ANGOLA
- IMAGENS - Cedidas por ex-Combatentes ou em
sites próprios

Horácio Marcelino
Condutor Auto n.º 1552/64
Companhia de Artilharia 1405
Batalhão de
Artilharia 1852
Angola 1965 a 1967

2015:
50.º
Aniversário da Partida do BArt1852 para a RMA

História resumida
da Companhia de Artilharia 1405 e do Batalhão de
Artilharia 1852
A
unidade mobilizadora do Batalhão de Artilharia 1852 foi o Regimento de
Artilharia de Costa (RAC), em Oeiras, e creio ter sido o primeiro
batalhão a ser constituído no RAC.

O
comandante do Batalhão era o Tenente-Coronel Eduardo José Teixeira
Barbosa de Abreu.
O
comandante da Companhia 1404 era o Capitão Seabra, o da 1405 o Capitão
Moniz e o da 1406 o Capitão Faria Leal.
Após
a mobilização, em Junho de 1965, a C. Art. 1405 ficou concentrada em
Alcabideche e as restantes unidades em Oeiras, Parede e Cascais.
O
embarque verificou-se , em Lisboa, na Doca da Rocha do Conde de Óbidos,
a 21 de Agosto de 1965, no Paquete Vera Cruz.
Estado
de construção da Ponte Salazar, actualmente Ponte 25 de Abril, à data do
embarque, foto de familiar.
A
chegada ao cais de Luanda deu-se a 30 de Agosto, de onde fomos
transportados, de comboio, em carruagens de mercadorias para o Campo
Militar do Grafanil, que distava cerca de 10 km do cais e onde, com
alguma instrução militar, muito ocasional, ficámos a aguardar quando e
qual seria o nosso destino.
Tendas onde os militares ficavam quando em trânsito
A 7
de Setembro, transportados em camiões civis de carga, escoltados por
militares da especialidade, seguimos rumo ao Norte de Angola, para a
região do Zaire, com paragens, para descanso nocturno e refeições
(rações de combate), em Ambrizete e em São Salvador do Congo, actual
M’Banza Congo.
A
chegada aos aquartelamentos, sedeados junto à linha de fronteira com a
República do Zaire, actual República Democrática do Congo, na Zona de
Intervenção Norte (ZIN), verificou-se a 9 de Setembro. Era uma zona
conhecida pela grande infiltração do inimigo (IN.) para o interior da
então Província de Angola, sendo, portanto, a grande missão do batalhão
evitar a tudo o custo essas incursões. O fundamental do nosso trabalho
consistia no regular patrulhamento de toda a área que nos estava
atribuída, o que era feito em operações de patrulhamento a pé, por
caminhos (trilhos e picadas) em que tínhamos de vencer os mais diversos
obstáculos, sem contar aqueles em que era necessário enfrentar o IN.
Operações havia em que, pela distância, as deslocações se iniciavam ou
terminavam com as colunas militares auto transportadas.

Mapa
da região onde as unidades do B. Art. 1852 ficaram cerca de dezassete
meses
O B.
Art. 1852 rendeu o B. Cav. 631, que havia substituído o B. Caç. 595. A
partir de 1961, e até 1963, a defesa da Mamarrosa, Luvo, Canga e M’Pozo
foi da responsabilidade da C. Art. 102, da C. Sap. 151, de unidades que
integravam o B. Cav. 345, comandado pelo então Tenente-Coronel Spínola,
e da C. Caç. 379. No início da guerra colonial, o aquartelamento de M’Pozo
dependia militarmente dos comandos sedeados na Mamarrosa e depois passou
a depender de Nóqui. O aquartelamento da Magina só ficou concluído em
Março de 1963.
As
companhias ficaram instaladas nos seguintes locais:
- A
CCS na Mamarrosa, a cerca de 58 km de São Salvador, onde havia uma
fazenda de café e uma serração, ambas propriedade da Empresa Salvador
Beltrão Coelho, em que trabalhavam cerca de setenta trabalhadores
Bailundos e um capataz continental, de nome Garcia;
- A
C. Cart. 1404 na Canga, aquartelamento localizado a cerca de 60 km de
São Salvador, no
itinerário para M’Pozo e Nóqui, que distava cerca de 23 km da Mamarrosa.
O aquartelamento
da Canga foi desactivado em finais de setembro de 1974;
- A
C. Cart. 1405 na Magina, aquartelamento situado numa clareira da Mata do
Luvo, onde até o campo de futebol era inclinado, ao cimo de uma ravina
com cerca de 2 km, após passagem pela ponte do rio com o mesmo nome,
distante cerca de 85 km de São Salvador, no itinerário para Buela e
Pangala, com passagem pela Mamarrosa, da qual distava cerca de 43 km (Crachá
da C. Art. 1405, do autor);
- A
C. Cart. 1406 no Luvo, posto fronteiriço onde havia autoridades
administrativas, aduaneiras e de segurança (ex-PIDE), localizado a cerca
de 60 km de São Salvador, com passagem pela Mamarrosa, da qual distava
cerca de 8 km. Esta companhia, para além das tarefas militares que lhe
estavam atribuídas, prestou protecção, durante alguns meses, à Junta
Autónoma das Estradas de Angola (JAEA), que fazia a reconstrução da
estrada São Salvador-M’Pozo. A JAEA partiu em Maio de 1966, vindo
depois, a partir de meados de Novembro, a Engenharia Militar continuar a
mesma obra, também sob protecção militar.
As
unidades reabasteciam-se, em regra, uma vez por semana em São Salvador
do Congo, cidade servida por aeroporto, com pista de terra batida, onde
estava instalado o comando militar da ZIN.
Foram
cerca de dezassete meses em locais que obrigavam a imensa actividade
militar, em constantes operações, algumas durante dias consecutivos. As
companhias sedeadas na Canga e na Magina eram as que estavam mais
isoladas e expostas à actividade do IN. Desse período há a lamentar uma
baixa, em consequência de emboscada a uma coluna da C. Art. 1404, a
06-01-1967, quando regressava do reabastecimento em São Salvador, e
diversos feridos, alguns com gravidade, obrigando à sua evacuação, em
resultado de outras ocorrências militares, como o accionamento de mina
AC, em Maio de 1966, e de acidentes com origens diversas.

Consequências
da mina AC, foto do autor).
O
aquartelamento da Magina, além da localização isolada e distante de
outros polos militares, debatia-se com grandes problemas nas
movimentações autotransportadas, face aos muitos obstáculos e à
constante degradação, devido às chuvas, das vias rodoviárias que o
serviam. Diversas vezes ficámos retidos na Mamarrosa, porque as chuvas
nocturnas impossibilitavam a deslocação para o aquartelamento, dados os
perigos de atravessar a Floresta do Binda, nas margens do Rio Luvo, e
nas encostas adjacentes a este rio.
Militares puxando o cabo do guincho de Unimog na
subida das matas do Luvo
A
água, para todos os fins, era obtida no Rio Luvo, junto à ponte,
distante cerca de 2 km do aquartelamento.

Carregando a água
Muitas vezes, devido às intempéries e ao estado das vias rodoviárias, as
deslocações a São Salvador, para reabastecimento, tinham de ser feitas
por Pangala e Calambata, e outras, no regresso à Magina, por Calambata,
Cuimba e Buela, o que obrigava a percorrer quase o dobro dos
quilómetros, cerca de 150.
Placa junto ao cruzamento da Magina para Buela e Pangala
Na
Magina, além de outras missões militares, um pelotão percorria
diariamente os morros em volta do aquartelamento, na chamada volta dos
tristes, para evitar que o IN flagelasse o mesmo a partir daqueles
locais.

Morros frontais ao aquartelamento
Finalmente, a 15 de Fevereiro de 1967, fomos rendidos por unidades do B.
Caç. 1900, a que se seguiram os B. Caç. 1930 e 2890, e depois também
pelas C. Caç. 2676 e 3413. A última unidade a deixar a Mamarrosa foi a
C. Cav. 8453 (Os Felinos), que saiu para Luanda em outubro de 1974. A
independência de Angola sucede a 11 de Novembro de 1975.
O
aquartelamento da Magina, construído pela C. Sap. 151 desde finais do
primeiro trimestre de 1963 até Março de 1971, data em que foi
desactivado, esteve à responsabilidade das seguintes unidades: C. Caç.
428, C. Caç. 535, C. Cav. 628, C. Art. 1405, C. Caç. 1652, C. Caç. 1783,
C. Caç. 1782 e C. Art. 2475; as C. Caç. 2676 e 2609 acompanharam a sua
desactivação.

Aquartelamento da Magina
(foto de autor desconhecido)
A
deslocação do B. Art. 1852 para a zona da região de Benguela demorou
quatro dias, após paragens, para passar as noites, em Ambrizete, Luanda
e Novo Redondo.
A CCS
do batalhão ficou sedeada no Lobito, a C. Art. 1404 na Gabela, a C. Art.
1405 em Benguela e a C. Art. 1406 em Quibala. Algumas companhias tiveram
desdobramentos, com pelotões colocados em povoações como Calulo, Gamba
(Camacupa-Vila General Machado), Cela, Cubal, Vila Norton de Matos (Balombo),
etc.
O B.
Art. 1852 embarcou, a 16 de Agosto de 1967, em Luanda, no Paquete Vera
Cruz, tendo chegado a Lisboa, ao mesmo local de onde havia partido, no
dia 24 do mesmo mês

Foto extraída do
ciberespaço:
Paquete
«Vera Cruz»

Foto extraída do
ciberespaço:
Ponte Salazar [25 de
Abril], inaugurada no dia 6 de Agosto de 1966
Horácio Tavares Marcelino,
ex-soldado condutor auto n.º 1552/64, junto do unimog ME-52-02 que lhe
estava atribuído na Magina

Este trabalho foi
conseguido com base em apontamentos pessoais, registos de comentários
constantes do Blogue da C. Caç. 3413, da «Cronologia da C. Art. 1406»,
do ex-Alferes Miliciano Arlindo Correia, e o insubstituível apoio, à
distância, do ex-Alferes Miliciano Secundino Eira, da C. Art. 1405.
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