
Eduardo Dâmaso
e
Adelino Gomes
título: "Mortos por
Fuzilamento"
autoria: Eduardo Dâmaso e Adelino
Gomes (revista 'Pública', Lisboa 30
de Junho de 1996)
Fonte:
«HISTÓRIA»
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que se seguem:
«MORTOS
POR FUZILAMENTO»

(Transcrição):
MORTOS POR
FUZILAMENTO
FALECIDOS POR FUZILAMENTO
O PAICG prometeu tratá-los com
humanidade. Portugal creditou,
pagou-lhes seis meses de ordenado e
pediu-lhes que entregassem as armas.
Ainda que renitentes, os 27 mil
militares guineenses do Exército
português aceitaram. Mal as
autoridades portuguesas abandonaram
o país, logo o novo poder executou
os primeiros.. Mortes reconhecidas
na sinceridade das certidões de
óbito: “faleceu por fuzilamento”,
diziam. As autoridades guineenses
pós-Luís Cabral falam em 500 mortos.
O jornal “Nô Pintcha” chegou a
publicar uma lista de nomes. Mas os
sobreviventes calculam que pelo
menos um milhar terá comparecido
diante do pelotão de fuzilamento -
alguns em aeroportos e campos de
futebol, diante das populações.
Texto Eduardo Dâmaso e Adelino Gomes
Na Guiné por aqueles tempos de 1975,
falecia-se de fuzilamento e
esboroavam-se nas tardes cinzentas
dos primeiros dias da época das
chuvas os currículos feitos por
algum heroísmo próprios das guerras.
A certidão de óbito de Domingos
Demba Djassi, fuzileiro louvado ao
serviço de Portugal, não deixa
dúvidas de frieza que caracterizava
a forma como a morte desses homens,
africanos que integraram o exército
português, era tratada pelos novos
poderes. Domingos Demba Djassi
“faleceu de fuzilamento”, na
terminologia oficial e burocrática.
E como ele mais algumas centenas.
Ainda a comissão executiva do PAIGC
não tinha ocupado as cadeiras do
poder, em Bissau, no Outono de 1974,
e já alguns dos mais destacados
militares africanos do contingente
português na Guiné começavam a ser
fuzilados. Abdulai Queta Jamanca, um
tenente comando condecorado por
Spínola, foi o primeiro. Jamanca, um
dos mitos da guerra para os
africanos, um príncipe local cujo
tio combateu na Indochina como
coronel do Exército francês,
integrava a Companhia de Caçadores
21, em Babadinca. foi preso numa
horta que possuía no arredores da
sua casa e que era o seu modo de
vida à época, acabando por ser
fuzilado em Babandica.
O destino dos cerca de 27 mil
guineenses que faziam parte do
contingente português na província,
à data de 25 de Abril de 1974,
começou por ser objecto de discussão
no primeiro encontro entre as
delegações de Portugal e do PAIGC,
em Maio e Junho desse mesmo ano, mas
não consta nem do texto principal
nem dos anexos do chamado acordo de
Argel, através do qual a antiga
potência colonial reconheceu o
Estado da Guiné-Bissau. Todavia, foi
num desses encontros das delegações
de Portugal, integrada por Mário
Soares, Almeida Santos, Jorge
Campinos e o general Almeida Bruno,
com a do PAIGC, representado por
Pedro Pires e José Araújo, que a
questão foi abordada.
Almeida Bruno por diversas vezes
recordou publicamente que levava
indicações claras de Spínola:
“Ninguém tocava nos africanos, não
só nos oficiais e sargentos do
Batalhão de Comandos, como nos
comandantes das milícias, que tinham
cerca de 20 mil homens com insígnias
e uniformes próprios”. Intenções
rapidamente desmentidos pelo
vertiginoso curso dos
acontecimentos. Para Almeida Bruno,
resulta claro que o PAIGC aceitou a
integração daqueles militares. Ou na
vida militar ou na vida civil. “Mas
o que aconteceu não foi isso e o
PAIGC fuzilou barbaramente a maioria
dos meus oficiais africanos do
batalhão de Comandos”. E as
informações que possui apontam
também no sentido de o tenente
Jamanca ter sido o primeiro a tombar
ás balas do PAIGC, numa altura em
que já não estava naquele batalhão,
mas nas milícias.
Mas depois tombaram outros que
tinham sido comandados por Almeida
Bruno, que conseguiu fazer sair do
país Marcelino da Mata, o mais
lendário de todos os combatentes
africanos e em torno do qual
florescem as histórias no limiar da
realidade e da ficção. O tenente
Zacarias Saeigh e o
primeiro-sargento Quecumba Camará,
que ganhou três Cruzes de Guerra,
são os nomes mais recordados por
Almeida Bruno. Os comandos
africanos, tropa de elite
responsabilizada na Guiné-Bissau por
cruéis acções da guerra, foram os
mais duramente perseguidos.
A questão preocupou, como é de
calcular, os representantes locais
do MFA, nas semanas que se seguiram
ao golpe de Estado. As companhias
africanas e os soldados milícias
constituíam uma potencial terceira
força que algum falta de tacto
poderia fazer emergir de um momento
para o outro. O Estado da
Guiné-Bissau - autoproclamado em 24
de Setembro de 1973, em Madina do
Boé - obtivera o reconhecimento de
mais países do que aqueles que
mantinham relações diplomáticas com
Portugal, o que constituía um
fortíssimo factor de pressão para
que a transferência de poderes se
realizasse rápida e pacificamente.
“O que aconteceu depois da nossa
saída foi uma traição aos
compromissos assumidos com
Portugal”, explicou: “Ninguém foi
integrado; foram perseguidos e,
pouco depois, começaram a
responsabilizá-los por tudo o que
acontecia de mal no país.”
Logo após o 25 de Abril, os
militares guineenses que combateram
o PAIGC começaram a dar sinais de
inquietação. “Já vi cinco
independências. Acabaram com
militares dependurados. Vão fazer o
mesmo?, perguntou um dos graduados
da companhia de comandos africanos
na primeira reunião que militares
desta força tiveram com
representantes dos ex-guerrilheiros.
Necessitados de garantir um processo
sem sobressaltos - a independência
da Guiné constituía um dado de
facto, que mesmo o general Spínola
acabaria por aceitar -, os
representantes locais do novo poder
em Lisboa procuraram obter do PAIGC,
o compromisso de que nenhuma
represália seria exercida sobre
guineenses que haviam integrado as
forças portuguesas. Tarefa tanto
mais complexa quanto muitos dos
militares mais graduados pareciam
não ter entendido ainda o sentido
dos ventos da História. “Nós, os
futuros coronéis, queremos que o
nosso general Spínola venha cá
fazer-nos a entrega da Guiné”, disse
por estas palavras, ou outras de
significado semelhante, um oficial
nativo ao comandante de uma das
unidades operacionais.
“Os soldados guineenses do exército
português pensavam que viriam a
participar nas negociações entre
Portugal e o PAIGC. Tal qual como a
UNITA”, conta ao PÚBLICO o dirigente
do Movimento Bafatá António Bambá
que, em 1974, furriel miliciano na
Companhia de Caçadores 15,
estacionada em Mansoa, fez parte da
comissão de entrega dos quartéis ao
PAIGC (ver depoimento).
Lisboa dispunha-se a admitir que
quem o pretendesse viesse para
Portugal. A citada reunião de
representantes do PAIGC com os
comandos, porém, correu de tal modo
que nenhum se manifestou empenhado
em sair do território. Ainda que a
contragosto, os comandos deixaram-se
mesmo desarmar, em troca de seis
meses de salário (até 31 de Dezembro
de 1974) e uma guia de marcha que os
mandava apresentar na unidade mais
próxima em Janeiro seguinte.
As promessas do PAIGC - cujo
comportamento humanitário para com
os prisioneiros de guerra funcionava
como penhor de boa-fé - descansaram
o MFA, que, em Setembro organizou,
confiante, a retirada. O comandante
Carreiro e Silva, graduado da
marinha, até há uns meses o adido
militar em Bissau, foi o último
oficial português a pisar o solo
guineense e liderou o processo de
entrega do comando militar de Bissau
às tropas do PAIGC, chefiadas pelo
também comandante “Gazela”. Carreiro
e Silva tinha debaixo do seu mando
um pelotão de Fuzileiros africanos,
em Bolama, e recorda que realizou
várias reuniões com os seus homens
para discutir o assunto e que nenhum
deles colocou a questão de querer
vir para Portugal. a palavra
recebida do PAIGC não prenunciava o
que veio a acontecer.
Todavia, não tinham passado dois
meses e já o antigo tenente Abdulai
Queta Jamanca era morto em Babadinca,
conta outro antigo tenente das
milícias Amadu Ban Bari. “Logo que a
tropa portuguesa saiu, começaram a
assassinar” (ver depoimento). O
PAIGC temia os comandos africanos,
“mesmo desarmados”, diz António
Bambá. A sua execução “foi uma
vingança do PAIGC, que nunca lhes
perdoou terem combatido do lado
português”.
O único jornal existente, o “Nô
Pintcha”, estatal, publicou no dia
29 de Novembro de 1980 uma lista com
os mortos encontrados nas valas
comuns, cuja existência foi
denunciada pelo próprio Nino Vieira,
assim que ascendeu á chefia do
Estado. A lista, que não incluía
apenas comandos africanos e abrangia
também dissidentes do regime
liquidados a tiro, era antecedida de
uma significativa introdução:
“Em seis anos de independência total
da nossa terra, 500 pessoas foram
fuziladas sumariamente, sem
julgamento, e enterradas em valas
comuns nas matas de Cumeré,
Portogole e de Mansabá, Publicamos
hoje, os nomes de algumas pessoas
que foram massacradas pelo regime de
Luís Cabral, pois só as fichas
criminais é que chegaram ao
conhecimento do Conselho da
revolução. Sabe-se que muitos
camaradas das FARP (Forças Armadas
Revolucionárias do Povo, exército do
novo Estado), que discordavam do
regime e das injustiças de que eram
alvo, (...) e antigos comandos
africanos criados pelas autoridades
do colonialismo português na nossa
terra foram mortos pelos Serviços de
Segurança do Governo deposto. São
bem conhecidos do nosso povo os
crimes cometidos pelos elementos dos
‘comandos africanos’ junto das
populações indefesas. Era justo que
fossem julgados e condenados pelos
seus crimes. mas tal não aconteceu.
O regime de Luís Cabral violou
flagrantemente as normas dos
direitos do homem e nenhum comando
africano, nenhum dissidente foi
levado a tribunal. Foram executados
barbaramente no meio das florestas,
contra os mais elementares
princípios da justiça e contra os
princípios do nosso glorioso
partido.”
Os dados disponíveis
para reconstituir objectivamente
como tudo começou e se desenvolveu
são ainda pouco seguros. Há quem se
recuse a falar e os que o fazem
confundem muitas vezes as datas e
parecem obnubilados por um grande
ódio ao PAIGC. Sabe-se que muitos
dos soldados e oficiais, ao
apresentar-se, em Janeiro, nos
quartéis das FARP, foram mandados
para a embaixada de Portugal em
Bissau, onde, minutos depois,
blindados os dispersaram. O então
chefe do Estado-Maior do Exército do
PAIGC, Umarú Djaló apareceu junto à
embaixada portuguesa num dos
blindados e gritou-lhes: “Deviam ter
vergonha por estar ali a pedir
alguma coisa, deviam de ter vergonha
de ter sido comandos!”
Os que não abandonaram o país
cruzando a fronteira para o Senegal,
viram-se pouco depois e uma vez mais
confrontados com o PAIGC, que logo
após o golpe de 11 de Março, em
Lisboa, lançou uma gigantesca
operação de limpeza entre os
ex-soldados comandos e milícias.
“Acusaram-nos de querermos fazer um
golpe. Sem armas? Os soldados
portugueses controlaram a entrega
das armas. Mas ainda que houvesse
desconfianças: onde estavam as
provas? E mata-se sem julgamento?”
pergunta Bari, 20 anos depois.
João Seco Mamadú Mané, fuzileiro
comando, integrado em 24 de Janeiro
de 1972, foi dos que conseguiram
escapar já em 1979 com a ajuda de um
membro do Governo guineense. Em
Lisboa, trabalha numa companhia de
seguros e foi um dos promotores da
criação de uma associação de antigos
combatentes da Guiné, que se reúne
uma vez por mês, num cinema alugado
por 17 contos, precisamente porque
não esquece a revolta desses dias
que passou na prisão e em que afirma
ter visto uma lista de comandos e
milícias africanos, com o carimbo do
Quartel-General das Forças Armadas
portuguesas, que continha os nomes,
condecorações e louvores recebidos.
Contesta a atitude do exército
português ao dar-lhes as guias de
marcha com licença de 142 dias e
prazo de apresentação no Batalhão de
Comandos às 8h00 do dia 1 de Janeiro
de 1975. “No mês de Março de 1975
começaram as prisões. Foi um mês
negro para os comandos. Eu fui
preso. Eu fui torturado.” João Seco
Mamadú Mané diz que, se for
necessário, apresenta testemunhas,
algumas das quais estão em Portugal,
para provar que os obrigaram a
carregar pneus gigantescos, pneus de
Berliet com as respectivas jantes,
ou que foi pendurado pelos pés e
chicoteado até á exaustão. Em Bula
obrigaram alguns dos presos, sem
roupas e envergando apenas umas
cuecas, a andar com os pneus de
Berliet á cabeça. Acusa Benjamim
Correia, um dos militares do PAIGC e
um dos carrascos da segurança,
Fernando Quade.
Foram, de facto, os dias da enorme
revolta que ainda hoje sente, apenas
atenuada quando fala de Nino Vieira,
que exalta, por ter denunciado os
fuzilamentos e acabado com as
perseguições. mas João Seco teve,
entre aqueles dias sóbrios, alguma
sorte, pois não esteve preso seis,
sete, oito anos, como alguns, e
conseguiu escapar dos fuzilamentos.
“Alguns já tinham sido fuzilados e
os familiares continuavam a
levar-lhes comida e cigarros. Às
vezes, os guardas pediam cigarros
para os presos e as famílias
estranhavam, porque sabiam que os
seus familiares não fumavam, Já
estavam mortos!”
Em Lisboa João Seco Mamadú Mané
esforçou-se por criar uma associação
que lhes permita, pelo menos,
resolver a situação de alguns
compatriotas, que se encontram em
Portugal a viver na mais pura
miséria. Alguns deles, condecorados
e com louvores, não têm sequer
autorização de residência em
Portugal. para obter uma consulta no
hospital militar ficam meses à
espera. “Muitos têm, no entanto, os
estilhaços cravados no corpo!”
Mansoa, Bissorã (antiga Teixeira
Pinto), Bula e Cachungo foram
localidades onde ocorreram muitas
das execuções: “Joaquim Baticã
Ferreira, rei manjaco e antigo
deputado à Assembleia Nacional e o
sargento comando Didi morreram num
campo de futebol em Bissorã”,
afiança um dos militares africanos
que pediu o anonimato. Uma
testemunha presencial, prossegue,
contou que ambos desafiaram os
executores. “Sim, eu comprei os
jactos e o outro material todo do
exército português”, terá dito o
primeiro enquanto os segundo
respondia: “Podia falar, mas quero
falar com homens. Tenho muitas
coisas para dizer que ajudariam a
construção da Guiné. mas não. Vou
morrer sem falar.”
Em termos públicos, conclui, “os
assassinatos acabaram com o golpe de
14 de Novembro de 1980”, liderado
pelo actual presidente e antigo
guerrilheiro Nino Vieira. “Mas,
secretamente, continuaram”, acusa,
calculando em mais de mil os
assassinados”. Se continuaram depois
do golpe de Nino Vieira, não se
sabe, mas, que persistiram até muito
próximo dele, isso é certo. A
história da vida do referido
fuzileiro especial Domingos Demba
Djassi terminou aos 51 anos de idade
e tem direito a certificação oficial
lavrada numa certidão de óbito pela
conservatória do registo civil de
Bissau, a pedido da viúva. “Às
dezanove horas e trinta minutos do
dia dezanove do mês de Junho do ano
de mil novecentos e oitenta, em
Bissau, região de Bissau, faleceu de
fuzilamento um indivíduo do sexo
masculino de nome Domingos Demba
Djassi...”
Domingos Demba Djassi fora feito
“herói português” ao receber o
prémio Governador da Guiné. “Debaixo
de intenso fogo do inimigo, manteve
sozinho o remuniciamento do morteiro
e bazuca dum pelotão, tendo para
isso de atravessar várias vezes, a
nado, o rio, porque as munições se
encontravam na outra margem (...)
Tudo em nome do ‘indefectível
portuguesismo’.”
E muitos em nome deste ‘indefectível
portuguesismo’ cumpriram missões
ininterruptas entre 1963 e 1974.
Onze longos e duros anos de guerra
em que se habituaram a seguir na
frente das colunas, como picadores
de minas, ou na frente dos grupos de
combate em missão no mato, como
guias. Bala Sidive cumpriu o serviço
militar entre 1964 e 1974 nos
fuzileiros. Saiu da Guiné-Bissau em
1982, depois de três anos a entrar e
sair das prisões do PAIGC. Hoje,
está vivo por “sorte pura”, já que
foram muitos de entre mais de 300
com quem esteve preso que “partiam
de noite e não voltavam mais”.
Recorda os seus amigos Califa Baldé,
Manuel Seidi, Bacar Djassi..., os
nomes vão-se perdendo na voragem da
memória. Depois de chegar a
Portugal, em 1982, foi ter com o seu
antigo comandante Alpoim Calvão, que
o ajudou a obter uma reforma de
invalidez. Mas deixou toda a família
em Bissau e aí reside agora uma das
suas maiores mágoas em relação ao
Estado português. “Sou português,
tenho os papéis todos em ordem, mas
recusam-me autorizações para trazer
os filhos.” bala Sidive é dos que já
não acreditam nos políticos - “não
bebem água, bebem sangue de pessoas”
- e aconselha o seu amigo Mamadú
Baldé, companheiro de deambulações
perdidas pelos corredores da
burocracia portuguesa, ao mesmo
cepticismo. Mamadú Baldé, também
serviu a tropa portuguesa na Marinha
e conseguiu escapar numa noite de
Novembro de 1975. Apanhou uma
sentinela descuidada e fugiu para o
Senegal, Para Portugal só veio em
1992, por obra dos bons ofícios do
tenente dos fuzileiros Benjamim
Abreu, que lhe fez uma carta de
chamada. Benjamim Abreu tinha sido o
comandante de Mamadú Baldé e
ajudou-o. Mas, quatro anos depois,
ainda não conseguiu uma reforma,
apesar de ter sido ferido em combate
e de ter vários estilhaços no corpo.
Vive à conta de ajudas. Alpoim
Calvão, que foi também seu
comandante, ajuda-o na alimentação,
na roupa e na renda. E ele
passeia-se por Lisboa com a tristeza
de um solitário, porque toda a
família ficou na Guiné-Bissau. Não
compreende: “Se sou português, se
servi esta pátria, porque é que os
meus filhos não podem estar comigo e
ser portugueses?” Boa pergunta. Quem
souber que responda.