Trabalhos,
textos sobre operações militares ou livros

Manuel Graça
Manuel da Graça e Costa, nasceu a 27 de
Julho de 1935, na cidade do Porto.
Embarcou para Angola a 1 de Dezembro de
1955.
Fez o serviço militar em 1957.
Em 1960 dedicou-se à Arte Fotográfica,
tendo em 1962 feito uma exposição dos acontecimentos do
Norte de Angola.
Em 1963 foi galardoado pelo Governo-Geral
de Angola.
Em 1966 ofereceu os quadros da exposição
ao Governo de Moçambique, para uma exposição a favor das
vítimas dos temporais. Foi repórter fotográfico,
privativo, do jornal «a província de Angola»,
correspondente do «Cruzeiro», do Brasil, da «Agência
Portuguesa de Revistas», «Flama», «Revista T.V.» e
colaborador da «Auto-Sport», de Inglaterra.
1970 — Convidado para Director dos Centro
de Fotografia dos Serviços de Educação de Angola, tendo
permanecido no exercício destas funções até ao ano de
1975, onde realizou cinco exposições de trabalhos dos
jovens alunos;
1975 — Regresso a Portugal;
1976 — Repórter fotográfico da Revista
«Nova Gente»;
1979 —Ingressa na função pública (Serviço
de Estudos do Ambiente);
1982 — Transita para o Ministério do
Planeamento; funda o «Clube D. R. da Abelheira»;
1987 — Faz parte dos fundadores do «C. S.
C. Novos Talentos»;
1988 — É convidado para a Direcção da
nova Igreja de Agualva-Cacém;
1991 — É convidado para a Direcção da
Associação dos Bombeiros de Agualva-Cacém;
1993 — Director Desportivo e Presidente
da Assembleia Geral do «C. S. C. Novos Talentos».
O livro:
«Angola 1960 /
1965: A surpresa - A guerra - A recuperação»

título: «Angola 1960 / 1965: A
surpresa - A guerra - A recuperação»
autor: Manuel Graça
edição do autor
3.ª edição: 10Jun2006
depósito legal: 122946/98
223 págs.
Em Angola:
lançamento em Maio de 1965 (10.º edições,
esgotado em 1974)
Em Portugal:
Lançamento em 10 de Junho de 1998 - 1.ª
edição
2.ª edição, esgotada em 2005
3.ª edição, esgotada em 2006
Excerto:
«Nambuangongo é um dos pontos mais
atingidos pelo terrorismo, e onde os bandoleiros
instalaram o seu quartel-general. Chegaram
mesmo a colocar à entrada da zona uma tabuleta com a
atrevida inscrição de que não era permitida a entrada a
brancos na «Republica Socialista do Nambuangongo»...
Para lá convergiam todos os planos estratégicos dos
nossos comandos militares, visando a sua recuperação.
Vários batalhões, tendo partido de pontos diferentes e
seguindo rumos diversos, encaminhavam-se para
Nambuangongo, procurando formar um «anel de fogo» que
pudesse «caçar» os bandoleiros, sem possibilidades de
fuga.
Os obstáculos eram enormes e a região terrivelmente
acidentada. O que foi a árdua caminhada desses
batalhões, para a tomada de Nambuangongo, ninguém cá de
fora poderia fazer uma ideia aproximada que fosse.
Lutando contra a natureza que lhes era hostil e contra
os terroristas que infestavam por completo a região, os
soldados que marchavam para o Nambuangongo escreveram
uma das mais heroicas páginas desta história da guerra
do Norte de Angola.
Clique no sublinhado que
se segue para visualização do conteúdo:
Um
desses batalhões [BCac96], que seria o primeiro a
chegar ao destino, era comandado pelo já célebre
tenente-coronel Maçanita, o homem forte do
Nambuangongo, como os soldados lhe chamavam. No seu
itinerário havia de encontrar Muqiama-Sama e Mucondo,
que ficariam a ser dois marcos inesquecíveis nesta
caminhada para a vitória, pelos violentos ataques de que
foram cenário.
Em Muqiama-Sama, mais de 3 centenas de bandoleiros
fizeram um ataque violento, a coberto do nevoeiro.
Comandados pelo alferes Leitão, a descoberto, os nossos
soldados responderam ao ataque valentemente e com
entusiasmo, desbaratando o inimigo. Tiveram algumas
baixas, mas mereceram bem o nome de heróis, pois que
verdadeiros heróis foram ao lutar, a descoberto, com um
inimigo superior em número e ferocidade. Merecem também
destaque os civis que acompanhavam as tropas servindo de
guias e de elementos de ligação. Todos eles, militares e
civis, constituíam um grupo homogéneo de valentia
indomável.
Quando procediam à reconstrução da ponte do rio Luíca, o
tenente-coronel Maçanita e alguns dos seus oficiais
ouviram ruídos estranhos e alguns tiros. Imediatamente
um dos oficiais pegou na pistola-metralhadora e,
sozinho, atravessou a desmantelada ponte, passando sobre
uma frágil passadeira. Num ápice juntou um grupo de
soldados e, caminhando à frente deles, foi ao encontro
dos bandoleiros. O tenente-coronel Maçanita,
destemidamente e sem hesitações,
pratica um movimento envolvente e, sem qualquer
protecção, avança também para os atacantes. Foi então
que o furriel Reguengo, vendo o perigo a que se estava a
expor o seu comandante, num gesto de bravura e lealdade
sem par, se colocou à frente do tenente-coronel Maçanita
para o proteger, servindo-lhe de escudo. Gestos desta
natureza não se «fabricam» nem se aprendem nos livros:
são espontâneos e nascem dum sentimento e duma
civilização seculares! São ditados pelo coração de quem
sabe quanto vale a gente lusitana! Outro soldado
anónimo, vendo três terroristas dirigirem-se para uma
metralhadora que havia sido abandonada, por se ter
encravado, pôs a espingarda à cara e disparou contra os
inimigos. Depois, calmamente, foi colocar a metralhadora
na rectaguarda.
Este ataque, que foi feito de surpresa e com uma
ferocidade incrível, colheu os soldados dispersos ao
longo da ponte, na protecção dos sapadores que procediam
à reconstrução da mesma. Com uma rapidez espantosa,
organizou-se a defesa que escorraçou o inimigo que se
encontrava no alto do monte. Durante o nosso contacto
com este batalhão, pudemos constatar que, logo que se
pressente o perigo, o comandante e os oficiais são os
primeiros a colocar-se à frente. Isto mantém o moral dos
soldados muito elevado, pois que veem nos seus oficiais
exemplos de coragem e audácia, além de uma camaradagem
sã e reconfortante.

Perto da madrugada, os soldados que se encontravam de
viagem na parte sul do acampamento montado em Mucondo,
ouviram vozes e risos, vindos de perto. Apuraram mais o
ouvido, para não serem colhidos de surpresa: eram os
bandoleiros! Dado o alarme, cautelosamente e no maior
silêncio possível, a tropa deixou-os aproximar, fingindo
não ter dado conta da sua aproximação. Mas,
repentinamente, os terroristas pararam, decerto
alertados por qualquer pequeno ruído ou simples
pressentimento. Não havia que esperar mais: os nossos
soldados abriram fogo cerradíssimo sobre os assaltantes,
fazendo-os retirar em debandada, abandonando alguns
mortos e feridos no campo de batalha. Mais tarde foi
feita uma batida pelos arredores, tendo sido apanhado
muito armamento automático, catanas, canhangulos e
azagaias, que os bandoleiros haviam abandonado na fuga
precipitada.
Pelo interrogatório feito a um prisioneiro, soube-se
então que o ataque fora feito por cerca de 450
indivíduos, e que tinha por finalidade apanhar as armas
em poder da tropa para servirem em futuros ataques.
A marcha para a libertação do Nambuangongo continuava.
Lenta, mas segura; espinhosa, mas certa da vitória
final; custosa, mas imparável até ao ponto limite. No
caminho iam ficando vidas humanas, vidas de soldados
portugueses que não chegaram a ver o inesquecível dia da
vitória — mas que contribuíram para ela com o máximo que
podiam oferecer: — a sua própria vida: A terra ficava
regada com o sangue dos portugueses que a defendiam e
que, por ela, morriam gloriosamente. Aquela mesma terra
que que sentira as entranhas rasgadas pelas mãos dos
bravos colonos, afagava agora os corpos inertes e sem
vida dos valentes soldados que tombavam. Nambuangongo
ficava mais perto a cada dia que passava. O desânimo não
tinha lugar entre a nossa tropa. A sua fé, a sua
determinação, a sua confiança na vitória impelia-os para
a frente, sem temor, sem receio, sem descanso, nem para
dormir. A morte espreitava em cada curva, em cada moita,
em cada árvore. Mas eles não se importavam. Iriam até ao
fim.

Finalmente Nambuangongo fora
libertada! Depois de uma arrancada vitoriosa, de muitas
vidas perdidas, Nambuangongo estava salva. As últimas
resistências terroristas desagregaram-se perante o
impetuoso e incontível avanço das nossas tropas, que ali
voltaram a hastear a Bandeira Nacional. A longa coluna
militar, composta por muitas viaturas, entrou na
sacrificada povoação, após ter vencido, no espaço de
três horas, a rampa de dificílimo acesso, com cerca de 5
quilómetros, desde a ponte do Onzo, que teve de ser
reparada com vigas e pranchas de madeira de modo a
permitir a passagem das viaturas a caminho do objectivo.
Esta ponte foi destruída duas vezes mas a tropa,
teimosamente e sob o fogo cerrado do inimigo,
reconstruiu-a outras tantas.
Pouco passava do meio dia quando a longa coluna militar
entrou na povoação, que encontrou deserta e abandonada.
Pelas 17,45 o comando dava a ocupação consumada e às
18,15 era hasteada a Bandeira Portuguesa. Num momento de
inesquecível emoção foram-lhe prestadas as honras
militares por aqueles bravos de barba crescida e
cobertos de pó, quase desfigurados pelo cansaço e pela
constante vigília, que desceram das viaturas para se
perfilarem diante da
bandeira
vende-rubra, da sua Bandeira. Não é possível descrever o
que foi este momento. Quando um soldado chora, as suas
lágrimas têm que ser necessariamente o reflexo de um
tumulto de sentimentos que escapa, sem sombra de dúvida,
à expressão verbal e, com muito mais razão, à escrita. E
os valentes soldados, que se haviam batido como feras
durante toda a marcha, choravam agora como crianças.
Eram lágrimas de emoção que ninguém, por mais valente e
duro que fosse, teria conseguido reprimir ou evitar.
Eram lágrimas de alegria, de satisfação pelo dever
cumprido. Lágrimas de orgulho. Lágrimas de emoção, que
se viam em todos os olhos. Indiscritível o momento da
chegada a Nambuangongo. Impossível traduzir por palavras
o que se passou naquele momento solene do hastear da
Bandeira Nacional.
Os últimos quilómetros da arrancada foram marcados por
repetidos e violentos reencontros com grupos de
bandoleiros, que tentavam desesperadamente impedir o
avanço da tropa. A FAP acompanhou sempre, a baixa
altitude, a coluna militar, dando assim o seu
valiosíssimo apoio e cooperação indispensável. Com a
queda de Nambuangongo desfez-se o mito da visionada
República Socialista que apenas existiu numa rudimentar
tábua e nos papéis
distribuídos
a alguns pobres tresloucados, embriagados pela
propaganda moscovita. E quando a tarde findava, ao cair
da bruma acinzentada do entardecer, recortados contra à
colina e as ruínas do que fora uma progressiva e airosa
povoação, vimos o tenente-coronel Maçanita, o chefe de
posto Rosado, e todos os homens daquela coluna vitoriosa
tão descontraídos como se tivessem apenas feito um
passeio curto, sem perigos de qualquer espécie. Pensámos
então como ser português não é apenas ter nascido em
Portugal: é, e isso sim, sentir Portugal dentro do
peito, e mostrá-lo ao mundo nas horas difíceis, mesmo
quando ninguém nos quere acreditar - e foi isso mesmo
que eles acabaram de fazer! O tenente-coronel Maçanita
ficou como um símbolo dos oficiais portugueses. Veio
juntar-se ao alferes Robles e a tantos outros que esta
guerra de Angola havia de consagrar. Que o digam os
bravos soldados que serviram debaixo das suas ordens,
que tiveram a suprema honra de libertar Nambuangongo.
Sim, que falem eles do tenente-coronel Maçanita, do
alferes Robles, do furriel Reguengo ou do soldado
anónimo que voluntariosamente ajudou a construir esta
vitória, com o seu próprio sangue. Que falem eles do que
pode e vale o exército português, já que as matas e os
morros do Nambuangongo o não podem fazer! E, então, esse
mundo mentiroso que faz ecoar a sua voz através dos
altifalantes das grandes metrópoles internacionais, que
nos condena sem razão, que não quer admitir a nossa
verdade, que se cale, que se apague perante a esmagadora
verdade que terá que ouvir! Com Portugal está a razão: -
e a razão terá que vencer!»
Nambuangongo (Angola):
A Grande Arrancada
Imagens expostas no
livro referenciado:





























































