
título: "Rota sem fim"
autor: Rogério Seabra Cardoso
editor: Areias do Tempo
1ªed. Lisboa, Mai2010; (2ªed.
Edições Esgotadas, 2018)
274 págs (ilustrado)
21x15cm
ISBN: 989-8801-97-5
Prefácio:
- «Este prefácio nasceu das notas
sugeridas pela leitura do que ainda
não passava de rascunho em forma
final. Foi uma leitura lenta, porque
as cenas eram suficientemente vivas
para se poder ficar a saboreá-las,
como faria um mirone discretamente
numa mesa de café (eu próprio me
poderia rever a desempenhar esse
papel, durante a minha missão no
norte de Moçambique, também como
oficial da recém-criada "acção
psicológica").
É de facto um relato invulgar da
nossa recente presença militar em
África, sempre em simbiose com a
vida civil. Para além do estilo
agradável e directo, da riqueza
descritiva de paisagens,
personagens, do envolvimento
cultural e de conflitos de ordem
vária, esta obra apresenta a rara
virtude, em publicações do género,
de não se deixar levar por
preconceitos políticos, morais e
culturais. Aqui, não há "os bons e
os maus", mas apenas, de vez em
quando, o honesto sentimento de
agrado ou desagrado perante o que se
passa – e mesmo estes sentimentos
surgem como traços descritivos de
qualquer um dos actores em cena. O
leitor segue histórias reais e não
manipuladas por interesses
partidários ou mediáticos (como o de
escrever só aquilo que agrada mais
ou vende melhor… ).
É comum dizer-se "a obra que
faltava". Mas que é que mais falta
nos nossos dias do que a
independência e sinceridade de
juízo, atento às mais antagónicas
perspectivas no campo das ideias e
no campo do dia-a-dia?
Não é mais um livro para "dourar"
uma perspectiva histórica: é um
diálogo saboroso, culto e pensado,
feito por quem domina a arte
literária e o enquadramento
histórico-social de uma guerra em
que o bem e o mal estão presentes,
onde quer que haja seres humanos.
Os conflitos económicos e políticos
surgem em cena bem "ao vivo", como
que "sentidos na pele". Quase
podemos andar aos encontrões com os
diversos tipos de militares,
comerciantes, civis… seja qual for a
sua raça, sejam "os de Lisboa" ou
"os da terra"… quer nas situações
comezinhas quer nas heróicas e
revoltantes. Espreitamos convívios
de bares e amores, cenas de
degradação moral e arrogância, jogos
de manipulação, atitudes de
crueldade – mas também de bom senso,
de apreço genuíno pela dignidade e
qualidades de cada pessoa seja qual
for o campo em que joga, e de como é
pernicioso perder-se a confiança uns
dos outros.
A cobardia e heroísmo não se
escondem, como não se escondem o
oportunismo e o sentido da vida como
missão, a mentira e a autenticidade.
É pois uma história em cenário de
guerra, onde não se defendem
preconceitos nem ideologias, mas se
exibe o emaranhado das relações e
sentimentos humanos. Onde o que é
bom e o que é mau aparecem nas suas
cores, sem se porem armadilhas ao
pensamento do leitor.
Aqui, temos tempo para sentir os
aspectos de um terreno de guerra,
podemos voltar atrás e olhar mais
uma vez, e pensar mais profundamente
no que vale um ser humano, seja "dos
nossos" ou "dos outros" (os únicos
inimigos são os que se servem das
vidas humanas).
Por tudo isto, foi um prazer e uma
honra poder prefaciar esta obra.
Um livro cativante como um filme –
mas que pode ser lido aos
bocadinhos, como quem se dá tempo
para uma boa conversa ou uma pequena
aventura. Porque é fascinante e nos
deixa pensar.»
(Prof. Dr. Manuel Maria de Melo Alte
da Veiga)