Monumentos aos Combatentes,
Memoriais e Campas
Monumentos aos Combatentes e
Campas
(Listagens e imagens de memoriais e campas de antigos
combatentes)
Em
memória daqueles que tombaram em defesa
de
Portugal na Guerra do Ultramar
Para
visualização dos conteúdos clique em
cada um dos
sublinhados que se seguem:
Listagem dos mortos naturais do concelho
de
Alvaiázere

Maças de Dona Maria
Henrique Ferreira
Soldado Maqueiro, n.º
03743870
1.ª
Companhia de Caçadores
«VIET-BEIRA»
Batalhão de Caçadores
16
«AD IMO PECTORE»
Vila
Cabral (Moçambique)
Tombou
em combate no dia 24 de Setembro de 1972
Paz à sua Alma, onde quer que esteja.
Henrique Ferreira,
Soldado Maqueiro, n.º 03743870, natural
da freguesia de Maças de Dona Maria,
concelho de Alvaiázere, filho de Alfredo
José Ferreira e de Maria
Rosa Ferreira,
solteiro;
Mobilizado pelo Regimento de Artilharia
Antiaérea Fixa (RAAF – Queluz)
«DEFENDEREI DA FORÇA DURA E INFESTA A
TERRA NUNCA D’OUTREM SUBJGADA»
para
servir Portugal na Província Ultramarina
de Moçambique, integrado na 1.ª
Companhia de Caçadores (1ªCCac)
«VIET-BEIRA» do Batalhão de Caçadores 16
(BCac16) «AD IMO PECTORE»;
Faleceu no dia 24 de Setembro de 1972 na
picada de Luatize – Valadim, vítima de
ferimentos em combate;
Segundo os registos castrenses, está
inumado no cemitério de Maças de Dona
Maria, no concelho de Alvaiázere, no
entanto...
Elementos cedidos pelo veterano José
Mendes Brás, da CArt3374
In:
jornal «O Alvaiazerense»,
de 31 de Janeiro de 2022 (recorte)
"História triste…soldado desaparecido?"
Henrique Ferreira, apenas dois nomes,
marca indelével das suas origens
humildes, "filho" de Maçãs de D.ª Maria.
Como tantos outros da sua geração,
cumpriu o serviço militar obrigatório e
foi mobilizado para o Ultramar, para
combater por causas e numa guerra da
qual dificilmente encontraria, na sua
mente de jovem trabalhador rural, algum
sentido.
Este era o desígnio de quase todos os
jovens que alcançaram a maioridade entre
1961 e 1974. Um desígnio perigoso,
traumático ou no mínimo retardador das
suas vidas de adultos. Henrique Ferreira
nunca deveria ter sido mobilizado! O seu
pai morrera quando tinha cerca de 6
meses. Objetivamente, fora um órfão,
numa família constituída pela mãe e por
uma irmã pouco mais velha.
Objetivamente, era um elemento
fundamental para a sobrevivência
económica, presente e futura, da sua
progenitora.
Uma das fundamentações para a recusa do
amparo de mãe esteve no facto do pedido
ter sido entregue fora de prazo. Importa
relembrar que era importante mobilizar
jovens que permitissem manter uni
efetivo generoso e naturalmente
substituíssem aqueles que se furtavam a
ser mobilizados, refratários, ou outros
que eram subtraídos à mobilização em
razão dos jogos de influências (cunhas).
Henrique Ferreira não deveria ter ido,
mas foi! Talvez o facto de ser um jovem
humilde e obediente e a sua condição
familiar, já descrita, tenham levado a
que a sua situação em Moçambique fosse
enquadrada de molde a não o expor
demasiado aos riscos de uma guerra de
guerrilha. Na maioria do tempo passado
em Moçambique, o Jovem Henrique fez
parte do contingente do quartel em
Nampula, numa vida rotineira que lhe
permitia acalentar a esperança de tirar
a carta de condução profissional.
Nos aerogramas trocados, o último dos
quais chegou após o seu falecimento,
Henrique perguntava pela família, pelas
colheitas, pela pinga da qual reservava
um barril só para si e amigos, para
comemorar o seu regresso; perguntava
ainda pelo cão, o Tejo, manifestando o
desejo de encontrar "esse grande amigo".
Manifestava a esperança de poder passar
o Natal de 1972 com os seus e o desejo
de ir a Fátima a pé, com a família, como
já havia feito antes de partir para a
tropa.
Um dia, alguém com responsabilidades
entendeu que era tempo deste jovem fazer
o seu "batismo" de verdadeira guerra. A
intervenção pronta dos seus superiores
do Comando Territorial de Nampula
impediu que se consumasse esta ida para
o mato. A mesma sorte não teria uma
segunda vez. Embarcou rumo ao Niassa
Norte. A última foto que se conhece foi
tirada no dia 11/05/1972, dia do seu
aniversário, em Chiconono, e enviada
posteriormente à sua família. No dia 24
de setembro de 1972 terá, alegadamente,
sido vítima de uma mina com ferimentos
fatais no tórax e abdómen. A notícia foi
comunicada por telegrama endereçado a
Alfredo Ferreira, seu pai, falecido há
mais de 20 anos, facto bizarro que
dificultou a vida do carteiro.
Entretanto foi enviado o seu parco
espólio, uma simples mala com poucos
objetos pessoais.
O funeral realizou-se 8 meses depois, de
acordo com o estipulado pelo ministério
do Exército e seguindo o protocolo em
vigor.
50 anos depois, após a morte um
familiar, um cunhado, também ele ex
combatente, houve o pretexto de recolher
as ossadas restantes dos malogrados
enterrados na respetiva sepultura. Foram
recolhidas as ossadas da mãe de Henrique
Ferreira e tentou-se recolher algo que
restasse do protagonista desta
narrativa. Aberto o involucro de chumbo,
o único que sobreviveu ao tempo, os
presentes, onde se incluía o narrador,
depararam-se com uma urna sem sinais de
alguma vez ter tido algo dentro, muito
menos um corpo. Não havia o mínimo
indício de nada, apenas alguma água que
provavelmente entrara em virtude de a
soldadura do chumbo ter apodrecido. À
semelhança do que aconteceu com outros
casos relatados no país, provavelmente
esta urna não trouxe nada, foi um ato
simbólico para tentar mitigar a dor da
perda ou apenas mais um sinal da
hipocrisia de uma guerra feita a "bem da
nação".
50 anos depois, desconhecidos muitos dos
factos e os verdadeiros contornos de
toda a história, ainda que não se saiba
o verdadeiro local onde param os restos
mortais do malogrado Henrique, fica a
memória e o reconhecimento.
ALGUÉM SÓ MORRE
DEFINITIVAMENTE QUANDO O MATAMOS NA
NOSSA MEMÓRIA!
Paulo Silveiro
