Os
sem-abrigo da guerra colonial
Fonte: Jornal Edição
Especial, Ano II, n.º 29, de 22 de
Agosto de 2008
A reportagem sobre os ex-combatentes da
Guerra Colonial, que hoje vivem na rua, publicada pela
revista de Domingo, do “Correio da Manhã”, de 10 de
Agosto, é revoltante e deveria envergonhar todos os
portugueses e especialmente os governantes deste país,
que se quer democrático, socialista, moderno e europeu.
Num Estado em que se gasta milhões em
despesismos, em obras desnecessárias e duvidosas, em
salários e reformas douradas, e em subsídios para quem
não quer trabalhar, não sobram uns tostões para
distribuir por aqueles que serviram o país obrigados e
com risco de vida, pelos seus heróis de ontem.
Não sei se são 200 os ex-combatentes sem
abrigo, a dormir na rua e a viver da caridade de quem
passa, como se avançou na reportagem, mas são por certo
muitos os que vivem mal, como recentemente lembrou o
escritor António Lobo Antunes, numa das suas crónicas da
revista “Visão”.
Recentemente, no âmbito da efémera
Associação dos Antigos Combatentes do Algarve, foi
possível detectar neste distrito alguns desses
ex-militares abandonados pelo Estado e pelas próprias
instituições militares, tendo alguns deles sido
ajudados.
Conheço casos em que foram os próprios
camaradas de armas que ajudaram, como foi o caso do C…,
um colega da minha unidade, que vivia numa mina
abandonada e foi encaminhado para um lar.
No entanto, em Portugal existem hoje
bastantes associações de antigos combatentes da guerra
do antigo Ultramar, que talvez pelo seu elevado número
pouco fazem para defender os seus associados e também os
não associados, contribuindo antes para os dividir e
lançar a confusão em termos de associativismo saudável e
reivindicativo. Os sucessivos governos têm-se
aproveitado dessa fragilidade, segundo a lógica do
“dividir para reinar”, nada dando nem fazendo em prol
dos ex-combatentes.
Unidos numa única associação, forte e
reivindicativa, os combatentes da Guerra Colonial teriam
hoje bons centros de acolhimento, convívio e
assistência, com o apoio do Estado e com pessoal
especializado, nomeadamente em stress de guerra e outras
doenças do foro neurológico, e na cura do alcoolismo e
tabagismo.
Estes espaços poderiam também servir para
os militares que têm integrado as missões de paz em que
Portugal participa. Estas instituições já existem há
muito tempo em países como os Estados Unidos e a França.
É um facto que muitos destes
ex-combatentes foram empurrados para a rua ou para a
caridade por motivos de stress de guerra, alcoolismo,
divórcio e incompreensão da família. Mas, o Estado
também ajudou a complicar a situação, através das
reformas de miséria, dos vergonhosos subsídios adstritos
à reforma, que vão dos 75 aos 150 euros anuais, e
da ausência de apoios de vária ordem.
Entre estes antigos combatentes não se
encontram apenas soldados, mas também antigos oficiais e
sargentos milicianos, tendo os mais novos uma idade que
ronda os 58-60 anos.
E todos, governo, deputados, políticos e
instituições do Estado esperam que eles morram o mais
depressa possível para que se acabe o problema.
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"Ultramar
- a luta na rua"
A notícia na revista "Domingo"
do Jornal Correio da Manhã, de 10AGO2008