Sinopse (do
editor):
O objectivo deste livro é
estabelecer a ligação entre o
esforço de guerra de Portugal na
Guiné e o apoio financeiro que a
África do Sul disponibilizou a
Portugal no início de 1974, no
âmbito do estabelecimento de uma
aliança militar entre Portugal,
Rodésia e África do Sul, com o nome
de código 'Exercício Alcora'.
O apoio da África do Sul no esforço
militar português em Angola
inicia-se em meados de 1967, através
da execução da 'Operação Bombaim'
para garantir apoio aéreo às
operações conduzidas no leste e
sudeste de Angola. O resultado da
operação foi mais modesto do que o
esperado, originando a apresentação
do Plano de Defesa para a África
Austral, sob a direcção estratégica
de Pretória, que viria a originar o
'Exercício Alcora' em Outubro de
1970.
O objectivo de Pretória era garantir
a sua primazia na condução da
estratégia de contrasubversão na
África Austral, em que Angola,
Rodésia e Moçambique desempenhavam a
sua defesa avançada.
Embora estabelecido para a
manutenção do "reduto branco" na
África Austral, o apoio financeiro
resultante do 'Exercício Alcora' e
acordado no início de 1974 entre os
governos de Portugal e da África do
Sul, seria principalmente para
reforçar a capacidade militar das
forças portuguesas na Guiné.
Resumo (dos
autores):
Nos últimos anos da
guerra colonial, o regime português
estabeleceu uma aliança secreta com
os regimes brancos da África do Sul
e da Rodésia, com vista a combater
os movimentos de guerrilha em Angola
e Moçambique.
Com recursos financeiros muito
limitados, Portugal não hesitou em
pedir ajuda à África do Sul que, em
1974, nos concedeu um avultado
empréstimo para financiar a guerra
nas grandes colónias austrais e,
sobretudo, para evitar o colapso
militar na Guiné, onde uma derrota
militar se afigurava cada vez como
mais provável perante uma guerrilha
fortemente armada.
São os meandros desta estratégia que
se pretende traçar neste livro,
tendo como finalidade descrever em
que consistiam e em que contexto é
que ocorreram.
Prefácio
(excertos):
«O livro está organizado
em sete capítulos muito bem
sistematizados, para além de uma
oportuna introdução e de umas notas
finais em jeito de conclusões. O
leitor começa por ser enquadrado por
um cuidado contexto internacional, a
que se segue uma caracterização do
ambiente particular relativo à
Guiné-Bissau.
[...]
O papel da África do Sul, enquanto
actor regional, era desconhecido do
público em geral até à sua
participação activa, já durante a
guerra civil e, em especial, no
período em torno da independência de
Angola.
[...]
As ligações entre o Governo
Português e a África do Sul foram
feitas, maioritariamente, nos
primeiros meses de 1974, nas quais
as questões financeiras e de
material foram centrais no apoio
daquele país a Portugal. As
negociações, tendentes a inverter a
situação crítica na Guiné-Bissau,
foram pouco depois interrompidas,
bruscamente, pelo 25 de Abril de
1974. Num período reduzido em termos
temporais (cerca de três anos), os
autores apresentam-nos alguns factos
e "histórias" relacionadas com
financiamentos, armamento e
equipamentos, como a do famoso
sistema antiaéreo Crotale, que nunca
chegaria a actuar no
teatro-de-operações da Guiné. No
entanto, todas as "histórias" tinham
um enquadramento estratégico e
diplomático, dependente da situação
militar nos diferentes
teatros-de-operações e em especial
no da Guiné-Bissau. Para o Governo
Português, no início de 1974, a
estratégia passava inclusivamente
por conceder a autodeterminação aos
povos africanos, mas depois de
garantidas determinadas condições,
como a vitória militar e o
equilíbrio multirracial. Daí o
esforço no sentido de garantir a
aquisição de material-de-guerra,
mesmo com o apoio de Pretória,
esforço que seria interrompido pelo
25 de Abril de 1974, que colocou um
ponto final ao regime.
Os autores assumem uma tese,
devidamente sustentada, que
justifica o prazer da leitura e da
descoberta, inclusivamente para uma
geração de combatentes portugueses
que deram a vida por Portugal, sem
terem a noção das estratégias e da
diplomacia. Viviam a guerra, sentiam
a guerra e morriam na guerra, sem
conhecer o enquadramento
internacional e mesmo o nacional
(inclusivamente a maioria dos
oficiais). Ao longo de treze anos,
toda uma geração combateu e morreu
(cerca de 900 homens por ano!) para
defender o "seu" Portugal.
Assim, entendemos que este livro
constitui uma homenagem (mesmo que
indirecta) a todos os que tentaram a
vitória militar nos três
teatros-de-operações (Angola,
Moçambique, Guiné), de modo a
facultar as condições para a
diplomacia confirmar a estratégia do
Portugal de então.
É assim, a realidade pura e dura da
história das nações. Há que
respeitar, independentemente da
verdade histórica. Por outro lado,
há que cuidar da verdade histórica,
sem colocar em causa os que deram a
vida pelo seu País. Foi o que os
autores fizeram, de modo cuidado e
pensado, ao longo deste livro.
Entendemos ainda, que este livro
constitui mais um contributo
importante para a valorização das
ciências militares nas suas
diferentes dimensões. Cerca de
sessenta anos depois do início da
guerra em Angola, é altura de se
investigar e discutir o fenómeno da
guerra em África, de modo menos
apaixonado e mais científico.»
(MGen João Vieira Borges)
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