

Manuel Pedro Dias
ex-Furriel Miliciano
Companhia de Caçadores 1559
Batalhão de Caçadores
1891
Moçambique 1966/1968
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Trabalhos e
Livros
"Silêncio"

AOS LEITORES
O
conflito armado que eclodiu no Ultramar português no
início da década de 60 e que se manteve durante 13
longos anos, provocou, na grande maioria da sociedade
portuguesa, profundas feridas que ainda hoje, muitas
delas, se encontram por sarar.
Não foram só os cerca de 9 000 mortos, bem como os
milhares de feridos, as únicas vítimas daquela guerra
indesejada aliás, todas o são.
Há que levar em linha de conta as famílias daqueles
militares que, de modo diferente, também sofreram as
agruras provocadas pela ausência dos seus entes
queridos, em cujas condições e perigos em que viviam
lhes eram totalmente desconhecidos. A angústia estava
sempre presente: Foram as mães, as eternas e sempre
sofredoras mães, acerca das suas condições de
“guerreiras” de retaguarda já muito, felizmente, foi
escrito, nós próprios o fizemos por diversas vezes; as
esposas, muitas delas já com filhos, quando os maridos
partiram, enfrentando de forma estoica a sua ausência,
que, infelizmente, em muitos casos foi eterna; as
noivas, sobre estas muito pouco se tem falado e o que
foi dito, logo no início da revolução dos cravos, por
pseudo escritores vanguardistas, era para atingir a sua
honra, rotulando, a grande maioria, de infiéis.
Sempre nos insurgimos contra esta tremenda injustiça,
quer em artigos que escrevemos em revistas da
especialidade, quer ainda verbalmente nas várias
tertúlias em que temos participado.
É do conhecimento geral que durante o período atrás
referido a juventude masculina era praticamente toda
mobilizada para combater nas três frentes de batalha:
Angola, Guiné e Moçambique. Mas este factor, em nosso
entender, não era condição “Sine qua non” para que a sua
ausência fosse sinónimo de infidelidade por parte das
mulheres. Nos dias de ontem, de hoje e de sempre, as
“traições” existiram e continuarão a existir, não só por
parte das mulheres, mas também dos homens, porque,
então, confiná-las a um período específico? Pura
maldade.

Foi ao voltar a ler essas injustas maledicências que nos
ocorreu a ideia de enaltecer essas jovens que, de forma
séria, souberam esperar, também com privações de muita
ordem, pelos seus namorados ou maridos e também aquelas
que por infortúnio destes, souberam honrar para sempre a
sua memória.
Devemos confessar que o nosso propósito era, somente,
abordar este tema num mero artigo de opinião.
Mas, com o decorrer da escrita, fomo-nos apercebendo que
podíamos ir mais além do que o simples artigo imaginado.
Assim, nasceu nova ideia: Abalançar-nos num trabalho
mais amplo, tendo sempre como principal objectivo não
fugir do pensamento inicial.
Não obstante a história que se apresenta ser mera
ficção, pelo que, qualquer semelhança entre os nomes
referidos e a realidade ser pura coincidência, o certo é
que, na verdade, a ficção ultrapassa, por vezes, a
realidade.
Por nos parecer pertinente e para mais fácil
entendimento, decidimos fazer uma breve apresentação das
duas personagens principais que fazem parte desta
história:
Miguel
Rapaz mobilizado, como furriel miliciano, para combater
na Província de Moçambique. Toda a sua vida foi passada
entre Vila Nova da Ribeira, de onde era natural e a sede
do Concelho, onde estudara. As suas habilitações
literárias, permitiram-lhe ingressar no Curso de
Sargentos Milicianos.
Partiu para Moçambique, deixando na terra natal uma
paixão inicialmente não correspondida. As suas lutas
dividiam-se entre a conquista desse seu grande amor e
combater o inimigo na grande imensidão das matas do
Niassa, onde a sua unidade se encontrava estacionada num
antigo aldeamento, já sem população, Xituengo.
e
Mariana
Que, apesar de sempre ter vivido na sua terra natal, era
uma rapariga com alguma cultura já que os pais, que
viviam do sustento das terras, com um certo esforço
financeiro, conseguiram custear as despesas para que a
filha estudasse em ensino particular na própria vila,
obtendo assim o 2.º ciclo liceal. Além disso, era uma
apaixonada pela leitura.
Enquanto não arranjava emprego na capital, era esse o
seu desejo, foi permanecendo em Vila Nova da Ribeira.
Quer Miguel, quer Mariana, dado o seu gosto pela poesia,
na troca de correspondência faziam-no, praticamente
sempre em verso, embora, por vezes, a métrica
poeto-silábica não fosse cumprida com rigor. Facto
perfeitamente compreensivo dado o seu amadorismo nesta
vertente literária.
“Silêncio” foi a primeira palavra que nos ocorreu ao
pensamento para dar o título a este despretensioso
livro. Posteriormente, pensámos noutros vocábulos mas,
com o decorrer da escrita, o “Silêncio” foi ganhando
forma, devendo ser, no entanto, interpretado num sentido
lato da palavra e não limitá-lo a um só único
significado.
Conseguimos, assim o julgamos, pois foi esse o nosso
objectivo, que Mariana fosse paradigma e representasse
as milhares de jovens que na geração de 60 e parte da de
70, que por cá ficaram aguardando, como já referimos,
privando-se dos passatempos inerentes à sua juventude,
enquanto lá longe, muito longe, se combatia.
Este livro foi pensado também para dignificar os
militares, na personagem de Miguel que, de algum modo,
tão mal tratados foram em termos de conceito por certas
franjas da nossa sociedade a qual, em certos casos,
navega em termos de opinião, ao sabor das suas próprias
conveniências políticas. Estas, por vezes, mudando de
rumo de acordo com a direcção do vento.
Infelizmente, temos que admitir que a Guerra do Ultramar
foi e continua a ser para as tutelas que nos têm e
continuam a governar, um tema “maldito”.
Quer eles queiram, quer não, isso é um facto
irrefutável, a Guerra do Ultramar faz parte da História
Lusíada.
Assim, quem nela participou, tal como nós, não deve
envergonhar-se em afirmá-lo.
Mas porquê falar dela com desprezo? Não sabemos.
Da nossa parte continuaremos, enquanto a mente não nos
atraiçoar, a escrever, sem complexos, sobre o tema.
O Autor