Texto:
						
						 
						
						 
									
									"Ao Coronel Raul 
									Folques ..."
									 
									
									Ao Coronel Raúl Folques
									
									No meu percurso militar que ocorreu entre 12 
									de Janeiro de 1971, até 15 de Agosto de 
									1974,
cruzei-me com várias personalidades. É 
									realmente certo que algumas, face à sua 
									postura, impecável, tanto no aspeto humano e 
									militar, merecem ser relevadas. 
									 
									
									Um desses casos é o Coronel 
									Raúl Folques. 
									 
									
									Na verdade, o seu passado 
									militar fala por si, já dono de algumas 
									condecorações, foi hoje condecorado com a 
									distinção mais alta concedida a um militar 
									que muito mereceu. A partir de agora o 
									Coronel Raúl Folque é Oficial da Ordem 
									Militar da Torre Espada com Palma. 
									
									 
									
									
									 Quando 
									entrei na tropa, as suas façanhas eram 
									sobejamente conhecidas, sobretudo as duras 
									pelejas passadas em Angola. Só por isso já 
									era digno da minha admiração. Todavia, foi 
									uma simples atitude do então Capitão Raúl 
									Folques, que fez elevar mais a minha 
									consideração e apreço por este digno 
									militar.
Quando 
									entrei na tropa, as suas façanhas eram 
									sobejamente conhecidas, sobretudo as duras 
									pelejas passadas em Angola. Só por isso já 
									era digno da minha admiração. Todavia, foi 
									uma simples atitude do então Capitão Raúl 
									Folques, que fez elevar mais a minha 
									consideração e apreço por este digno 
									militar.
									
									
Era eu um simples soldado instruendo do CSM 
									que, entre Abril e Junho de 1971, com muitos 
									outros camaradas, se encontrava no CISMI, em 
									Tavira, na fase de especialização. O Capitão 
									Raúl Folques era o Comandante de Companhia 
									da Formação (CCS), acho que exercia, também, 
									as funções interinas de 2º Comandante do 
									CISMI. Certo dia e já fartos das refeições 
									com pouca qualidade que nos eram fornecidas, 
									de uma forma que não foi combinada, as 
									Companhias de Instrução decidiram mesmo 
									depois de cumpridas todas as praxes, não 
									avançar para o almoço, não obedecendo por 
									isso à ordem do Oficial de Dia, que lhe foi 
									transmitida pelo clarim do soldado 
									corneteiro. O Oficial de Dia era o Capitão 
									Raúl Folques. Este estranhou o facto de os 
									soldados em parada se encontrarem imóveis. 
									Nestes termos assomou à janela do gabinete 
									do oficial em serviço. Imediatamente um dos 
									camaradas que se encontrava na frente pediu 
									permissão para falar. Autorização concedida, 
									pelo que, este camarada alude ao Capitão 
									Folques as razões da atitude inesperada e 
									estranha de desobediência. Realmente 
									tratava-se de um protesto sobre a 
									alimentação, foi adiantado que já nos haviam 
									servido peixe podre e nesse dia ia ser 
									assim. Os carapaus já fediam antes de irem 
									para o tacho. Ouviu calmamente a queixa e 
									determinou que a formação se mantivesse, 
									após dirigiu-se ao refeitório para confirmar 
									ou não, as suspeitas apresentadas. Foram 
									minutos de suspense, a disciplina militar 
									havia sido posta em causa, não obedecer 
									imediatamente a uma ordem vinda de um 
									militar com um passado notável, aliás com 
									uma aura brilhante. A nossa atitude podia 
									ser punida fortemente. Realmente, pouco 
									tempo depois, o Capitão Folques, regressou 
									do refeitório, mandou destroçar a formação, 
									avisando que voltaria a formar daí a uma 
									hora. Não nos deu qualquer satisfação.
									
									
									Soubemos após que mandou toda a refeição 
									para o lixo e determinou ao vagomestre que 
									preparasse outra, os carapaus fedorentos 
									foram substituídos por ovos e salsichas. 
									Esta atitude, na época, não era tomada por 
									qualquer um. O Capitão Folques, não obstante 
									ser um militar de elite era também um 
									humanista, sabia conjugar perfeitamente essa 
									duas virtudes sublimes que o caracterizam, 
									esta atitude é sinónimo do que afirmo.
									
									 
									
									Bem haja Coronel Raúl 
									Folques.