ANGOLA
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Tenente-Coronel Armando Maçanita
«Diziam que
eu não tinha medo. Bem, fartava-me de ter medo, mas tinha que dar o
exemplo. Não acredito em indivíduos que não têm medo, só se forem
inconscientes.
Eu tive sempre a preocupação, desde o princípio, de
estabelecer entre mim e os meus soldados um laço de amizade muito forte.
O que mais contava eram as pessoas. Ali não havia valores, havia as
pessoas.
Eu tinha 44 anos, eles tinham 20 e 21, a não ser os capitães e
os alferes, que andavam nos 24.
E estabeleceu-se um contacto e uma
amizade de tal forma que tornou este batalhão invencível.»
Palavras do
Coronel de Infantaria Armando Maçanita,
in sítio:
http://ultramar.terraweb.biz/06Livros_JoseFreireAntunes.htm
Biografia
«Natural de Portimão, onde nasceu a
16 de Junho de 1917, Armando da Silva Maçanita distinguiu-se nos
primórdios da Guerra Colonial, na altura em que era tenente-coronel de
Infantaria.
No início do conflito armado em
Angola, em 1961, comandou uma força integrada na “Operação Viriato”,
ofensiva que se desenrolou entre 10 de Julho e 9 de Agosto desse ano,
tendo reconquistado, à frente do célebre Batalhão de Caçadores 96, a
vila de Nambuangongo, situada a 200 quilómetros a Norte de Luanda e um
importante reduto militar e estratégico. Esta operação seria também a
primeira grande acção militar da Guerra de África, e possivelmente a
maior que as tropas portuguesas empreenderam em África.
Na altura seria também ocupada a
região montanhosa da Pedra Verde, uma autêntica fortaleza do inimigo,
acção onde Maçanita se fez notar, ao ameaçar atirar sobre as tropas
pára-quedistas, que se preparavam para colher os louros da vitoria que
pertencia à Infantaria. Este facto, que muitos quiseram limpar da
História do início da Guerra Colonial trouxe-lhe os dissabores das
vinganças mesquinhas dos burocratas das chefias, e fez com que a sua
carreira fosse interrompida.
O tenente-coronel Maçanita teve a
coragem dos heróis e também a audácia dos que enfrentam os oportunistas.
Um testemunho desse tempo dá-lo como
«muito engraçado, um pouco self made man, no sentido da
disciplina, e um aventureiro», sendo adorado pelos soldados e menos
pelos seus oficiais.
As maneiras pouco ortodoxas que lhe
eram imputadas, nem sempre bem vistas pela hierarquia, eram «à Maçanita››,
isto é, fruto do seu carácter bem singular e algarvio.
Ao sondarmos melhor a carreira
militar de Armando Maçanita, sabemos que em meados de 1970 já tinha
realizado algumas comissões de serviço no Ultramar. Tendo chegado a
Angola nos primeiros meses de 1961, no comando do Batalhão de Caçadores
325, aqui se manteve, quase sempre em acção, até meados 1962. Também
faria uma comissão em Moçambique, em 1965-1967, onde foi também
comandante do sector de Vila Cabral, numa altura em que era visto como
uma celebridade.
Comandou também algumas unidades
militares, nomeadamente o Regimento de Infantaria n.º 10, de Aveiro, e o
Campo Militar de Santa Margarida (1969-1972), sendo nesta altura já
coronel.
Após a sua aposentação, no posto de
coronel, foi na sua terra natal e durante treze anos presidente do
núcleo local da Liga dos Combatentes, tendo sido várias vezes alvo de
homenagens, nomeadamente a que lhe foi dedicada em Maio de 2005, durante
o encontro de associações de ex-combatentes, realizado em Portimão. Foi
nessa ocasião que o conheci e o pude admirar mais estreitamente.
A sua cidade natal atribuiu-lhe a
Medalha de Mérito do Município, grau ouro, em cerimónia realizada nos
Passos do Concelho, a 16 de Setembro de 2005,
altura em que foi descerrada uma placa toponímica com o seu nome, numa
avenida junto às Cardosas.
Armando Maçanita, que faleceu em
Portimão, com 88 anos, a 17 de Novembro de 2005,
ganhou
merecidamente um lugar de destaque na galeria dos heróis nacionais.»
in livro: "Armando
Maçanita e o Batalhão de Caçadores 96, na tomada de Nambuangongo, em
1961. Um contributo para a História da Guerra Colonial", de José
Rosa Sampaio
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