«Fuzileiros,
força de elite», é a terceira e mais recente empolgante
obra literária de Ilídio Neves Luís,
escrita em co-autoria com os antigos e veteranos
combatentes dos Fuzileiros José Manuel Parreira e Mário
Henriques Manso e apresentada na Associação de
Fuzileiros, no Barreiro, pelo engº Couto dos Santos,
também ele antigo «fuzo» e membro de governos
social-democratas e que também promete esgotar.
Recusando
tratar-se de mais uma «obra» sobre a guerra colonial,
Ilídio Neves Luís assegura tratar-se «sim de um humilde
contributo, para trazer à luz do dia, da actualidade,
numa perspectiva isenta, de grande fidelidade, a acção
reconhecidamente preponderante de uma Força Especial de
Elite, os Fuzileiros, narrada na primeira pessoa, por
quem a sentiu e viveu em momentos de grande intensidade
dramática, desenvolvendo a luta armada, em
circunstâncias penosas e difíceis, nos teatros de guerra
mais tenebrosos, que poucos lograram alcançar».
Jorrar
sangue
«Fuzileiros,
força de elite» é escrito por antigos fuzileiros que,
segundo Ilídio Neves Luís, «na pujança da juventude,
protagonizaram episódios fantásticos, sentiram, como
poucos, as indescritíveis sensações da dor, física e
psicológica, nas antecâmaras da morte, cheiraram o
bafiento odor da mata e da bolanha e viram,
desesperadamente, jorrar o sangue do seu próprio corpo».
«Os
personagens do enredo, todos eles muitos novos, mal
saídos da adolescência, tinham, à nascença, o destino
fatalmente traçado», acrescenta o autor, que explica:
«Servir a Nação, desenvolvendo uma guerra cruel e
fratricida, nas longínquas províncias ultramarinas, que
constituíam o Portugal de Além-mar, cujos motivos e
razões ignoravam, na sua verdadeira asserção, era o
destino».

«Tudo
aconteceu, continua Ilídio Neves Luís, numa época
particularmente difícil, onde o subdesenvolvimento se
manifestava numa desesperada luta pela sobrevivência,
através de uma incipiente agricultura de subsistência,
em locais desprotegidos e inóspitos de um país rural e
analfabeto, uma grande percentagem de jovens do sexo
masculino mirava na penumbra da via militar, em regime
de voluntariado, uma hipotética saída para a vida, um
horizonte profissional, longe da escuridão e da
desolação das suas terras».
«Tenras» personagens
Os jovens, à
época, segundo Ilídio Neves Luís, «constituíam um
alimento tenro e rejuvenescedor de um glutão despudorado
e insensível, que se ia saciando à custa do sofrimento e
da miséria de um povo ordeiro e humilde, que, na sua
ignorância, aplaudia, cantando e rindo».
Falando sobre
algumas das personagens, o antigo coordenador superior
da PJ, lembra o «Esquelas, que veio do centro do país,
da esquecida mas verdejante zona dos pinheirais; o Zé da
Vinha, que veio da simultaneamente agressiva e
pachorrenta planície do Alentejo profundo, do domínio do
latifúndio e da exploração salarial; o Naine, que apesar
de reunir algumas condições para ser um pouco mais
afortunado, passou igualmente pelas agruras do
isolamento e da pacatez mental reinante, calcorreando, a
partir do centro do país, as duras veredas de outros
recantos pouco hospitaleiros; e o Xaitinho, como que
desterrado das trevas, deixou as recônditas e agrestes
terras de Além-Marão, onde nasceu para o mundo, entre
diversos animais e inacessíveis desfiladeiros, para se
quedar, desamparado, nas venturas e desventuras de Vale
de Zebro».
Todos eles, de
acordo com o autor, convergiram, certo dia, da primeira
metade da década de sessenta, para a Escola de
Fuzileiros, envolvidos numa auréola de esperança, para
mergulhar, sem saber nadar, num oceano profundo de
ilusões e desilusões, de dor e sofrimento, sem
possibilidades de se agarrarem a qualquer bóia de
salvação, tendo «suportado, estoicamente, as agruras de
uma instrução aniquilante, de sacrifícios
indescritíveis, para se tornarem Fuzileiros de eleição,
guerreiros audazes e destemidos, que marcaram uma
geração, fazendo uma guerra pungente e sanguinária,
através da qual lograram transmitir um verdadeiro
exemplo de coragem, espírito de sacrifício, amizade,
solidariedade e camaradagem».
