– «Os portugueses apoiaram-se por
muitos anos, quase exclusivamente na
sua capacidade marítima comercial,
como meio de ligação com os três
teatros, sendo este recurso
utilizado nos primeiros anos das
campanhas para movimentar a maior
parte das tropas e do material para
África.
[...] Um navio fretado,
custava cerca de 5 mil libras por
dia a navegar e 2700 libras por dia
ancorado no cais.
As tropas não conseguiam desempenhar
as suas funções enquanto em viagem
[3 dias para Bissau, 9 dias para
Luanda, 23-24 dias para Lourenço
Marques], e para uma Nação com falta
de efectivos e de dinheiro fazia
cada vez menos sentido ter uma
grande quantidade de efectivos
parada num meio de transporte
dispendioso.
[...] O custo aproximado do
transporte de pessoal em navios
fretados e em aviões comerciais, foi
em 1970 de 4534038 libras (312 mil
contos); o custo aproximado do
transporte de material em navios
comerciais no mesmo ano, foi de
653948 libras (45 mil contos).
[...] Um avião podia
transportar as tropas e a carga
prioritária com muito mais eficácia,
considerando todos os custos
associados.
[...] Em 1971 [i.e, 1970] a
Força Aérea portuguesa comprou os
dois últimos modelos B-707,
[...] construídos por medida, com
um trem reforçado e uma cabine mista
para carga e passageiros. Operados
de acordo com os padrões da
Pan-American, acabaram por ter nas
mãos dos portugueses a mais alta
utilização de todo o mundo, facto
este confirmado pela Boeing. Um dos
dois aviões estava sempre em missão
e a confiança e fiabilidade do avião
tiveram um impacto espectacular no
quadro logístico.
[...] Os B-707 saíam
normalmente de Lisboa às 11:30
horas, voavam para Luanda onde eram
descarregados, abastecidos e
descarregados, e voltavam à
Metrópole por volta das 22:30 do
mesmo dia.
[...] Após 1971, com a
substituição dos navios fretados
pelos aviões da Força Aérea
Portuguesa [TAM] "Boeing-707", o
custo do transporte marítimo foi
reduzido para 1634150 libras (115
mil contos), cerca de 32% do custo
do ano anterior; enquanto as
despesas do transporte marítimo eram
reduzidas através da mudança para o
transporte aéreo, este era também em
comparação menos dispendioso que os
navios.
[...] De acordo com os
registos da Força Aérea Portuguesa,
em 1972 o transporte de passageiros
e da sua bagagem em B-707, em vez de
em navio, poupou às Forças Armadas
266633 contos; em 1973 poupanças
semelhantes atingiram 267633 contos.
Estas poupanças pagaram em 2 anos os
dois B-707.
[...] Em 1973 os 2 B-707
fizeram 299 missões, ao lado das 209
missões realizadas por toda a frota
de 10 DC-6: os DC-6 tinham sido
nessa altura relegados para as
missões mais curtas à Guiné, Açores,
Madeira e Europa; e os B-707 estavam
a servir Luanda e Moçambique.
[...] Exceptuando as
operações dos Estados Unidos no
Vietnam, os outros governos que
lutaram contra insurreições
semelhantes pareciam menos
predispostos a estes cálculos de
transporte aéreo. A Malásia era a
que se aproximava mais [do caso de
Moçambique] em termos de distância
[9300km Southampton-Singapura] e
números de tropas [em 48-57], e os
britânicos não fizeram esse esforço.
[...] A transição
[portuguesa] dos grandes navios de
tropas que chegavam e partiam com
fanfarra, para os aviões mais
subtis, reforçou a natureza discreta
das campanhas. A discrição dos
aviões a chegar e a partir
rotineiramente, proporcionando
entregas a tempo e uma resposta
rápida às necessidades dos teatros,
servia bem o carácter das campanhas.
[...] Esta acção contrastou
com a dos britânicos na Malásia, que
mantiveram [desde Jun48 a Ago57] os
navios de transporte para levar o
pessoal, apesar de mesmo os mais
rápidos já estarem obsoletos. Em
1957 uma passagem marítima de uma
pessoa para Singapura [num navio da
"Pacific and Orient"] custava 120
libras; a tarifa aérea para o mesmo
trajecto era de 45 libras. Esta
relutância em mudar era incongruente
num país que em 1950 desenvolvera o
primeiro turbo-hélice, o 'Vickers
Viscount', e dois anos mais tarde o
primeiro turbo-jacto, o 'DeHavilland
Comet'.
Era ainda mais curioso o facto de
que viajando por mar, o soldado
ficava afastado das suas funções
durante talvez 3 semanas, comparado
com as 48 horas que demoraria por
ar.»