Companhia de
Caçadores Especiais 81 - 8.ª
Companhia de Caçadores Especiais
Companhia de Caçadores Especiais 81
8.ª Companhia de Caçadores Especiais
Angola: 21Mar1961
a 24Dez1962
Síntese da Actividade Operacional

Companhia de Caçadores Especiais 81
Identificação:
CCE81
Unidade Mobilizadora:
Regimento de
Infantaria 11 (RI11 - Setúbal)
Comandante
Capitão de Infantaria
Mário Jaime Calderon de Cerqueira
Rocha
Partida:
Foi aerotransportada
para Angola no dia 21 de Março de
1961
Regresso:
Embarque no NTT
«Uíge» no dia 24 de Dezembro de
1962; desembarque em Lisboa no dia 7
de Janeiro de 1963
Síntese da Actividade Operacional:
Esteve colocada em
Maquela do Zombo, São Salvador do
Congo, Madimba, Cuimba, Sanga,
Luanda, Viana, Tamboco.
in
Jornal do Exército, ed. 44, de
Agosto de 1963:

«Estas linhas
despretensiosas, de forma alguma
pretendem constituir a história da
CCE 81 (Companhia de Caçadores
Especiais 81) em terras da nossa
Província de Angola.
São ligeiros apontamentos que
relembram muito resumidamente duas
ou três acções militares vividas
pela Companhia referida e que eu
então comandava [Capitão de
Infantaria Mário Jaime Calderon de
Cerqueira Rocha]. Estes
apontamentos destinam-se apenas a
realçar e lembrar as qualidades de
adaptação, de zelo e de sacrifícios
de toda a natureza, desprezo pela
vida, lealdade e muito patriotismo
demonstrados sobejamente nas 127
acções militares que a Companhia
teve, desde que chegou a Luanda em
22 de Março de 1961.
A todos os componentes dessa
Companhia, aos bravos rapazes de
Setúbal, são dedicadas estas breves
recordações.

Porque todo o Norte da Província se
encontrava sob a acção de milhares
de agitadores vindos do Congo
ex-Belga, urgente se tornava que
fossem abertos vários itinerários
para aquela região e assim, a
Companhia recebeu a missão de, com
os seus meios, efectuar a abertura
do itinerário Negage - Maquela do
Zombo. As constantes infiltrações
dos terroristas mantinham as
populações nativas portuguesas sob
ameaças, obrigando-as a
obedecer-lhes, desmoralizando-as com
as suas actividades criminosas,
designadamente em Madimba e Cuimba.
Assim, a Companhia, desfalcada em
dois pelotões que se encontravam
destacados um em Carmona e outro em
Maquela do Zombo, para onde foram
aerotransportados, iniciou os
necessários preparativos, que
tiveram de ser rápidos, dada a
urgência da missão, bem como rápido
teve de ser o deslocamento de Luanda
para o Negage, cujo itinerário se
encontrava aberto.

Nas vésperas da partida de Luanda, a
Companhia fora informada de que ao
longo do itinerário a abrir iria
encontrar as maiores dificuldades,
como estradas muito obstruídas,
valas, arames, árvores abatidas e
pontes e pontões destruídos, além
das numerosas emboscadas que a
Companhia iria enfrentar.
Havendo necessidade de um completo
reconhecimento aéreo, solicitei a
cooperação da F. A. P. (Força Aérea
Portuguesa), a qual forneceu um
avião para aquele fim.
Como resultado deste reconhecimento
aéreo que efectuei do itinerário que
tínhamos de percorrer, pude
confirmar as informações que
recebera em Luanda: — pontes e
pontões totalmente destruídos e as
árvores abatidas rondavam o número
de 1500.

Iniciada a marcha, a primeira
povoação que encontrámos — Bungo —
ficava a poucos quilómetros de
Negage, tendo a Companhia deparado
com enorme quantidade de obstáculos
ao longo da estrada, os quais foram
sendo removidos, com o maior esforço
e sacrifício, mas bom humor, de todo
o pessoal, e tudo feito sempre
perante um inimigo terrorista que
tentava a todo o custo e por todas
as formas impedir a marcha da
Companhia para Negage, tal como se
previa.
As dificuldades encontradas nesta
primeira etapa foram sensivelmente
as mesmas ao longo do restante
percurso.
Para a totalidade da abertura de
todo o itinerário — Negage - Maquela
do Zombo — levou a Companhia 18
dias, tendo sido retiradas da
estrada 1917 árvores, tapadas cerca
de 60 valas e reconstruídas cerca de
12 pontes e pontões.
Os terroristas montaram durante a
abertura do itinerário até Maquela
do Zombo 37 emboscadas que,
felizmente, poucos danos nos
causaram, ante a forma como cada
elemento da Companhia sabia como
proceder em casos desta natureza, o
que lhes fortalecia o moral que
sempre mantinham, e a vontade férrea
de levar a bom termo a missão que
lhes havia sido confiada.

Para se poder avaliar do esforço
despendido, basta saber que a
Companhia só atingiu a povoação do
Bungo pelas 17 horas do terceiro dia
de marcha, isto é, quase três dias
para percorrer uma distância que de
autotióvel, normalmente, é feita
numa hora.
Estabelecida a Companhia em Maquela
do Zombo, teve durante a sua
permanência de três semanas naquela
povoação, de executar grande número
de missões, entre as quais
tentativas, por várias maneiras, de
recuperação das populações nativas
portuguesas que se encontravam nas
matas sob a ameaça e opressão dos
terroristas e principalmente as que
foram levadas para o Congo ex-Belga,
e que se encontravam receosas ainda
dos maus tratos e da fome que ali
sofriam.
Depois, marchou a Companhia para
Cuimba, onde montou a sua sede e
onde igualmente foram executadas
inúmeras missões, entre elas a
abertura do itinerário Cuimba - São
Salvador, em cooperação com o B. C.
156 (Batalhão de Caçadores 156).

Em princípios de Agosto de 1961, a
Companhia foi substituída em Cuimba
por outra Unidade, a fim de poder
preparar-se em São Salvador para a
abertura do itinerário para Madimba
e a sua reocupação aos terroristas,
missão que demorou cerca de uma
semana. A reocupação de Madimba foi
levada a bom termo em 12 de Agosto
de 1961, permitindo confirmar mais
uma vez as grandes qualidades do
soldado português, dificilmente
superáveis dado o seu espírito de
sacrifício e iniciativa, adaptação
rápida a esta forma de combate que
nos foi imposta, e sobretudo uma
grande lealdade.
Nomeadamente os soldados da
Companhia deram provas magníficas de
inexcedível espírito de sacrifício e
os quadros agiram com grande valor,
inteligência, firmeza e sangue-frio,
em vigilância eficaz, contra um
inimigo manhoso, traiçoeiro, drogado
e enlouquecido.
As nossas Forças, combatendo sem
quartel os bandos de terroristas,
não quebravam, antes se revelavam
capazes dos maiores empreendimentos,
mostrando todos bem claramente a
disposição inabalável de quererem
cumprir o seu dever.»
