Informação de
João Azevedo e
Vítor Baião
Esquadrão de Cavalaria 1 e 2
Mueda - 17 e 18JUL1970
Tombaram em combate
10 militares daqueles dois
Esquadrões
(Transcrição das
mensagens. A sua ordem: da mais antiga para a mais
recente)
De: Vitor Baião
Para: João Azevedo
Assunto: ECAV 1 e 2 MUEDA 1970
Caro Amigo
Sei que esteve em Mueda em 1970
no ECav 2.
Através do site da Liga dos
Combatentes verifiquei que em 17/07/1970 e 18/07/70,
morreram 10 combatentes do ECav 1 e ECav 2.
Pode dar-me elementos sobre o
que aconteceu.
Ficaria muito grato.
Um abraço do
Vítor Baião
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From:
João Azevedo
To: Vitor Baião
Subject: Re: ECAV 1 e 2 MUEDA 1970
Caro Baião,
Isto sucedeu na Operação
"NÓ GÓRDIO", com o Esq. 1 no cerco Sul em Nangololo e o
Esq. 2 em Sagal no cerco Norte. Não sei precisar a data
das mortes, o que pode confirmar nas inscrições no
Monumento no Restelo. Foi mau demais. Os Esquadrões
circulavam de forma constante com dois pelotões entre
Mueda Sagal Diaca e o 1º entra Mueda - Nangololo -
Muidumbe. No livro do mesmo nome "Nó Górdio" do então
Capitão comando e hoje Coronel Matos Gomes explica-se
mais ou menos bem esta carnificina. Foi um período muito
mau. As Companhias de "atiradores" estavam colocadas ao
longo da picada com intervalos enormes (desenhados em
mapa) e depois na prática ocorria a colocação de minas,
pois os "grupos" eram exíguos e não acudiam à defesa da
picada por receio de sofrerem eles os ataques do IN. O "Chindorilho"
e o "Túnel" de Diaca eram alvos apetecidos. Num dos
casos mais graves a emboscada, coisa rara, foi feita no
"tunel" e deram-se ao desplante de enfiar granadas
directamente nas FOX's e um dos "granadeiros" foi
atacado com um lança-granadas que vitimou vários dos
combatentes, entre os quais o Alferes Rodrigues, natural
de Estarreja e que esteve connosco 8 dias apenas. Na
outra banda é quase intocável o que por lá se passou,
pois meteu a morte do capitão responsável do Esq. Cav.
1, em estado "normal" e que foi condecorado a título
póstumo no 10 de Junho - Faria Afonso de seu nome. Este
caso não é para lembrar, pois é uma página negra a que
nos escusamos comentar. Na sequência das primeiras
mortes e até ao 15 de Julho, data em que se apresentou o
Comandante do Esq. Cav. 2 eu era o responsável e
recusei a saída do Esq. 2 até que a picada fosse
totalmente limpa e alterado o esquema montado, o que me
valeu a instauração de um processo que me levaria à
Xefina, no entanto, e porque o Coronel Celestino
Rodrigues, afastado da Guiné por Spínola por
incompetência era o Comandantes das várias forças no
"cerco Norte", razão porque a sua falta de crédito
perante os superiores e atendendo à minha experiência,
na altura com 18 meses de picada em Mueda, foi tudo
alterado e quando parti do interrogatório levei comigo
mais duas Companhias e instruções para fazer a
distribuição na picada conforme bem entendesse. A
segunda quinzena foi menos má e não posso afirmar se
tive alguma coisa a ver com essa alteração. Foi um
período muito mau.
Em suma foi sequência
dessa operação.
Um abraço.
João Azevedo
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From: Vitor Baião
To: João Azevedo
Subject: RE: ECAV 1 e 2 MUEDA 1970
Caro Amigo
Agradeço a sua
informação infra.
Segue a lista dos
bravos militares dos Esquadrões de Cavalaria 1 e 2 de
Moçambique, falecidos na altura, segundo o site da Liga
dos Combatentes:
(transcrição nossa
do quadro e sublinhado)
Jaime Anselmo Alvim de Faria Affonso, Capitão de
Cavalaria, do Esquadrão de Cavalaria 1, natural da
freguesia do Lumiar, concelho de Lisboa, tombou em
combate no dia 17 de Julho de 1970;
Carlos Alberto Martins Almeida Dias, Furriel de
Cavalaria, do Esquadrão de Cavalaria 1, natural da
freguesia de Nossa Senhora da Conceição, concelho de
Lourenço Marques, tombou em combate no dia 17 de Julho
de 1970;
Duarte Tomás Bramão Miranda, Soldado, do Esquadrão de
Cavalaria 1, natural da freguesia de Santa Maria,
concelho de Bragança, tombou em combate no dia 17 de
Julho de 1970;
José Manuel Jorge Matos, Soldado, do Esquadrão de
Cavalaria 1, natural da freguesia de Socorro, concelho
de Lisboa, tombou em combate no dia 17 de Julho de 1970;
Victor Manuel Vieira Silva, Soldado, do Esquadrão de
Cavalaria 1, natural da freguesia de Santa Maria de
Belém, concelho de Lisboa, tombou em combate no dia 17
de Julho de 1970;
Daniel Vicente Viegas, Soldado, do Esquadrão de
Cavalaria 1, natural da freguesia e concelho de Olhão,
tombou em combate no dia 17 de Julho de 1970;
José Manuel Mangas Pereira, Soldado, do Esquadrão de
Cavalaria 1, natural da freguesia e concelho de Ourém,
tombou em combate no dia 17 de Julho de 1970;
António Adão Monteiro Rodrigues, Alferes de
Cavalaria, do Esquadrão de Cavalaria 2, natural da
freguesia de Mato - Salreu, concelho de Estarreja,
tombou em combate no dia 18 de Julho de 1970;
Napalane Jove Alberto, Soldado, do Esquadrão de
Cavalaria 2, natural da freguesia e concelho de Chibuto,
tombou em combate no dia 18 de Julho de 1970;
João Maria Farias, Soldado, do Esquadrão de
Cavalaria 2, natural da freguesia de Sobreira Formosa,
concelho de Proença-a-Nova, tombou em combate no dia 18
de Julho de 1970;
Cumprimentos
Vítor
Baião
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De: João Azevedo
Para: Vitor Baião
Assunto: Re: ECAV 1 e 2 MUEDA 1970
Caro Baião
Confirma-se o que lhe
contei. Os 3 mortos do Esq. Cav. 2 caíram na tal
emboscada no túnel da morte, entre Sagal e Diaca. Para
quem conhece a picada formava uma espécie de dunas
laterais, afundando cada vez que uma viatura passava e
foi assim que introduziram as granadas e as bazucadas de
plano superior. Os três foram vitimas da bazuca, sendo o
Alferes Rodrigues o mais mal tratado.
Mas nos dias anteriores
houve mais mortos. Esta data aqui apresentada deve ser
com diferença de dois ou três dias.
Era o regulamento
habitual. Comunicar à família e só depois publicar ou
noticiar.
Bom Natal.
João Azevedo