TRABALHOS, TEXTOS
SOBRE OPERAÇÕES MILITARES ou LIVROS
Imagens e texto enviado por
um Veterano
Luís Nuno Rodrigues
Bibliografia
"Spínola"
"Spínola"
autor: Luís Nuno Rodrigues
editor: Esfera dos Livros
1ªed: Lisboa, Mar2010
23,5x16cm
744 págs (e 28 extratextos)
preço: 28 €
ISBN: 989-626-208-2
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1538621
Centenário
Mandos e desmandos do marechal Spínola
por João Céu e Silva
António de Spínola faria cem anos no próximo domingo.
Hoje, é apresentada na Fundação Mário Soares, pelas
18.30, a biografia do historiador Luís Nuno Rodrigues
sobre o marechal, uma das figuras centrais da guerra do
Ultramar e da política pós-25 de Abril.
Na primeira das 750 páginas da biografia de Spínola
recentemente publicada relata-se o episódio acontecido
em Angola a 24 de Abril de 1962, quando uma coluna do
Batalhão de Cavalaria 345 é vítima de uma perigosa e
fatal emboscada por parte do movimento nacionalista de
Holden Roberto. Quando o comandante do 345 sabe da
quantidade de mortos e feridos, toma imediatamente uma
decisão, a de passar a participar de todas as operações
do seu Grupo de Cavalaria. O comandante é António de
Spínola, o oficial de cavalaria que não largou o seu
pingalim nem o camuflado durante quase toda a vida.
Este episódio é o primeiro de um texto denso de
pormenores que resulta da grande investigação realizada
pelo historiador Nuno Rodrigues e que se torna a
primeira grande biografia do marechal que marcou o rumo
da Guerra Colonial pela estratégia, ditou o fim do
regime de Caetano com o livro O Portugal e o Futuro e
definiu o período pós-25 de Abril com a sua polémica
liderança.
A biografia possui apenas uma palavra no título:
Spínola. Mas o conteúdo reabre pela primeira vez o
dossier sobre uma das personalidades que mais marcaram a
década de 70 e cujo rosto chegou a ser uma das poucas
capas que um português fez na revista norte-americana
Time, tal a sua importância no panorama geopolítico de
uma Europa - e do mundo - em plena convulsão.
Tratando-se de uma profunda biografia, Spínola dá-nos um
retrato muito completo da sua vida, desde o nascimento -
11/04/1910 - até à sua morte - 13/08/1996 -, sem
esquecer a posteridade. Dividido em nove capítulos, o
investigador inicia com o período formativo do futuro
marechal e termina com o "Descanso do guerreiro". Fá-lo
sob uma narrativa que caracterizará todo o texto, ou
seja, qualquer leitor poderá ler esta obra de um fôlego,
pois a dosagem entre factos, acção - até mesmo aventura
- e história está balançada entre o rigor
historiográfico e a biografia.
Principalmente, Spínola mostra como se formaram as
lideranças militares que adiaram a perda das províncias
ultramarinas por Portugal e, ao mesmo tempo, explica em
pano de fundo o modo do viver político, social e
económico português durante quase todo o século em que o
marechal viveu. Grande parte da obra analisa a questão
militar e o seu posicionamento face a uma guerra
perdida, outra o regresso de Spínola da Guiné, a
intervenção política e o desejo de substituir Américo
Tomás como presidente da República, tal como o seu papel
intrincado no 25 de Abril e as "Batalhas perdidas" no
Verão Quente que o obrigaram ao exílio.
Entre as conclusões a reter está o facto de Spínola
nunca ter sabido dizer não à pretensão de ficar na
história. O que definiu o homem e o militar, os mandos e
desmandos também.
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Entrevista com Luís
Nuno Rodrigues
"O arquivo pessoal
colocou novas questões"
Revelação. A
existência de um amplo espólio pessoal fez que a
investigação do historiador ganhasse novos contornos.
Depois de um trabalho biográfico sobre o general Costa
Gomes, a opção foi o marechal Spínola, uma das
figuras-chave pós-Revolução dos Cravos. A experiência
pessoal e militar é passada em revista e explicados os
contornos de uma personalidade muito polémica.
Para fazer uma biografia é preciso sentir empatia com
o biografado?
Não necessariamente. Antes ter interesse em conhecer
a personagem, reconstituir o percurso, justificar as
suas decisões e opções, as atitudes em determinado
momento. O historiador biógrafo deve colocar de lado os
seus "estados de alma" relativamente aos actores
históricos sobre os quais se debruça.
Há sempre dificuldade na consulta de fontes. Como foi
com Spínola?
Felizmente nos últimos anos algumas das mais
importantes fontes documentais para estudar o século XX
têm vindo a ficar disponíveis, desde o Arquivo Salazar,
aos diversos arquivos militares, ao Arquivo
Histórico-Diplomático, por exemplo. Neste caso, as
fontes eram abundantes e existe amplo espólio pessoal
cuja consulta foi autorizada.
Sentiu pressões por parte de quem deu testemunhos
para melhorar ou piorar o retrato do biografado?
De maneira nenhuma. Um facto que me surpreendeu, uma
vez que entrevistei sobretudo pessoas que trabalharam de
perto com Spínola. Os entrevistados souberam distinguir
entre a relação pessoal e profissional e alguns deles
não hesitaram em apontar traços que menos lhe agradavam
na personalidade do marechal. Não senti nem as
admitiria.
A opinião dos militares de Abril era diferente da dos
do anterior regime?
Essa é uma distinção difícil de fazer pois os
militares de Abril já o eram no anterior regime e alguns
tinham estado com Spínola na Guiné e tinham uma opinião
muito favorável. As diferenças estavam já presentes no
próprio MFA antes do 25 de Abril, vindo a agravar-se
depois da mudança de regime.
Encontrará mais documentação que obrigará a
actualizar esta biografia?
É sempre possível que se venha a encontrar mais
documentação. Diria mesmo que é desejável mas, em última
análise, mesmo que não se encontre nova documentação,
todo o trabalho histórico é susceptível de ser
actualizado ou revisto. As mesmas fontes históricas
podem ser interpretadas de modo diverso por
historiadores diferentes.
Este livro alterará a visão que sobre Spínola?
Desejo sinceramente que contribua para uma visão
mais completa e global de quem foi uma das figuras
cimeiras da história de Portugal no século XX. É
necessário ter em conta que, para toda uma geração
abaixo dos 40 anos, Spínola não foi um "contemporâneo"
que tenham acompanhado nas notícias e nos jornais.
Havia no general Spínola preocupação com as atitudes
e o espólio relativamente à sua posteridade?
Certamente que sim, como julgo que deve existir na
generalidade das figuras que são chamadas a desempenhar
altos cargos políticos e militares. A dimensão do
arquivo pessoal é disso um bom testemunho.
Acha que os portugueses têm interesse em biografias
de protagonistas que ainda estão muito presentes na
memória?
O marechal desapareceu da cena política em 1976 e
quem tivesse nessa altura 10 anos pouco saberá do seu
papel. Senti isso quando publiquei o anterior livro
sobre o general Costa Gomes através de reacções de
alunos abaixo dessa faixa etária. Para as gerações
seguintes, que viveram os acontecimentos trepidantes dos
anos 1960 e 1970, julgo que biografias de personagens
como Spínola serão extremamente atractivas, nem que seja
pelo sentimento de estar a reviver acontecimentos
anteriormente presenciados.
Considera que o género biografia já atingiu a
maioridade em Portugal com o que se tem publicado?
Durante alguns anos as biografias históricas caíram
em desuso, uma vez que tendiam a ser identificadas com
obras apologéticas das personagens biografadas. Julgo
que a historiografia portuguesa já soube ultrapassar
esse problema e que nos últimos anos têm surgido no
panorama editorial português um conjunto muito
significativo e de grande qualidade de biografias
escritas por historiadores. Estou a lembrar-me, por
exemplo, do conjunto de biografias de reis de Portugal
editadas nos últimos anos. Hoje em dia é um campo em
franca expansão.
O facto de o biografado ser de um passado recente
inibiu-o na escrita?
Não, de maneira nenhuma. Procurei escrever sobre
Spínola como se escrevesse sobre uma personagem
histórico do século XIX ou XVI e de forma independente
das minhas opções políticas enquanto cidadão. Julgo
tê-lo conseguido.
Já tem uma experiência anterior com Costa Gomes. Qual
dos dois lhe deu mais satisfação investigar?
António de Spínola deu-me mais satisfação pelo facto
de dispor de um corpus documental de fontes primárias
muito mais abundante. É completamente diferente
biografar uma personagem quando se dispõe do seu próprio
arquivo pessoal, amplo e completo, porque somos levados
a colocar questões que inicialmente não tínhamos
considerado.
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