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José Verdasca

 

 

JOSÉ VERDASCA DOS SANTOS Nasceu em Gondemaria, Ourém, Portugal, em 16 de julho de 1936, em uma família de comerciantes, industriais e proprietários rurais. Após o ensino médio, ingressou na Academia Militar. Foi Alferes em Cabo Verde e Capitão em Moçambique, onde comandou várias unidades de combate e foi professor do Liceu de Porto Amélia.

Regressou a Lisboa em 1966, e acabaria por encerrar a sua carreira militar em Agosto de 1967 quando, ao completar oito anos de Oficial e doze de Exército, emigrou para o Brasil.

Desde então reside em São Paulo, atuando nos ramos da pecuária, indústria e comércio de madeiras e construção civil. É piloto aviador desde 1968. Cursou Administração de Empresas, em nível de pós-graduação pela Universidade Mackenzie de São Paulo. Sócio, diretor e conselheiro de várias associações luso-brasileiras.

Autor, entre outras obras, de  "A Casa de Portugal e a Comunidade", "A Língua de Camões" e "Raízes da Nação Brasileira". Sócio Titular eleito do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Sociedade de Geografia de Lisboa.  Cintian Moraes é jornalista - cintian.moraes@yahoo.com.br

Fonte: http://www.vejosaojose.com.br/sorocabagente.htm

 

 

"Memórias de um Capitão (Guerrilha em Moçambique)"

 

Crítica literária por Luís Dantas

Fonte: http://luisdantas.blogspot.com/2008/02/luisdantas1113yahoo_19.html

 

 

Autor: José Verdasca

Edição: 2ª ed

Publicado por : Lisboa: Universitária Editora , 2004

Detalhes físicos: 288 p. ; 21 cm

ISBN: 9727004601

 

José Verdasca escreveu um livro que balança entre a ficção e a história, a geografia e a antropologia, a economia e a política. Os eventos ou os temas trabalhados (As vivências de um Capitão e a guerrilha em Moçambique) são inseridos numa ampla conjuntura cultural. Vários cenários se desdobram através da escrita e das emoções, a começar por Lisboa – a cidade dos anos sessenta com as suas luzes baças, a solidão nas esquinas, os quadros de infortúnio, as descobertas amorosas, a vida sumptuosa nos palacetes da Lapa, os banquetes, as palavras ditas em surdina, a crítica de uma elite liberal – dessa gente com inteligência reflexiva que se desviava cada vez mais do regime político, dos homens que «ocupavam o Parlamento sem nada fazer, discursavam sem nada dizer, e recebiam os polpudos salários sem os justificar e ou ganhar, com o que iam contribuindo, devido a sua criminosa omissão, para que o barco corresse para o precipício» (1) porque a verdade era amarga: «a guerra, criminosa e cruel, continuava a matar, a ferir, a mutilar, quando os mutilados, apenas entre as forças armadas portuguesas, já se aproximavam dos milhares.” (2)

 

Vem depois Moçambique, a chegada do jovem capitão a Porto Amélia, o primeiro olhar em volta. Vê «a maioria de uma população alienada, e em parte escravizada, descriminada social, económica e culturalmente, vivendo na periferia, quase sempre em «musseques», ou bairros do caniço (de bambu) à beira mar plantados, morando em palhotas de bambu, cobertas de capim, (...) sempre mantida à margem do progresso, desconhecendo o conforto, e afastada da mais elementar participação comunitária» (3). A força do testemunho revela a ideia, a inteligência, a sensibilidade do homem e do militar. O Capitão sabe que já é tarde para se solidarizar com as propostas renovadoras de Paiva Couceiro ou de Norton de Matos. Quase nada se fez após a queda da monarquia e da primeira republica e os tempos são outros: «os povos africanos, naquela altura, já tinham, principalmente, a inabalável disposição de – por todos os meios ao seu alcance - chegar à tão desejada independência política, sempre sonhando com a liberdade.» (4) Abriam-se as portas do futuro, dos dias de amanhã: «só ignorava esse fatal destino quem desconhecia a história, quem não sabia que, no mundo em que vivemos, tudo é redondo, esférico, cíclico, periódico». (5) Por isso, o memorialista não se compadece com a marcha absurda da política colonial, com a mentalidade e o comportamento da administração local: «era, quase sempre, caracterizada pela incompetência, pela boçalidade, e pela prática de injustiças, normalmente a favor das grandes companhias, que exploravam a mão-de-obra nativa, mas gratificavam os administradores, que a recrutavam». (6) Lembra a repressão sobre os makondes em Mueda, Junho de 1960, quando reclamavam da falta de água – lembra esse facto e deixa uma observação flagrante: «era de esperar que os makondes tivessem aderido, em massa, à organização política e guerrilheira Frelimo, fundada no Tanganica em 1962, e implantada em 25 de Setembro desse ano, na capital – Dar El Salam. Nesse caso, não poderíamos ter quaisquer dúvidas de que – muito em breve – a guerrilha iniciar-se-ia em Moçambique, no Planalto dos Macondes, região que reunia as melhores condições para tal, porque de vegetação densa, e de difícil acesso.» (7) E foi o que veio a suceder. «Na madrugada de 25 de Setembro de 1964, o capitão Daniel (o herói na ficção) foi acordado e chamado ao gabinete do comandante do batalhão, para – após um breve, incompleto, e pouco profissional relato do ataque efectuado por guerrilheiros ao posto administrativo do Chae, nessa mesma madrugada – receber a seguinte ordem (sic): reúna metade da sua companhia, a dois pelotões, junte-lhe os serviços necessários – secção de transmissões, cozinheiros, enfermeiro, e outros serviços – e siga o mais rapidamente para o Posto do Chae». (8) Cumpre estas ordens e lá vai, mas deixa muitas outras por cumprir porque se movimenta com os seus homens em busca de soluções para contrariar «a maldita cultura da guerra, que a todos ensina a prática da destruição e da violência, da brutalidade e da morte, a transformar cérebros e corações, e a perpetuar o que de mais condenável existe à face da Terra”. (9)

 

As «Memórias de um Capitão» não se confinam apenas a evocar os eventos do passado e do presente, a promover o reencontro do homem com a experiência de um breve período da sua vida e com o cosmos em que esta se inscreveu – elas erguem o pendão da paz, iluminam os valores humanos que são fundamentais para dar dignidade à vida quotidiana dos homens em sociedade.

 

NOTAS

 

(1) José Verdasca, Memórias de um Capitão, Universitária Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2004, pg.100

(2) José Verdasca, Memórias de um Capitão, Universitária Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2004, pg.100

(3) José Verdasca, Memórias de um Capitão, Universitária Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2004, pg.143

(4) José Verdasca, Memórias de um Capitão, Universitária Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2004, pg.137

(5) José Verdasca, Memórias de um Capitão, Universitária Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2004, pg.138

(6) José Verdasca, Memórias de um Capitão, Universitária Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2004, pp.180-181

(7) José Verdasca, Memórias de um Capitão, Universitária Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2004, pg.176

(8) José Verdasca, Memórias de um Capitão, Universitária Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2004, pg.188

(9) José Verdasca, Memórias de um Capitão, Universitária Editora, 2.ª Edição, Lisboa, 2004, pg.216

 

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(*) Entrevista ao jornal "O Mirante", edição 07Jul2011

 

Fonte: http://semanal.omirante.pt/index_access.asp?idEdicao=503&id=75936&idSeccao=8241&Action=noticia 

 

José Verdasca dos Santos nasceu no concelho de Ourém e fez fortuna no Brasil onde preside à Ordem Nacional de Escritores
 

O homem de negócios que se tornou um homem de letras
 

A família Verdasca tem nome e a sua história mistura-se com a história do concelho de Ourém. José Verdasca dos Santos é apenas mais um dos muitos descendentes de uma linhagem antiga e que fez crescer uma parte do município. Mas este filho de terras oureanas há muito que deixou a aldeia que o viu nascer, a Gondemaria, e é no Brasil que tem feito o seu percurso profissional e literário. É presidente da Ordem Nacional de Escritores, tendo ainda diversa obra publicada sobre a História dos portugueses no Brasil.


José Verdasca dos Santos passou a correr por Ourém por estas semanas, como é seu hábito nas visitas que vai realizando à terra natal. Desencontrados no espaço, a conversa teve em Lisboa o seu cenário, bem longe da Gondemaria dos anos 30, de Fátima do Pará (Brasil) ou dessa África de 60, quando se arrancou em diferentes frentes com a guerra colonial. Saudosista e conhecedor de perto das peripécias que marcavam a guerra em África, José Verdasca dos Santos vai lembrando episódios e explicando as circunstâncias que conduziram ao seu pedido de abandono da vida militar e à partida para o Brasil.


Nasceu em 1936. O pai, José Lopes dos Santos, era um grande comerciante da época, responsável pela ascensão da Gondemaria a freguesia. A mãe, Maria Ferreira Verdasca, era a filha do então conhecido proprietário de uma serração em Ourém. Família abastada, “dona do concelho”, como refere rindo, foi o seu nome, conforme reconhece, que lhe abriu as portas na vida militar.

 
Recorda a infância e a então Vila Nova de Ourém dos tempos em que fazia oito quilómetros a pé diariamente para frequentar o liceu. Na sua juventude, como ajudante do padre da paróquia adquiriu outros conhecimentos que a escola não proporcionava, comentando que ali aprendeu o latim e o grego que mais tarde lhe foram muito úteis na sua obra. Partiu depois para Lisboa, onde ficou alojado na casa de um antigo presidente da Junta de Freguesia da Gondemaria, Carlos Vieira dos Reis.
A entrada na Academia Militar foi uma oportunidade só possível pelo peso do nome da família, recorda. Mas mesmo assim, e apesar de ter privado e se ter tornado grande amigo do general Silvino Silvério Marques, foi recusando a possibilidade de ascender a cargos mais elevados. “Era um miúdo, pouco mais de 20 anos”, recorda, contando como se negou a tornar-se administrador da Ilha do Fogo, em Cabo Verde, entre outros cargos de prestígio.


Já capitão, esteve em Moçambique, onde a “irresponsabilidade e a incompetência” dos que dirigiam a guerra o fizeram regressar a Portugal, desiludido com os desenvolvimentos do conflito. Recusou tornar a partir em campanha e pediu a demissão, inicialmente recusada. Em 1967 foi novamente mobilizado. “Passei a fronteira e de lá mandei telegrama a dizer que não voltava a Portugal e que queria sair de cabeça levantada”. Amado pelos escalões mais baixos, odiado pelos superiores, acabou por conseguir a demissão e partiu para o Brasil.


“A minha vida empresarial foi relativamente fácil. Tinha acumulado, ganhava bem e sempre soube administrar”. Em São Paulo (Brasil), actuou nos ramos da pecuária, indústria e comércio de madeiras e construção civil. Foi piloto aviador, tendo tirado ainda um curso de administração de empresas. “A vida materialmente correu-me bem, até que me comecei a virar para as letras”.


José Verdasca dos Santos é sócio, director e conselheiro de várias associações luso-brasileiras e autor, entre outras obras, de “A Língua de Camões”, “Raízes da Nação Brasileira” ou “Memórias do Capitão”. É ainda sócio titular eleito do Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo e da Sociedade de Geografia de Lisboa, além de presidente da Ordem Nacional de Escritores. É cavaleiro-comendador da Ordem Católica de S. Miguel Arcanjo.

 

“Há fortunas colossais” entre os emigrantes de Ourém


O concelho de Ourém está muito diferente desde que partiu em 1967?


A Gondemaria tem menos população. No meu tempo a Gondemaria era auto-suficiente. Todo o quintal tinha coelhos, galinhas e toda a gente tinha a sua junta de bois. A Gondemaria era muito rica. Já Ourém não é Ourém. Eu conheci Vila Nova de Ourém de 1500 habitantes. Hoje nem sei quantos tem. No meu tempo as freguesias eram mais pujantes. Ourém era uma aldeia. O prédio mais alto era o hospital. Era a câmara e o hospital. Hoje é uma cidade, as infra-estruturas estão fantásticas.


Como é que os ourienses que estão lá fora vêem Ourém e Fátima?


Eu sou da Academia Cristã, da Ordem Nacional de Escritores, entre outras, e tenho gosto em falar nessas coisas. Encaro Ourém e Fátima pelo lado intelectual, mas também pelo lado comercial e pelo lado promocional. Sei que Ourém se vai geminar com Campinas (Brasil), mas não sei se a população de Campinas o sabe. Eu vejo Ourém com uma potencialidade fantástica. Sabe, o brasileiro que mais ama Portugal é o mais instruído. Todos os meus amigos vêm a Portugal. Mas eles vêm, fazem uma excursão, vão a Óbidos, a Fátima, e perguntam: e a tua cidade? Não conhecem. Temos os castelos que são únicos, explorem aquilo! Tivemos ali a Sé Colegiada. Os meus amigos voltam desiludidos. Perguntam “Onde fica Ourém?”. Não consta dos roteiros. Devia ser Ourém-Fátima, à semelhança de Leiria-Fátima. Ponham isso nos roteiros. Ponham a marca Ourém-Fátima nos produtos, no azeite, no vinho, nos dinossauros, no Agroal, nas quintas. Ourém-Fátima, aproveitar essa ideia. O mundo vive à custa de boas ideias.


Como implementar essa marca?


Começaria por agregar Ourém e Fátima. O Santuário e os Castelos, aproveitando a Sé Colegiada. Dinossauros, património cultural, as grutas. Temos tanta coisa…


Há vontade de pessoas como o senhor, emigrantes, de investir no concelho?


Eu acho que pelo menos se deveria fazer um cadastro dos emigrantes do concelho. Verdascas somos mais de mil. Fazer um cadastro e de vez em quando chamar um. Há fortunas colossais. O Brasil, pelos meus cálculos, tem 33 milhões de portugueses. Os emigrantes são a grande mais-valia, somos uma potência.


Tem seguido a evolução política e social de Ourém?


Sim. Eu peco sempre por excesso. Sempre fui intelectualmente muito curioso. Sou assinante de jornais de Ourém, vou-me informando também pela Internet. Eu ofereci a minha biblioteca ao município, uma biblioteca de 5 mil volumes. Acompanho Ourém e todas as suas evoluções políticas.


Como encarou a mudança à esquerda nas últimas eleições?


Não encaro a minha terra pelo partido político que a governa. Quero sempre ver a minha terra com progresso. A minha terra é Portugal e dentro dele Ourém. Essa história de ir para a esquerda ou direita foi uma consequência do descalabro da economia e da finança. No que toca à Câmara de Ourém, li algures que os novos paços do concelho ficaram com uma dívida muito grande, mas não estou dentro dos pormenores.


Sente-se ribatejano?


Uma vez escrevi um artigo intitulado “Santarém ou Leiria?”. Eu disse: Leiria. Porque são 20 quilómetros e para Santarém são 60. Temos mais ligações a Leiria. Mas eu sinto-me basicamente português e faço o meu papel com muito gosto.


E sente-se mais brasileiro ou mais português?


Sempre mais português. Não tenha a menor dúvida. E se estou na presidência da Ordem Nacional de Escritores é porque recitei muito no Brasil, mas continuo a ser português. Fui quase obrigado e há muitas academias a que pertenço que me torno sócio quase sem saber.


Nunca pensou em deixar o Brasil?


Como é que dá? Fui para o Brasil e lá constituí família, todos brasileiros.


Tem negócios em Ourém?


Em Ourém herdei muitas coisas dos meus pais, algumas ainda tenho. O IC9 cortou-me uma propriedade.


Que projectos gostava de desenvolver em Ourém?


Gostava de ajudar a fundar a Academia Oureana de Ciências, Letras e Artes. Gostava de juntar ali o Sérgio Ribeiro e outros artistas, intelectuais, poetas, escritores, músicos e fundava-se uma academia oureana. Ourém merece uma Academia. Vou falando da ideia a algumas pessoas, mas ainda não se proporcionou.
 

 

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