capim, no sertão
Desta terra deserdada,
Leva uma arma na mão.
Mata inocentes que lutam
Pela sua liberdade.
Um herói passa a ser…
E entre aqueles que disputam
As honras da crueldade
Só mata p’ra não morrer.
(Maio de 1967)
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(in quitexe-literatura.blogs.sapo.pt/ )



