[...]
De seguida, um destacamento militar
fixou-se na aldeia e o jovem Chissóia foi
colaborador dos militares, ficando para
“sempre” ligado à nossa tropa; os seus
conselhos e atuação eram cada vez mais
imprescindíveis. Veio a ser condecorado com
a Cruz de Guerra, por atos heróicos em
combate, e, durante a cerimonia, ouviu do
general que lha colocou no peito:
- Portugal sente orgulho por ter filhos
como tu.
[...]
O Chissóia conseguiu chegar ao comando
militar da zona, onde um “tenente de
barbas”, depois de saber o seu nome, lhe
transmitiu que isso “tinha de acontecer aos
lacaios do imperialismo e traidores do
povo”. O indígena sentiu o mundo cair dos
eixos sobre a sua cabeça; ficou
descoroçoado!
No Comando Militar, ele pensava ser
absolutamente protegido; afinal ouviu do tal
”tenente de barbas” o mesmo que disseram ao
seu pai antes de o fuzilarem:
- Lacaio dos colonialistas.
Ao seu interlocutor, um militar da FAP, o
Chissóia, incrédulo, referiu:
- Mas, no caso do meu pai, os matadores
eram negros… um tenente branco, ao serviço
do Exército Português, não podia dizer-me o
mesmo! Será que já fui riscado do rol dos
portugueses para ser livremente abatido
pelos africanos independentistas?!
[...]
No dia seguinte, ao proceder-se à limpeza
habitual do aparelho voador, alguém
encontrou, por baixo do banco usado pelo
Chissóia, uma Cruz de Guerra com a qual
aquele herói tinha sido agraciado, anos
antes. Tê-la-á perdido involuntariamente? Ou
terá sido abandonada intencionalmente? Só
ele e Deus o sabem.
[...]