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Efeméride

Efeméride - Ataque da Frelimo a um acampamento da C. Eng. 2393 (Moçambique) - 28Out1968

 

texto de Rui Silva,datado de 28 de Outubro de 2008

 

 

28 de Outubro de 1968

 

Ataque da Frelimo a um acampamento da Companhia de Engenharia 2393

 

Cumpre-se hoje (28Out2008) o 40º aniversário da penosa lembrança do ataque da Frelimo ao aquartelamento da Companhia de Engenharia 2393 em Cabo Delgado.

 

Como filho de um ex combatente, ferido neste ataque, e como cidadão interessado no tema e no respeito que devem merecer aqueles que se sacrificaram pela pátria gostaria de dar o meu humilde contributo da seguinte forma.

 

Elaborei um pequeno texto, uma visão factual e "desapaixonada" por não ter experimentado os eventos (penso que é importante existirem visões externas aos militares para demonstrar que este tema tem de ser do interesse do domínio geral e não apenas daqueles que passaram as duras experiências no mato). Tenho 32 anos e uma excelente amizade com o Comandante da Companhia de Engenharia 2393, sempre que possível vou aos encontros anuais com o meu pai e outros familiares, já ajudei a organizar um dos eventos, tenho também uma boa amizade com o Comandante de uma das companhias de sapadores adidas à 2393, para além de tantas amizades com os soldados, cabos, sargentos oficiais não só destas companhias como de outras de diferentes ramos das forças armadas.

 

Neste caso, pretendo valorizar a homenagem da forma mais imparcial possível, uma vez que para além do texto em anexo vou enviar fotos de um mural onde consta o nome de uma das 3 vítimas desse ataque terrível que a Frelimo infligiu à 2393. O nome de um soldado de uma companhia de artilharia adida à 2393. Um dos jovens falecidos era um cabo da 2393 e já existe uma fotografia. Infelizmente não consegui fotos da campa ou mural onde consta a terceira vítima, mas como as fotos que envio são alusivas a um dos dois soldados que morreram da Companhia de Artilharia 2371, a homenagem aos dois ficará mais completa, trará novidade e penso que poderá funcionar como catarse aos ex combatentes que viveram esse inferno.

 

Por mim nunca serão esquecidos....

 

Abraço a todos.

 

Rui Silva

 

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O texto:

O FIM DA INOCÊNCIA 

40 ANOS

 Cabo Delgado - Moçambique - 28/10/1968

 

Mais uma tarde passada na longa campanha do ultramar.

 

Cumprido mais um dia de missão, militares e viaturas deslizam para um “lar de lona” algures na E.N. 243.

 

O acampamento provisório da Companhia de Engenharia 2393. No local a consertar uma ponte sobre o Rio Muera para dar um novo ser à picada de ligação a Nambude.

         

A noite esventrava lentamente o dia. Enquanto o pó assentava na recta da picada.

 

Ao largo, o acampamento deixara a mata desnudada. Enquanto cerca de 150 Homens e maquinaria movimentavam-se no interior sem antever agitação suplementar. Mais uma noite no mato com os medos e angústias do costume.

 

Contudo nesse pôr-do-sol tudo se alterou! No aquartelamento e na pista de Antadora, foi varrida a pretensa segurança num ciclone de tragédia. Nunca a Frelimo assumira um contorno tão vincado nas flagelações como nessa noite.

 

No turbilhão dos treze impactos de granada de morteiro 82, resultaram homens feridos, em choque, panos de tenda a esvoaçar em forma de crivo, autotanques a verter água por uma imensidão de buracos suplementares, maquinaria destruída num “festim” em que nada ficou incólume. Aos 35 feridos e às cicatrizes da psique, somaram-se 3 militares que se encontravam na hora e no local mais errado da parte interior do acampamento. Aqueles a quem a desventura rotula simplesmente de mortos.

 

 

A 2393 perdeu bem mais do que a vida do 1º Cabo Horácio de Sousa Rocha. Irremediavelmente perdeu o seu primeiro homem e definitivamente a inocência.

 

Cracha CEng2393
Horácio de Sousa Rocha

 

Horácio de Sousa Rocha, 1.º Cabo Sapador, n.º 04382967, natural da freguesia e concelho de Vendas Novas, solteiro, filho de José Rocha e de Maria Francisca.

 

Mobilizado pelo Regimento de Engenharia 1 (RE1 - Lisboa), para servir Portugal na Província Ultramarina de Moçambique integrado na Companhia de Engenharia 2393 «CONTRA COSTA».

 

Faleceu no dia 28 de Outubro de 1968, na EN 243, vítima de ferimentos em combate, devido a um ataque do inimigo à Companhia em trabalhos.

 

Tinha 22 anos de idade.

 

Está inumado no cemitério municipal de Vendas Novas.

 

A 2371 redobrou a tragédia sob os nomes dos soldados Joaquim Jesus Magalhães e Joel dos Santos Fontes.

 

CArt2371Joaquim Jesus Magalhães

 

Joaquim Jesus Magalhães, Soldado Atirador de Artilharia, n.º 10943567, natural de Cabanelas de Cima, freguesia de Bustelo, concelho de Penafiel, solteiro, filho de Agostinho de Carvalho Magalhães e de Maria Emília de Jesus.

 

Mobilizado pelo Regimento de Artilharia Ligeira 5 (RAL5 - Penafiel), para servir Portugal na Província Ultramarina de Moçambique, integrado na Companhia de Artilharia 2371 do Batalhão de Artilharia 2846 «FORTES E CORAJOSOS».

 

Faleceu no dia 28 de Outubro de 1968, na EN 243, vítima de ferimentos em combate, devido a ataque do inimigo, aquando da protecção à Companhia de Engenharia 2393.

 

Está inumado no cemitério de São Pedro da Cova, concelho de Gondomar

 

 

 

 

 

CArt2371

 

Joel dos Santos Fontes

 

Joel dos Santos Fontes, Soldado Atirador de Artilharia, n.º 10996967, natural de Cimo da Vila, freguesia de Guisande, concelho de Santa Maria da Feira, casado com Ermelinda Alves Cardoso, filho de Herculano Marques Fontes e de Dorinda Alves dos Santos.

 

Mobilizado pelo Regimento de Artilharia Ligeira 5 (RAL5 - Penafiel), para servir Portugal na Província Ultramarina de Moçambique, integrado na Companhia de Artilharia 2371 do Batalhão de Artilharia 2846 «FORTES E CORAJOSOS».

 

Faleceu no dia 28 de Outubro de 1968, na EN 243, vítima de ferimentos em combate, devido a ataque do inimigo, aquando da protecção à Companhia de Engenharia 2393.

 

Está inumado no cemitério da freguesia da sua naturalidade.

 

Que as suas Almas descansem em Paz

 

Clique na imagem para ampliação:

 

 

 

Hoje ficam assim marcados 40 anos sobre a triste efeméride no percurso dos militares da Companhia de Engenharia 2393, tal como das sub-unidades adidas (caso do Pelotão de Sapadores do Batalhão de Caçadores 16 e 18, Pelotão Construções Engenharia) e de protecção (caso dos Pelotões de Artilharia 2371 de Diaca e Sagal e do Pelotão de Infantaria do Batalhão de Caçadores de Mocímboa da Praia). Descanso eterno aos falecidos na tragédia, ocorrida às 19H30 de Portugal.

 

O mesmo respeito para os que dela escaparam com vida. Os "outros" que por força das circunstâncias tiveram mais sorte com os estilhaços, mas nunca os conseguirão descravar do pensamento.

 

Rui Silva

 

 

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