Trabalhos, textos sobre a Guerra do
Ultramar ou livros
Elementos cedidos por um Veterano
João Moreira Tavares
Sargento do Serviço de Administração
Militar (especialidade: 602/Finanças), do Exército
Português, desempenhou funções, no âmbito da sua
especialidade no Grupo de Artilharia de Campanha/BMI, no
Batalhão de Informações e Segurança Militar e no
Quartel-General do Governo Militar de Lisboa. Depois de
concluída a licenciatura foi colocado na Secção de
Estudos do Museu Militar, onde passou a desempenhar
funções nas áreas da museologia e da investigação
histórica, desenvolvendo diversos trabalhos dos quais se
destaca a participação na equipa que elaborou o projecto
do Museu Militar de Elvas (11Jan1993-11Mai2001).
Licenciatura em História, concluída no ano lectivo de
1997/98, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da
Universidade Nova de Lisboa.
Mestrado em História dos Séculos XIX e XX (Secção do
Século XX), concluído em 19Fev2003 na FCSH/UNL, com a
dissertação intitulada "A Indústria Militar Portuguesa
no Tempo da Guerra (1961/74)".
Funcionário do Quadro do Pessoal Civil do Exército
(QPCE), a desempenhar funções no Arquivo Histórico
Militar, concretamente desde 15Mar2006 no atendimento
dos consulentes, no tratamento documental e na
preparação e resposta a pedidos de pesquisa.
Investigador do Instituto de História Contemporânea da
FCSH/UNL, desde 30Mar2007 colabora no projecto História
e Património do Grupo PT (promovido pela Fundação
Portugal Telecom) e coordenado pela Professora Doutora
Fernanda Rollo (Set2003-Out2007).
contactos:
tavares.jcm@mail.exercito.pt;
joao-c-tavares@telecom.pt
"Indústria
Militar Portuguesa: no tempo da guerra 1961-1974"
"Indústria
Militar Portuguesa: no tempo da guerra 1961-1974"
autor: João Moreira Tavares
editor: Caleidoscópio
1ªed. Casal de Cambra, Out2005
238 págs
24x17cm
preço: 19,15€
ISBN: 972-8801-79-3
Sinopse
Este trabalho é um valioso contributo para o
estudo do esforço de guerra português neste período,
analisando um dos seus principais sustentáculos: a
indústria militar nacional. Trata-se, pois, de um
retrato da realidade então vivida na indústria militar
portuguesa que ajuda a compreender o seu papel na guerra
e as suas causas de parte das suas dificuldades e
insuficiências actuais.
Introdução
Entre 1961 e 1974, Portugal esteve envolvido
num conflito militar de cariz subversivo, no qual se
discutiu o direito à sua presença em África. Guerra
difícil não só pela sua própria natureza, como também
por ter sido travada em terreno e clima adversos e por
ter decorrido em três teatros de operações distintos e
separados entre si e da metrópole por milhares de
quilómetros; quase trinta anos passados, ainda não se
conhece em pormenor o modo como foi possível a Portugal
- país pequeno e com um reduzido potencial económico e
bélico - suportar tamanho esforço durante treze longos
anos.
Nos trabalhos que têm sido tornados públicos e nas
conferências que têm sido realizadas as atenções têm
recaído invariavelmente sobre as questões estratégica,
política, diplomática e militar. Sobre a sustentação do
esforço de guerra e a sua relação com a economia muito
pouco ou mesmo nada tem sido feito ou dito. Não nos
propomos com este trabalho dar respostas a todas as
perguntas que possam ser feitas nesse campo. Tal não é
ainda possível, pois muito há ainda a fazer para que se
possa atingir objectivo tão lato e ambicioso. Por outro
lado, esse nem sequer é o propósito principal da nossa
tese. O que pretendemos, sim, é contribuir para o estudo
do esforço de guerra português neste período, analisando
um dos principais sustentáculos desse esforço: a
indústria militar nacional. Por vezes, de forma
complementar, abordamos uma ou outra questão
indirectamente a ela associada, o que ajuda também a
compreender como foi possível a Portugal aguentar a
guerra.
Queremos deste modo chamar a atenção para a necessidade
de abrir uma nova "frente de investigação" tão aliciante
quanto aquelas que já foram abertas e que têm vindo a
ser estudadas.

Objecto da tese
Propomo-nos, pois, estudar a indústria
militar portuguesa no período compreendido entre 1961 e
1974. Este é o objecto da nossa tese. Escrevemos
indústria militar e não indústria de defesa ou de guerra
pois é sobre os estabelecimentos fabris sob a tutela dos
três ramos das Forças Armadas (FA) que a nossa atenção
recai. Quer isto dizer que neste estudo apenas serão
analisadas as empresas estatais de carácter militar que
produziam e reparavam bens e prestavam serviços
destinados às FA.
O emprego do termo "indústria de defesa" seria demasiado
lato, pois teríamos de estudar todas as indústrias
capazes de produzir artigos e prestar serviços
necessários ao combate, independentemente da sua
natureza civil ou militar e do tipo da sua produção.
Logo, seria muito difícil delimitar o objecto da nossa
tese, pois quase todas as empresas podem preencher esses
requisitos, desde as ligadas à exploração dos recursos
naturais, aos ramos alimentar, automóvel, farmacêutico e
produção de explosivos, só para citar alguns exemplos.
Utilizar o termo "indústria de guerra" seria demasiado
restritivo, pois esta é apenas constituída pelas
fábricas capazes de fabricar artefactos e mecanismos
susceptíveis de provocarem directamente, por acção de
choque, incêndio ou explosão, prejuízos de diversa ordem
ao inimigo ou então, de produzir engenhos e artigos que,
embora de forma indirecta, favoreçam e auxiliem os
primeiros. Referimo-nos a:
armas, munições, artifícios e certos aparelhos de
medida. Logo, um número sem conta de artigos utilizados
pelas FA seria automaticamente excluído.
Deste modo, os estabelecimentos privados ligados à
produção de armamento e munições ou de outro tipo de
material utilizado pelas FA não serão aqui estudados, a
não ser de forma indirecta, quando por via do exercício
da sua actividade se relacionaram com as empresas
estatais militares. Foi uma opção conscientemente
tomada, não só pela necessidade de circunscrever o
objecto da tese para não nos alargarmos demasiado -
aliás há um limite físico imposto à redacção da tese:
200 páginas -, como também pelas maiores dificuldades de
acesso a fontes que, caso tivéssemos optado por uma
visão de conjunto, teríamos. Gostaríamos igualmente de
sublinhar que com esta opção não há qualquer intenção de
minimizar o contributo do sector privado para o esforço
de guerra, embora se saiba de antemão que, devido às
próprias dimensões do nosso País e à sua reduzida
capacidade industrial, a sua importância não pode ser
comparada à dos estabelecimentos do Estado.
Se, por vezes, possa parecer que nos afastamos um pouco
do objecto da nossa tese, nomeadamente no que se refere
aos limites temporais do período em análise, não é com o
intuito de procurar ser muito abrangente - este trabalho
não é a história da indústria militar portuguesa - nem
de esgotar o tema, mas sim pela necessidade que sentimos
em contextualizar o aparecimento, a organização e o
desenvolvimento desta indústria antes do início da
guerra. Aliás, seria inconcebível falar da sua acção
durante os anos 60 e 70 sem nos referimos às importantes
transformações por que passou na década de 50.
Por outro lado, não é feita qualquer comparação com a
indústria congénere estrangeira, pois aquilo que
pretendemos é analisar o desempenho dos nossos
estabelecimentos fabris militares durante a guerra, o
modo como eles se adaptaram, a forma como eles se
relacionaram com o meio envolvente e as repercussões daí
resultantes para a economia nacional. Assim sendo,
trata-se única e exclusivamente de estudar o caso
português num período concreto da sua história e não de
fazer a sua comparação com outras realidades que todos
sabemos, à partida, que são bem distintas.
Não só pelas maiores capacidades industriais, técnicas e
tecnológicas de outros países, como também pelo seu
envolvimento em conflitos militares ser muito maior e
mais frequente, obrigando a um maior desenvolvimento da
sua indústria de defesa para apoiar umas FA também elas
de muito maior dimensão e muito mais bem equipadas.
Os estabelecimentos aqui estudados são nove, dos quais
sete pertencem ao Exército, um à Marinha e o outro à
Força Aérea. No primeiro grupo inserem-se: a Fábrica
Militar de Braço de Prata (FMBP), a Fábrica Militar de
Santa Clara (FMSC), a Fábrica Nacional de Munições de
Armas Ligeiras (FNMAL), o Laboratório Militar de
Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), a Manutenção
Militar (MM), as Oficinas Gerais de Fardamento (OGF) e
as Oficinas Gerais de Material de Engenharia (OGME). Os
outros estabelecimentos fabris são o Arsenal do Alfeite
(AÃ) e as Oficinas Gerais de Material Aeronáutico
(OGMA).
Inicialmente foram considerados dez estabelecimentos,
pois se incluía também a Fábrica Nacional de Cordoaria (FNC)
pertencente à Marinha. Porém, apesar dos esforços
feitos, não foi possível encontrar a documentação
referente a esta fábrica, pelo que nos vimos forçados a
excluí-la do nosso estudo. Como se trata de um
estabelecimento de dimensão pequena e cuja produção não
era relevante para o esforço de guerra a sua exclusão
involuntária não é grave, nem afecta, de modo algum, a
nossa apreciação e as conclusões a que chegamos.
Sequência da análise
A necessidade de contextualizar o
aparecimento, a organização e o desenvolvimento da
indústria militar antes do início da guerra levou a que
dedicássemos dois capítulos a esse fim. No primeiro -
Organização e Composição - é traçada uma síntese da
origem dos estabelecimentos fabris, das diferentes
designações por que ficaram conhecidos e da evolução que
sofreram até ao final da década de 40. Depois, num
subcapítulo intitulado: Homogeneidade e heterogeneidade
são abordadas as características que os unem e separam
uns dos outros, procurando-os sistematizar e prepará-los
para uma visão de conjunto.
As importantes transformações por que passaram na década
de 50 justificaram, por si só, que lhes fosse
inteiramente dedicado um capítulo por nós designado de:
Nas Vésperas da Guerra - a década de 50. Aí se analisa a
importância da adesão à North Atlantic Treaty
Organization (NATO) e do auxílio dos Estados Unidos da
América (EUA) e da República Federal Alemã (RFA) na
modernização e expansão da indústria bélica nacional,
civil e estatal, e os desenvolvimentos daí resultantes.
O capítulo A Adaptação à Nova Realidade serve para fazer
a transição da década de 50 para a de 60 e da situação
de paz para a de guerra. Nele também são tratados os
contratos feitos pela RFA aos estabelecimentos fabris
nacionais, bem como as principais transformações
ocorridas durante a guerra ao nível das infra-estruturas
e equipamento das fábricas, da sua organização e a
tentativa para estabelecer um órgão de coordenação
superior de toda a indústria de defesa, incluindo
empresas militares e civis,
Depois de estarmos em plena guerra abordamos primeiro,
no capítulo A Subordinação da Gestão Empresarial à
Orientação Nacional, as consequências financeiras para
os estabelecimentos fabris militares decorrentes do
esforço de guerra e da orientação político-militar então
seguida. Vemos de que forma essa orientação penalizou a
acção dos referidos estabelecimentos e colocou, mesmo,
em risco a sua sobrevivência económica. Vemos também de
que modo a sua gestão estava condicionada pela
legislação que os regulava e quanto isso os prejudicou.
Em segundo lugar, no capítulo A Actividade Fabril,
observamos a actividade dos estabelecimentos fabris e as
dificuldades que enfrentaram nos anos 60 e 70.
A Indústria Militar e a Economia Nacional é o último
capítulo dedicado inteiramente à guerra. Nele, numa
primeira fase, abordamos o papel das despesas militares
na economia de um país, referimo-nos ao contexto vivido
em Portugal, nomeadamente às alterações verificadas na
política económica seguida pelo Governo, ao seu impacto
económico-social, à tentativa de coordenação do esforço
de defesa com o desenvolvimento económico e ao debate
político travado em tomo desta questão. Num segundo
momento, observamos de que modo a indústria militar
nacional se relacionou com as empresas civis, a
utilização que fez dos recursos nacionais e de que forma
isso poderá ter-se reflectido na economia portuguesa.
Por fim, terminamos o nosso estudo com O Regresso à
Paz., capítulo destinado a fazer um balanço dos efeitos
da guerra nos estabelecimentos fabris e a relatar as
soluções encontradas para superar a crise que
atravessavam.
outras publicações do autor:
"A Guerra Subversiva – nova doutrina. Forças
Armadas e contra-insurreição" (rev. História nº20
pp.48-55, Dez1999);
"A Indústria Militar Portuguesa: o seu papel na Guerra
Colonial"; resumo da dissertação de mestrado (rev.
História nº63 pp.38-45, Fev2004).
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