Notícias publicadas na comunicação social
Fonte: "Voz
da América"
Segunda, 19
Setembro 2011
Documentos secretos:
EUA queriam neutralidade
na guerra colonial portuguesa
Mesmo antes do golpe de 25 de Abril de
1975, Zaire queria que EUA
dessem mais apoio à FNLA.
Documentos americanos
Mesmo antes do golpe de estado de 25 de
Abril de 1974, que derrubou o regime colonial português,
o Zaire queria que os Estados Unidos dessem maior apoio
à FNLA, manifestando preocupação sobre uma futura queda
do regime de Marcello Caetano.
Portugal,
por outro lado, queixava-se amargamente da falta de
apoio dos Estados Unidos e estes diziam que a guerra
colonial só servia para "um prolongado estado de
insegurança e tensão na África Austral"
Estas são alguns dos pormenores agora
revelados em milhares de documentos secretos
relacionados com a política americana para África entre
os anos de 1969 e 1976
Os documentos vão desde memorandos a
actas de reuniões ao mais alto nível e fornecem uma
visão inédita, as vezes pessoal e mesmo cheia de humor,
da política americana para África entre 1969 e 1976.
Talvez um dos aspectos mais salientes seja o facto de
que antes do golpe de estado de 1974 que derrubou a
ditadura portuguesa e marcou o fim do regime colonial
português os documentos indicarem claramente tensões
entre Washington e Lisboa, com Portugal a queixar-se
amargamente da falta de apoio militar americano para as
suas guerras coloniais e os diplomatas americanos a
mostrarem-se receosos e a quererem manter uma
neutralidade nessa guerra.
Por exemplo em Janeiro de 1970 o
Departamento de Estado enviou um telegrama para a sua
embaixada em Lisboa em que afirma que as guerras
coloniais portuguesas, mesmo que Portugal pudesse
resistir por muitos anos, serviriam apenas para
enfraquecer os recursos de Portugal e de África o que
serviria para “contribuir para um prolongado estado de
insegurança e tensão na Africa austral”.
“Essa situação,” diz o documento,”não
serve os interesses de ninguém”. O Departamento de
Estado diz que o "Manifesto de Lusaka" – um documento
que delineou politicas de África para com a África do
Sul e territórios sob dominação colonial - pode
fornecer a Portugal uma oportunidade de “reconciliar”
os interesses de ambas as partes. Algo que nunca
aconteceu.
Em Maio de 1970 numa reunião do então secretário de
Estado, Henry Kissinger, com o chefe do governo
português, Marcello Caetano, Kissinger declara
abertamente que os Estados Unidos querem desenvolver
uma relação com Portugal de modo a “não serem
questionados ou parecerem apoiar ou opôr-se às politicas
portuguesas”.
Uma nota sobre as linhas mestras da política americana
para a África sob dominação portuguesa, emitida pelo
Departamento de Estado em Setembro de 1970 é clara:
“Devemos continuar a permanecer fora do conflito e a
manter o nosso embargo de armas”. Acrescenta o
documento: “Evitar identificarmo-nos com o lado
português ou rebelde”.
Uma outra nota referente especificamente
a Moçambique afirma o mesmo. Em ambos os casos o
documento reconhece que “há pouco que os Estados Unidos
podem fazer para influenciar os acontecimentos” que se
desenrolam nas colónias portuguesas.
É interessante notar que já em 1970 o
presidente do então Zaire, Mobutu Sese Sekou,
manifestava preocupação sobre as consequências da
possível queda do regime colonial português
pressionando os americanos para darem mais apoio a
Holden Roberto, o então dirigente da FNLA algo a que
inicialmente os Estados Unidos mostram relutância.
Jonas Savimbi e a Unita eram algo que na
altura não estavam no radar dos americanos.
As pressões do Zaire para os Estados Unidos darem o seu
apoio á FNLA vão aumentar imediatamente após o derrube
do regime de Marcelo Caetano em Abril de 1974, altura
que marca também o começo de uma amarga divisão dentro
das estruturas de política externa americana que se vai
prolongar até á independência de Angola.
Essa divisão versa um ala liderada por
Kissinger que não quer deixar a União Soviética ganhar
uma base de apoio em Angola através do MPLA e elementos
no departamento de estado que se opõem vigorosamente a
isso, alegando que Angola não tem qualquer interesse
estratégicos para os Estados Unidos. Isso será tema de
próximas reportagens.