Incidente com Maiores Baixas do
Exército Português - 21Jun1969
Texto e Imagem cedida por
um Veterano
Manuel Luís Pata
(nascido em 22 de Novembro de 1924, na Gala, freguesia de São Pedro,
concelho da Figueira da Foz. Bisneto, neto e filho de
marítimos oriundos de Ílhavo, (seu pai era veterano da
Flandres), em 1943 fez-se ao mar no lugre "Ana I" como
ajudante-de-motorista e três anos depois obteve a carta
de motorista.
Em 1948 foi contratado pela "Empresa de
Navegação Limpopo", de Lourenço Marques.
Em 1955, já
casado (com Conceição), e com um filho, embarcou para
África "para nunca mais voltar".
Na década de 60 já era
capitão do "Mezingo", navio fluvial da Sena Sugar
Estates [SSE] que subia e descia o Zambeze, sendo o
único ponto de ligação entre as comunidades do litoral e
do interior. Do seu trabalho em Moçambique, mereceu, por
parte da Capitania do Porto do Chinde, um louvor
«por
ajudar a retirar do rio, 26 viaturas das Forças
Armadas».
Mais tarde, com a revolução dos cravos e o
clima de instabilidade em Moçambique, preferiu voltar à
sua terra natal. Não podendo trazer consigo o produto do
seu trabalho árduo de tantos anos, trouxe no entanto a
sua maior riqueza... a sua família.
Aposentou-se em São
Pedro como empresário de restauração e reside na Cova
(Gala). Estas "Memórias de Moçambique" foram recuperadas
através de uma pesquisa que se prolongou por quatro
anos. Apesar da idade, faz dos computadores seus
contemporâneos: "escrevo tudo no computador, pois é
muito mais fácil e prático do que na máquina de
escrever". Mais um livro "editado com o dinheiro do
próprio bolso".)
[cf
Jot'Alves, in
http://www.asbeiras.pt/?area=coimbra&numero=69442&ed=28022009
]
"Recordações de Moçambique - Com o Zambeze no Coração"

"Recordações
de Moçambique - Com o Zambeze no Coração"
autor: Manuel Luís Pata
editor: (o autor)*
1ªed. Figueira da Foz, 2005
(contactos:
manuel.luis.pata@gmail.com,
mlpata@hotmail.com)
Apresentação (pelo autor):
– «Vivi 20 anos em Moçambique. Cinco na marinha mercante
e quinze na província da Zambézia, catorze dos quais a
governar um dos navios da Sena Sugar Estates, o "
Mezingo". Além do meu serviço normal, prestei no rio
Zambeze preciosos e gratuitos serviços ao Estado. Entre
outros, recordo com muita tristeza, quando estive 20
dias com o meu navio nas operações de recolha de "corpos
de militares e recuperação de 26 viaturas" de uma coluna
militar [do Exército] que no dia 21 de Junho de 1969
seguia num batelão e se afundou no rio Zambeze, quando
fazia a travessia da Chupanga para Mopeia, perecendo
neste naufrágio 100 militares e 2 civis. Esteve a
comandar estas operações, o então Capitão do Porto do
Chinde, sr. Comandante Fernando Manuel Loureiro de
Sousa. [...] Os catorze anos que vivi no navio "Mezingo"
nas lides do rio Zambeze, foram sem dúvida os melhores
da minha vida. [...] Este navio era considerado a jóia
do Zambeze. [...] Minha mulher [...] suportou situações
difíceis, quer devido às adversas condições
climatéricas, quer às próprias alterações do rio, ora
com as correntes traiçoeiras no tempo das cheias, ora no
tempo das secas, principalmente de noite, quando, a
descer o rio, o navio vezes havia em que batia
bruscamente nos bancos de areia. [...] Por tudo o que
ela fez e sofreu durante os catorze anos que viveu sobre
as águas do Zambeze, entendo dever prestar-lhe uma digna
homenagem, dedicando-lhe este trabalho.»
Algumas referências, ao grande desastre fluvial de 21 de
Junho de 1969:
– «Era o Mestre/Comandante do "Mezingo", que também
esteve nesse trágico teatro-de-operações de resgate de
vítimas e material militar, essencialmente, como
consequência do afundamento do batelão "São Martinho" na
zona da Chupanga-Mopeia, em 21-06-1969 cerca das 16,57
horas. [...] O sr. Pata é exaustivo, numa riqueza de
pormenores extraordinária, própria de homem metódico que
foi anotando com rigor as ocorrências diárias [...].
Matéria que reporto de muito boa qualidade, em discurso
directo, factual e rigorosa. E não esqueceu, como é seu
timbre, os irmãos Campira, quatro pescadores que em duas
almadias, heroicamente e durante toda a noite, salvaram
cerca de duas dezenas de náufragos: são eles o Vasco, o
Zeca, o Manuel e o Armando, que têm Campira como
apelido. Heróis Portugueses, com certeza, e dos
melhores. Será que a Pátria ainda se lembra deles?!
Manuel Luís Pata lembrou-se e registou para a
posteridade. Assim, os irmãos Campira viverão para
sempre. Como heróis.»
[umBhalane, in
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2008/10/vale-do-zambeze-nórdicos-querem-meter-dinheiro.html
– «Ainda que possamos encontrar erros de palmatória em
(quase) tudo o que se pretende "História do Zambeze".
Aliás, o importante é que todos escrevam, que se debata,
pois "ao fim e ao cabo" muita coisa de bom ficará...
[...] Li "Mezingo" e logo me lembrei do barco da SSE que
vi, com um guindastre montado, no meio do Zambeze, a
recolher os carros militares daquele grande acidente com
o batelão do Amâncio Pedreira. Na altura escrevi que,
quando um carro vinha à tona de água, um ou dois corpos
(de militares) se soltavam e iam rio abaixo, até que as
almadias dos irmãos Campira (e outros) os recolhiam e
traziam para a margem (do lado de Mopeia).
[...]
Gostaria de confrontar as memórias de Manuel Luís Pata
com as memórias deste pobre diabo que, na altura, teve o
ensejo de encher páginas de jornais de Moçambique e
Metrópole com os acontecimentos que, a partir do dia
imediato ao acidente, acompanhei desde a margem do
grande rio – do lado de Mopeia, onde cheguei em voo não
autorizado (espaço aéreo fechado), com o Jorge Guerra
(Filho) aos comandos do "Piper". Felizmente não havia "frelos"
na zona (nem pouco mais ou menos), quando não podia
haver também antiaérea.
Então, também tive a honra de escrever sobre os heróicos
Campira – que durante a noite, e a partir de uma das
ilhas do Zambeze, salvaram vários militares entre os
muitos do acidente.
O autor MLP dá conta do que aconteceu ao proprietário do
batelão, Amâncio Pedreira (julgo estar certo no nome)?
Morreu? Reapareceu noutro país? Como é uma dúvida que me
continua a assaltar...
Já agora, e para que fique registado neste blogue,
diga-se que os Campira, os quatro pescadores negros do
Zambeze, foram heróis também nas páginas de jornais
portugueses naquele recuado ano de 1969. Naquele tempo,
em Moçambique – e a partir de Moçambique –,
reconheciam-se os Heróis enquanto Heróis e não... pela
cor da pele. Que os "historiadores" feitos pela (e na)
Frelimo, anotem!!!
[...] Lembro que naquele ano da tragédia fluvial junto a
Mopeia, o Sport Quelimane e Benfica foi o campeão
provincial de futebol. Ah!, e foi também nesse ano que o
Ernesto Santana Afonso, vocalista dos "The Blue Twisters"
(dos vários conjuntos "pop" zambezianos), lançou o seu
grande sucesso... "Muianá".»
Santa
Cruz, in
http://macua.blogs.com/moambique_para_todos/2008/10/vale-do-zambeze-nórdicos-querem-meter-dinheiro.html