

Faleceu, no dia 24
de Outubro de 2014, o
Coronel de Cavalaria António Luís
Monteiro da Graça
18Out1925 > 24Out2014
«... Mas não seria leal para com os
"meus homens", se não denunciasse quarenta anos depois
as causas de tanto sofrimento escusado, que uma actuação
mais humana e mais profissional teria evitado! ...»
Serviu Portugal nas 3 frentes de combate:
Região Militar de
Moçambique:

Com o posto de Capitão, comandou a
Companhia de Comando e Serviços do Batalhão de Cavalaria
163 que esteve aquartelada em Chicamba Real e Vila Pery,
no período de 21 de Julho de 1961 a 31 de Outubro de
1963.

Comando Territorial
Independente da Guiné:
Com o posto de Capitão, comandou a
Companhia de Cavalaria 667 que esteve aquartelada em
Tite e São João, no período de 13 de Maio de 1964 a 26
de Abril de 1966.

Região Militar de
Angola:
Com o posto de Major, foi Segundo
Comandante do Batalhão de Cavalaria 1883 que esteve
aquartelado em Quicabo e Luso, no período de 26 de Abril
de 1966 a 1 de Maio de 1968.

Região Militar de
Moçambique:
Com o posto de Major, foi Oficial de
Operações do Comando de Agrupamento 3950, aquartelado em
Vila Cabral e Vila Gouveia, no período de 19 de
Fevereiro de 1971 a 19 de Fevereiro de 1973

Que a sua Alma descanse em paz.
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Autor do livro:
"Vem
comigo à guerra do Ultramar"

editor:
(o autor)
1ªed. 2007
Apresentação do livro:
- «Para quem não foi à "guerra do
Ultramar", julgo de interesse acompanhar a minha
"peregrinação" pelas três frentes de luta.
Todos os factos foram vividos e evitei "carregar a
parte", misturando acções de luta com outros
acontecimentos. A guerra não é só feita de tiros de um
lado e doutro!
Causou-me muita preocupação, a atitude crítica que me
levou a evocar deficiências de planeamentos e até de
atitudes, sempre com consequências graves para quem
executa.
Mas não seria leal para com os "meus homens", se não
denunciasse quarenta anos depois as causas de tanto
sofrimento escusado, que uma actuação mais humana e mais
profissional teria evitado!

Por mim, tenho a sorte de poder dizer que, o que fiz
"ontem" faria "hoje" exactamente da mesma maneira.»
(O Autor)
Recensão (1):
– «"Vem Comigo à Guerra do Ultramar" - É sob este título
que o Coronel António Luís Monteiro da Graça nos brinda
com uma série de retratos, autênticos e genuínos, como
ele próprio, sobre as suas experiências nas Campanhas em
África.
Percorreu os três teatros de Guerra: Moçambique
(1961/1962), Guiné (1964/1966) [capitão comandante da
CCav677], Angola (1967/1969) e novamente Moçambique
(1971/1973); e das suas experiências, do que viu, ouviu
e sofreu, fala com a generosidade e o realismo de um
Homem Bom.
Nas "páginas em sangue", no dizer de Virgílio Ferreira,
ficam plasmadas situações concretas de profunda
violência, do morrer e viver, do amar e sofrer, de humor
e ternura, de que a Guerra é farta.
Com verdade, tentou espelhar as dificuldades de todo o
tipo sofridas ao tempo em Moçambique; a violência e a
morte, sempre presentes nas "bolanhas" da Guiné e a
tarefa heróica do viver o dia a dia dos combatentes; as
vicissitudes em Angola, nos Dembos e no Leste, onde foi
meu segundo-comandante e tive a honra de ser seu amigo;
e novamente em tempos já muito difíceis em Moçambique,
no Niassa, nas mais diversas actividades de apoio às
populações, que conheceu, estimou e tentou compreender.
Ajuntou a toda esta narrativa opiniões explícitas de
figuras importantes e menores.
Com o recordar da figura ímpar do Coronel Totobola, o
Coronel Alves Pereira (quando foi a enterrar,
anonimamente, como vão os grandes Homens, só o
acompanhámos menos de uma dúzia dos seus milhares de
subordinados), ajuntou relatos do contributo decisivo e
importante dos Soldados na defesa da economia de Angola,
e até às muitas picardias que nos eram propinadas,
deixando um nítido retrato de um tempo que, afinal, foi
o nosso.
Em minha opinião falta-lhe o que deixa subentendido. Por
vezes arredonda palavras e põe água na fervura, como sói
dizer-se, pois é seu timbre ser generoso e até
indulgente. Porém, tal, seria um outro livro!
Pena é que a edição, necessariamente limitada, tenha
sido do Autor.
Por via disso muito poucos terão o privilégio de o ler.
A mim honrou-me com um exemplar, somando-lhe a
dedicatória decorrente de uma "velha" amizade.
Generosidades de um Comandante e de um Amigo.»
João Sena, 16Mai2007,
in
http://senamor.blogspot.com/2007/05/vem-comigo-guerra-do-ultramar.html)
Recensão (2):
Em despretensiosa e limitada, mas cuidada, edição, o
Coronel de Cavalaria Monteiro da Graça veio
transmitir-nos no livro em epígrafe a vivência da sua
demorada passagem de quatro comissões de serviço por
Moçambique, primeiro, Guiné, depois, Angola, a seguir e,
finalmente de novo Moçambique, no período de 1961 a
1973, num relato de estilo aberto, franco, atraente e
bem elaborado no qual as suas verídicas "histórias" o
fizeram certamente viver, ao recordá-las e redigi-las,
tão quatro longos períodos alternados de serviço nos
quais se sacrificou com os seus homens a uma dura missão
e sacrificou também os que deste lado, familiares e
amigos, acompanharam apreensivos e receosos o seu
deambular pelas matas africanas.
Bem haja Coronel Graça. O cuidadosamente composto relato
que elaborou, que vem acompanhado de algumas fotografias
e de esquemas de cartas elucidativos e no qual é patente
a leveza da leitura dos sucessivos acontecimentos que
nele recorda e descreve, arrasta-nos de imediato para a
recordação de muitos aspectos pessoais que nas mesmas
paragens que por esse tempo também tivemos de percorrer
e incute-nos a vontade, é mais um privilégio, de um dia,
imitando o seu labor e beneficiando o conhecimento da
Guerra, também cada um de nós a rememorar e levar esse
conhecimento a todos os que dela voluntariamente se
afastaram, e muitos foram, ou que tiveram por qualquer
outra razão a felicidade de não ter sido empenhados nos
seus duros e sacrificantes eventos.
A Revista Militar felicita o Autor pelo seu sentido
testemunho, cujo exemplar vai enriquecer a sua
Biblioteca, e permite-se lembrar, acompanhando uma
realidade que estará, felizmente a ser hoje mais
habitual, que o seu livro de "memórias", que o é,
deveria ter tido mais lata difusão.
Tenente-General José Lopes Alves, 28Nov2007,
in
http://www.revistamilitar.pt/modules/articles/print.php?id=231

Recensão (relacionada com
a CCav677):
- «O coronel António Luís Monteiro da Graça fez uma
edição caseira das suas memórias referentes às suas
quatro comissões, duas em Moçambique, uma na Guiné e
outra em Angola. Dedica a edição à mulher e à CCAV 677
“por tudo o que sofremos juntos, na Guiné, evidenciando
o valor de todos os seus elementos”.
O coronel Monteiro da Graça que combateu na Guiné entre
1964 e 1966, no setor de Tite, proporciona-nos uma
leitura absorvente pois escreve de modo faceto, traz
recordações avulsas dos seus subordinados, tira partido
das peripécias mais duras de modo positivo, é divertido
e sobretudo guardou uma imagem de profunda humanidade
dos seus soldados.
E explica porque é que dedica estes apontamentos à CCAV
677: foi ele que os formou, combateu a seu lado nas
horas mais duras. “Logo que chegámos à Guiné, ficámos
sem um pelotão, dos quatro que levávamos, por isso fomos
reforçar Fulacunda. Dos três pelotões restantes, muito
cedo ficámos na prática, reduzidos a dois: baixas por
doença e ferimentos em combate. Tive a felicidade de
comandar homens que iam suportando todas as
contingências da guerra com grande espírito de
sacrifício mas eivado de humor e boa disposição que se
prolongaram até aos dias de hoje em que não faltam aos
anuais almoços de confraternização. E o elogio é
extensivo aos nativos que iam connosco e que sempre
foram elementos de grande valor e lealdade, honrando os
compromissos assumidos”. O batismo de fogo foi em 11 de
Junho de 1964, foram flagelados enquanto atravessavam a
bolanha entre Gamalã e Jabadá Beafada. Um apontador de
morteiro feriu-se seriamente, o prato base saltou com a
explosão, levou-lhe um pouco da rótula direita. Cheio de
bonomia fala do médico da companhia, o Dr. Pereira: “Não
tinha qualquer preparação física. Foi mobilizado, teve
duas ou três semanas de instrução em Mafra e lá vai ele
para o mato. Era bom técnico em princípio de vida e
tinha uma tarefa espinhosa. Na primeira operação, um
pouco puxada, o Dr. Pereira não aguentou. E dali não
saía mesmo depois de algum descanso. Houve que fazer um
desvio para evacuar o Dr. Daí nasceu uma guerra entre
mim e o comandante. Este obrigava-me a levar o médico
para as operações. Eu não o levava pois já tinha a
experiência, chatices tinha eu que de sobra. E
analisando bem que fazia lá o médico em caso de
ferimento grave?”.
Em 20 de Junho, lá vão eles para nova operação,
desembarcam em Gã-Chiquinho, não muito longe de
Bissássema, era uma operação à base de Sancorlá, quando
atacaram, já a base estava abandonada, destruíram cerca
de 100 camas, caminharam depois em direção à tabanca de
Dodoco, surpreenderam uma formação inimiga, houve troca
de tiros. Depois, houve complicações na passagem de
riachos, o que os salvou foi terem levado cordas de
sapadores; e mal chegaram a terra firme foram
flagelados. A partir daí, sentiram sempre a presença do
inimigo. Penosamente, e graças ao apoio dos T6 fizeram o
caminho até Jabadá.
É um comandante que reteve as picardias, os azares que
acabaram em bem, as histórias hilariantes, as tais
situações inacreditáveis que polvilham as guerras dentro
da mata, caso da operação “Crato” realizada em 18 e 19
de Julho de 1964, envolveu várias companhias e
destacamentos de fuzileiros, houve complicações com as
marés e
tiveram que recorrer aos botes de borracha dos
fuzileiros para desembarcar na península de Buduco,
descobriram um acampamento, recentemente abandonado,
ainda com a comida ao lume, depois levaram com umas
morteiradas, felizmente sem consequências, logo de
seguida, chovia torrencialmente, deram caras com uma
patrulha inimiga, reagiram e outros fugiram.
Chegou a hora das perdas, das perdas irreparáveis, o
soldado José Zoio foi atingido por uma bala na cabeça,
teve morte instantânea. Morreu também o Ferreira, que
era corneteiro. Escreve com orgulho: “Propus-lhes as
medalhas de Valor Militar, e foram-lhes concedidas”. As
peripécias seguem-se umas às outras, metem abelhas,
dificuldades de abastecimento, soldados a dançar o “vira
do Minho”, uma miúda a chorar no meio de descampado que
foi entregue aos cuidados de uma velhota, igualmente
abandonada no mato pelos guerrilheiros e que disse
conhecer os pais da miúda. Discreteia sobre tudo: o
serviço religioso, a eterna falta de material e
munições, o coronel Laranjeira que fazia o chá das 5
bebendo um Grão Vasco, explica-nos o que é o fanado e as
etnias do setor de Tite (Balantas, Beafadas e Brames). E
aproveita para nos falar do “Penalty”, soldado muito
conhecido na Guiné, guarda-redes suplente do Sporting de
Bissau. Foi uma operação e deram-no como morto. Quando
ele soube da notícia foi queixar-se à 1ª Rep., temendo
que a mãe tivesse um choque, exigiu que lhe dessem
licença para vir a Lisboa. Apanhando-se em Lisboa, o
Penalty nunca mais, corrécio como era, se lembrou que
ainda pertencia à guerra da Guiné. Lá o aconselharam a
ir bater à porta de um protetor, um médico que o deu
como doente, um dia foi ao cais despedir-se de tropa que
ia para a Guiné, meteu-se no barco e voltou à guerra.
O rol de peripécias conclui com uma história hilariante,
a jiboia “empernadeira”, tal como ele escreve: “No
quartel de Tite, na Guiné, havia quatro postos de
sentinela, um em cada canto. Eram postos rentes ao solo,
com cobertura em cibe, com bancos no interior e seteiras
em toda a volta. Os quatro postos tinham um projetor com
que quase permanentemente se inspecionava o arame
farpado que envolvia o quartel reforçado por armadilhas.
A rendição do pessoal de guarda era feita dentro do
abrigo onde se alojavam seis praças e um cabo,
comandante do posto. Certa noite o cabo não gostou que a
praça, no banco onde dormiam, estivesse com a perna
encostada à sua e lá o alertou pois não gostava de
empernanços. O ambiente ficou trovado por causa da
chamada de atenção e porque todos sentiam que havia
qualquer coisa de estranho com as pernas a serem
roçadas. Ao alvorecer, saíram todos aos gritos: era uma
jiboia de cinco metros, meio adormecida, que se
arrastara para dentro do abrigo e provocara toda aquela
história de pernas encostadas. Aparecido o “500”, um
soldado mandinga que estava sempre em tudo o que era
sítio, de catana afiada cortou a cabeça à jiboia,
vendendo mais tarde a pele por uma bela maquia”.»
Mário António Gonçalves Beja dos Santos,
in
blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2013/04/guine-6374-p11399-notas-de-leitura-472