Nas décadas de sessenta e
setenta, em plena guerra colonial, os jovens portugueses podiam
“oferecer-se” para a pesca do bacalhau para escapar à guerra
colonial. Através de uma viagem, hoje, a bordo do último lugre
português da pesca do bacalhau – o Creoula –, três antigos
pescadores da grande faina contam as razões das suas escolhas.
Recordam as campanhas de seis intermináveis meses nas águas
geladas dos bancos da Terra Nova e as duras condições de vida e
de trabalho da sua juventude. Seleccionado para o DocLisboa 2010
Estreia Televisiva.
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Fonte:
http://caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt/212935.html?view=214215
Sinopse do filme:
"Durante a guerra colonial
jovens portugueses tinham de escolher entre as forças armadas ou
a frota nacional de pesca do bacalhau. Ao longo de uma viagem no
“Creoula” - o último lugre português da pesca do bacalhau - três
antigos pescadores, sendo que um deles é natural de Aver-o-Mar,
relembram as difíceis condições de trabalho da sua juventude, as
razões das suas escolhas de vida e os constrangimentos nos seus
destinos."
Elsa Sertório
Nasceu em Lisboa em 1956. É
licenciada em Sociologia pela Universidade de Paris VIII, Paris.
Autora e realizadora do
documentário A outra Guerra, produção Kintop. Tem
trabalhado como produtora na Kintop e anteriormente em teatro e
dança contemporânea. Foi produtora executiva dos documentários
Natureza Morta-Visages d'une Dictature e 48.
É autora dos seguintes
livros: Mulheres Imigrantes, com Filipa Sousa Pereira,
editora Ela Por Ela, 2004; Livro Negro do Racismo em
Portugal, Edições Dinossauro, 2001.
Ansgar Schäfer
Nasceu em 1959. Licenciou-se
em Literatura e Língua alemã e Ciências Políticas. Trabalha
como historiador e professor universitário. Co-autor,
co-realizador e produtor do documentário Ein Haus der
Begegnung. 40 Jahre Goethe-Institut Lissabon.
Autor de dois projectos
multimédia sobre a história portuguesa. Produtor dos
documentários Natureza Morta/Visages d’une Dictature
(2005), 48 (2009) e de Luz Obscura, As Lágrimas de
Georgette e A Outra Guerra. Publicou vários
artigos sobre as relações luso-alemães durante a 2.ª Guerra
Mundial em revistas nacionais e internacionais.
Actualmente prepara a sua
tese de doutoramento sobre documentário histórico e a publicação
de um livro sobre os Refugiados Alemães em Portugal.»
«Partir para a guerra ou
partir para a pesca do bacalhau? Já quase ninguém recorda que os
jovens portugueses tinham nesta alternativa uma possibilidade de
escapar aos perigos de um conflito militar em três frentes.
Os pescadores bacalhoeiros
estavam sujeitos a condições especiais, particularmente duras, a
uma disciplina muito semelhante à militar. Quando iniciámos este
projecto, fascinava-nos, em particular, o dilema imposto pelo
regime de os homens terem que escolher entre a guerra colonial e
a pesca do bacalhau.
Iniciámos o trabalho de
pesquisa convencidos de que muitos jovens do interior teriam
escolhido partir para a pesca do bacalhau, por ela ter a
vantagem sobre a guerra colonial de ser um trabalho remunerado e
de gozar da auréola romântica e heróica construída pelo regime.
À medida que nos envolvíamos na pesquisa de documentos e de
testemunhos, fomos descobrindo que a pesca não tinha esse poder
de atracção senão para aqueles que já estavam familiarizados com
o mar. Terá sido porque o recrutamento se fazia apenas nos
centros piscatórios? Terá sido porque aqueles que iam para a
guerra colonial já sabiam que o que os esperava nos bancos do
Norte era algo parecido com uma guerra? A nossa ideia de partida
começava a ser abalada, o que fazia crescer ainda mais a
motivação para fazer deste filme uma oportunidade de
investigação «ao vivo». Pelos relatos que tínhamos ouvido sobre
a pesca nos bancos da Terra Nova, parecia-nos tratar-se
efectivamente da escolha entre duas guerras.
«Sem a guerra, não teria
havido pesca do bacalhau», diz-nos um dos antigos pescadores do
filme. Com efeito, nos anos 50, a PIDE andava pelas praias, a
recrutar à força pescadores para os bancos da Terra Nova. Mas,
quando rebenta a guerra colonial, e perante a escolha que lhes é
imposta pelo regime, são os próprios pescadores que passam a
procurar ser contratados nos bacalhoeiros para «fugir à guerra».
Neste documentário, tomamos
como marcos o início dos anos 60 e o final dos anos 70. É um
período de mudanças importantes na política portuguesa da pesca
do bacalhau, que coincide com o início e o fim da guerra
colonial em África e com um dos grandes fluxos de emigração
também relacionado com a guerra e as suas consequências
económicas e políticas: por um lado, a pauperização de largas
camadas da população; por outro, uma deserção numerosa. Esse
período irá prolongar-se até meados dos anos 70 com a queda do
regime, em Abril de 1974, e o desmantelamento da frota
bacalhoeira.
Damos, no nosso trabalho, um
especial valor aos contributos orais dos protagonistas, com toda
a carga de subjectividade que eles trazem consigo. A história
não se faz apenas a partir dos arquivos. É indispensável que no
reviver desta parte da história portuguesa participem os actores
directos que trabalharam a bordo dos navios bacalhoeiros e que
felizmente ainda se encontram entre nós, hoje, para nos poderem
transmitir as suas memórias.»
Uma boa surpresa a
apresentação deste novo documentário “bacalhoeiro” na Póvoa. É
mais uma dessas pérolas do passado marítimo português que andam
guardadas por aí fora. Será muito interessante ver uma campanha
do "Creoula" ainda durante a Guerra Colonial, provavelmente a
preto e branco, a considerar pelas imagens. Vindo em época
natalícia, permitirá mais uma vez mostrar aos interessados que o
bacalhau desde há séculos foi muito mais que um pedaço de peixe
no prato.
A Outra Guerra, será que
o título condiz? eu estou de acordo e com certeza muitos dos
que passaram por essa vida ,também não discordarão ,até
porque ainda estão vivos muitos dos que passaram por essas
vivencias e como eu, sabem que era assim mesmo ,não havia
alternativa ,ou guerra colonial ou pesca do bacalhau , claro
que quem vivia da pesca preferia ir para o bacalhau sempre
se ganhava algum e tinha mais possibilidades de escapar com
vida ,então entre as duas guerras se escolhia a menos má,
eram tempos difíceis esses ! Cada vês que os pescadores se
juntavam para pedir melhores condições ,logo o Sre Tenreiro
então Coordenador do Gremio do Bacalhau o tal Paizinho dos
pobres enviava a policia DGS antiga PIDE para calar os
pescadores e eu tenho dados concretos como uma vês tive
quase para ser preso e mandado para o Ultramar ,o que quer
dizer frente da Batalha e ,com certeza mais alguns que nunca
estivemos de acordo com as condições de então sobre o pouco
que se ganhava , nessa altura havia duas propostas em cima
da mesa para discutir com o Sre Alves Inspector da Pide DGS
do Porto, o Sre Inspector da Pide pediu 3 pescadores que
estivessem presos a tropa era esse o nome para quem ainda
não tivesse dado as 7 viagens que era de lei livrar a tropa
, então como se negaram os mais novos a ir a presença do Sre
Alves comigo vieram dois dos mais velhos ja livres o Tio
Abraão do Coca já falecido e o Zeca Varandas ,e discutimos
essas duas propostas para as novas viagens do bacalhau
,coisa que o Sre Alves nunca nos deixava fazer ,era falar ,o
homem realmente era feroz diria mesmo escolhido para
amedrontar mas fomos firmes e por dois dias discutimos
,embora ele sempre dizia que os mais novos ião para o
Ultramar o que quer dizer Guerra e os mais velhos presos
,isto era de mais ,por aí se via que ele já nem sabia como
nos virar ,passados uns 10 dias la conseguimos a mísera
vitória ,que era mais 5 coroas como se dizia nessa altura em
gíria por quintal de bacalhau e passar a pascoa com as
familias e então a partir daí irmos com Deus para o bacalhau
,felizmente conseguimos isso ,mas não sem haver uma luta
feroz com o Sre Tenreiro e a PIDE isso tenho eu gravado na
minha Memória ...As minhas vivencias do Bacalhau 1963 a 1969
!!!
De Elsa Sertório
a 4 de Janeiro de 2011 às 18:49
A Kintop tem o prazer de
informar que o documentário A OUTRA GUERRA, estreado em
Outubro no festival Doclisboa, será emitido pela RTP2 no dia
23 de Janeiro, às 21 horas.
SINOPSE
Nas décadas de 60 e 70, em plena guerra colonial, os jovens
portugueses tiveram de optar entre a guerra ou a pesca do
bacalhau.
Através de uma viagem, hoje, a bordo do último lugre
português da pesca do bacalhau – o Creoula –, três antigos
pescadores da grande faina contam as razões das suas
escolhas.
Recordam as campanhas de seis intermináveis meses nas águas
geladas dos bancos da Terra Nova e as duras condições de
vida e de trabalho da sua juventude.
Um filme realizado por Elsa Sertório e Ansgar Schäfer,
produzido pela Kintop