Trabalhos, textos sobre a Guerra do
Ultramar ou livros
Elementos cedidos por um colaborador
do portal UTW

Etelvino
da Silva Batista
Nascido em 07Fev39 na
localidade do Penedo, freguesia de Colares no concelho
de Sintra; mobilizado pelo RI1-Amadora para servir na
RMA e integrado como Soldado na CCac164/BCac158,
embarcou em Lisboa no NTT "Vera Cruz" em 28Jun61 e
desembarcou em Luanda em 07Jul61; seguiu com aquela
Subunidade em Set61 para Zala, transferida para o Ambriz
em Jan62 e regressada a Zala em Abr62, mudada para o
Toto em Jun62 e para Nambuangongo em Jan63, recuada para
descanso no Grafanil em Mai63 e finalmente regressada à
Metrópole em Nov63
"Diário
de guerra: Angola 1961-63"
"Diário
de guerra: Angola 1961-63"
autor: Etelvino da Silva Batista *
editor: Três Sinais (Av. Júlio Dinis 10-4E 1050-131
Lisboa)
1ªed. Lisboa, Junho de 2000
31x30,4cm
158 págs (com ilustrações)
preço: 41,90€
dep.legal: PT-153195/00
ISBN: 972-8584-01-6
Notícia:
- «Etelvino Batista descreve uma Angola distante, tal
como foi vivida e sentida, no dia a dia, por um soldado
português. Ansiedades e angústias, retratos cruéis de
dois anos agora publicados em livro.
São palavras escritas todos os dias, sem arranjos
literários, que a editora Três Sinais foi buscar ao
diário de Etelvino da Silva Batista, soldado que um dia
foi para a guerra em Angola e por lá ficou de 1961 a
1963.
Logo nos primeiros dias da guerra, foi escrevendo para
não se esquecer de quem era, mas afinal nunca se lembrou
porque estava ali.
Sem emendas literárias, tudo no papel como esteve estes
anos todos, começa no dia 28 de Junho de 1961.
"Embarque ao meio-dia, no paquete Vera Cruz. Não posso
descrever o que me custou a partida. Ainda muito depois
de perdermos a costa de vista havia muitos camaradas que
choravam."
"São 10:20, vou-me deitar. Estou a lembrar-me muito
especialmente da Isabel e apetece-me chorar, mas não
posso", pode ler-se.
Aos 22 anos, tal como muitos jovens portugueses na
década de 60, deixou para trás a noiva, Isabel, e foi
combater em Angola.
Entre fotografias, centenas do próprio soldado, todos os
dias Etelvino Batista foi deixando impressões no papel.
"Estive de serviço e de tarde fui à praia. Chegou esta
manhã uma patrulha. O comandante desta patrulha, ao
sobrevoar a mata à procura de caça descobriu um
acampamento de terroristas. Certamente que teremos
batidas muito em breve".
Dia 6 de Novembro de 1961, "os trabalhadores negros
fugiram todos quando soaram os tiros ao almoço. Comi
peixe cozido com batatas".
Memórias em tempo real escritas para marcar os dias como
riscos no calendário a ver se o tempo passa, imagens que
ficaram gravadas bem fundo na memória.
"Os prisioneiros pretos que estavam sob a nossa guarda
foram de avioneta para indicarem o caminho do
acampamento inimigo. Na volta, foram lançados sem
paraquedas".
O "Diário de Guerra, Angola 1961-1963" de Etelvino da
Silva Batista vai ser [07 de Julho de 2000] apresentado
no Fórum da Fnac-Chiado, às 19:00, seguindo-se uma mesa
redonda sobre a literatura de guerra.
Hoje, Etelvino conta 61 anos, casou com Maria Isabel, a
noiva que lhe coloria a memória e lhe apertava o coração
de saudade, e vive entre Madrid e Lisboa como guia
turístico.
(in http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Interior.aspx?content_id=712588)
Recensão:
- «Vinte e oito de Junho de 1961; Etelvino da Silva
embarca nesse dia no paquete Vera Cruz. Destino: Angola.
A rebelião havia estalado há poucos meses, e de Lisboa
eram enviadas à pressa as unidades militares que
deveriam ter estado presentes no momento em que o sangue
começou a correr. Para Etelvino, um filho de Colares, é
o início de um longo calvário, de mais de dois anos. A
história pouco mais tem para contar: ao longo das cerca
de 150 páginas do álbum, vamos lendo os apontamentos que
o então jovem soldado lavrou religiosamente, numa base
diária.
Ali estão expressas as preocupações de um homem simples
e nada mais: as saudades, essas atrozes saudades que
sente de tudo o que deixou para trás, e sobretudo de
Isabel, a noiva que ficou em Lisboa; o receio renovado a
cada dia, com a notícia de mais e mais camaradas
abatidos pelo fogo inimigo; os desentendimentos com os
superiores hierárquicos; o desagrado por uma alimentação
inadequada, que os soldados contornam a toda a hora com
o afamado improviso lusitano; as escapadinhas com as
"pretas" e os pensamentos algo libidinosos que a falta
de contacto com as mulheres desperta no fogoso Etelvino;
a revolta perante os maus tratos infligidos aos negros
pelos seus camaradas e pela Administração da Colónia; as
preocupações, cada vez mais atenuadas, com o bom
cumprimento do seu dever enquanto especialista em
comunicações; a obsessão pela carta, recebida e enviada
aos magotes, única ponte com o único mundo que lhe é
familiar.
Enfim, é todo um relato do quotidiano no além-mar, com
os eventos diários esmiuçados ao pormenor. Por vezes
sente-se a falta de uma continuidade. A caneta do autor
inicia histórias que não chega a acabar. Por vezes
perde-se o foco da narrativa, enquanto noutras ocasiões
há repetições de eventos já relatados. Mas, claro, estes
inconvenientes não podem ser denunciados, porque a prosa
não é a de um autor. Pouco importa se não encontramos no
texto um pensamento de fundo sobre a problemática
africana. Não é disso que pretende tratar o livro.
Trata-se apenas dos apontamentos diários de um
combatente vulgar no Ultramar português.
Seja como for, as pequenas entradas diárias parecem ter
cola; não se conseguem parar de ler. Talvez precisamente
pelo seu carácter micro. Uma chama a outra e assim por
diante, até ao final da página, da página seguinte,
depois, é só mais um mês e mais um. E num instante o
livro chega ao fim. O livro, porque a estadia do "nosso"
Etelvino ir-se-ia ainda prolongar: as notas
correspondentes aos últimos seis meses da guerra dele
perderam-se para sempre. Mas a memória daqueles dois
anos com a Companhia de Caçadores 164 não se perderá
nunca mais, graças a este belo livro.
As páginas são profusamente ilustradas com fotografias
do próprio autor; algumas, por ele tiradas, enquanto
outras representam-nos nos mais diversos momentos
africanos. Isabel, a omnipresente Isabel, está também
nestas páginas, na sua beleza portuguesa, de cabelo e
olhos escuros.»
(Ricardo Ribeiro, 14 de Junho de 2004)
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