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Manuel Maria

 

O autor, nasceu a 18Jun51 no Porto.
- «Em Jan72 foi incorporado no Exército e, após recruta e especialidade, mobilizado para servir em Moçambique, onde chegou a 24Nov72, tendo prestado serviço nos distritos de Tete e da Zambézia, regressando em 14Set74»; (cf wikipedia).

O autor pertenceu à CCac3554, subunidade orgânica do BCac3886 (mobilizado pelo RI1-Amadora, chegado à RMM no final de Jun72 e retirado na 1ª quinzena de Set74).
Aquela companhia de infantaria, foi colocada a 19Jul72 em Mucumbura (fronteira sudoeste distrital de Tete com a Rodésia), transferida em Jan73 para a Cantina do Nura (idem), onde se manteve até ser recuada em Jan74 para Milange (distrito da Zambézia).

 

O livro:

 

"Checa é pior que Turra - Caricaturas da Guerra Colonial"

 

título: "Checa é pior que Turra - Caricaturas da Guerra Colonial"
autor: Manuel Maria

editor: (o Autor)
1ªed. Porto (ASA), 1996
287 págs
24x17cm
dep.leg: PT-102723/96

 

Apresentação:
- «"Checa é pior que Turra - Caricaturas da Guerra Colonial", é um romance de ficção. Nele procurou o autor, através de diversas caricaturas, para que aponta o subtítulo, a desmistificação do herói, colectivo ou individual, com a construção de um personagem tanto mais autêntico quanto mais humano e, como tal, sujeito a comportamentos nem sempre coerentes, tal como o vento que nem sempre sopra do mesmo quadrante. Nem por isso toda a carga dramática de uma vivência de guerra, deixa de ter a expressão que lhe é própria, quando mais não seja como catarse da própria guerra. "Talvez haja momentos em que a fronteira da ficção e a da realidade parecem confundir-se...", diz, numa das suas cartas, o personagem principal. A alusão a lugares e a factos históricos, apenas teve como finalidade conferir uma contextualização à ficção e contribuir para o princípio aristotélico da verosimilhança: é mais importante ser verosímil que verdadeiro. Se a obra não corresponder à sempre legítima expectativa do benévolo leitor, perdoe-se a condição de checa do escritor.»
 

Clique no sublinhado que se segue para visualização do conteúdo:

Checa É Pior Que Turra - Capítulo 1


Excerto:
– «Decorrido algum tempo, regressavam os protagonistas do incidente. Caliate (¹), que vinha na dianteira, dirigiu-se imediatamente a José António:
- "Está tudo bem, meu alferes. Não conseguimos evitar o contacto, mas não sofremos qualquer baixa. Fui obrigado a matar uma sentinela e capturei-lhe esta Kalash."
José António olhou-o, fixamente, nos olhos, alheando-se, completamente, da arma que exibia.
- "Pode descansar", disse-lhe secamente.
Aguardou que o seu interlocutor se afastasse e volveu, então, para Paulo:
- "Quero que me faça o relato circunstanciado do acontecido."
Ele próprio ficara surpreendido com a intenção do Zeca: o que ele visava não era, efectivamente, o reconhecimento do objectivo, mas reaver a sua mulher que continuava na guerrilha e que se encontrava precisamente naquela base. Quando se aproximaram do objectivo, o Zeca disse-lhe que iria tentar falar com ela e que precisava que ele e a sua secção fizessem a cobertura. Ainda lhe manifestara a sua discordância, tendo em conta a recomendação do alferes, mas o homem estava com a ideia fixa. Colocou, então, a sua secção em posição e acompanhou-o até quase à sentinela, com quem trocou algumas palavras, após o que o homem da Frelimo se dirigiu a uma palhota improvisada, diante da qual ardia uma pequena fogueira. Alguns instantes depois, a mulher surgiu à claridade do lume, na companhia de outro guerrilheiro, enquanto a sentinela se dirigia para o local onde o outro o aguardava. Ao pronunciar o nome da mulher, o ex-comandante da guerrilha foi imediatamente reconhecido e, antes que a sentinela tivesse tempo sequer de raciocinar, desferiu-lhe uma rajada, arrancando-lhe a Kalash. Ao ouvirem os disparos, os GE's [do 703] fizeram imediato uso das suas armas, pelo que, rapidamente, ambos se encontravam entre fogo cruzado. No meio de toda a confusão, desapareceu a mulher e era evidente que a Frelimo ficara a saber que se encontrava lá a tropa.
- "Porra!", gritou José António. "Denunciar a nossa presença com uma actuação totalmente à revelia do que fora planeado!", vozeirou ainda com os dentes quase cerrados.
- "Meu alferes, ele confessou, depois, que estava com medo do que pudesse vir a acontecer à mulher no assalto de amanhã."
- "E agora? Não tem medo do que possa estar já a acontecer-lhe?! A obrigação dele era dizer a verdade, para que pudéssemos estudar a melhor forma de ser bem sucedido amanhã."
O furriel ouvia em silêncio.
- "Além do mais, vai obrigar-nos a passar toda a noite em claro. Sei lá eu bem do que eles são capazes agora. Deu, ao menos, para saberem o seu efectivo?"
- "Foi tudo muito rápido, meu alferes, mas a área é grande e tem pedaços bem camuflados."
- "Não sei qual é a ideia deles neste momento. Ou são poucos e sobrevalorizam a presença do Caliate, levando-os à fuga, ou então, se o seu número for encorajador, poderão preparar-nos, sem dúvida, uma bonita recepção com fogo de artifício."»
 

(¹) Zeca Caliate: comandante e chefe-de-operações do 4º sector da Frelimo na região sul de Tete, após ter sido sentenciado à morte pela chefia superior da Frelimo, dirigiu-se ao aquartelamento de Nura e entregou-se aos militares portugueses, com os quais passou a colaborar.
 

Texto do aluno Jorge Campos:
- «Tivemos uma visita na sala de aula, o professor e escritor Manuel Maria, visitou-nos para falar do seu livro "Checa é pior que Turra", encarei isso como uma aula normal, mas mal o escritor começou a proferir palavras sobre o livro, e a ligação que criou entre os alunos e o professor foi fantástica. Vou aqui fazer um retrato de tudo o que se passa no livro, mas mais importante do que ter falado no contexto superficial do livro, foi da maneira como encarou a guerra colonial.
Antigamente era bastante difícil encontrar um emprego, e as pessoas eram obrigadas a ir para a guerra. Arranjando um emprego como ajudante de um homem que fazia divertimento em passeios de autocarro, trabalhou e começou a juntar o seu dinheirinho sem os pais saberem.
Muito apreciador de leitura e muito observador quando foi para a guerra, escrevia e guardava as suas notas do dia-a-dia em papeizinhos para mais tarde recordar. Observador como ele era, sentava-se em cafés a tarde inteira, só para observar a vista e os pormenores do quotidiano, assim nasceu o gosto pela leitura e escritura.
No livro "Checa é pior que Turra", é apresentado aqui uma contradição entre Checa e Turra, importante é primeiro saber o que significa Checa: este nome caracteriza os soldados que entram pela primeira vez a cenário de Guerra e portanto são novos na técnica de guerra. Turra é um diminutivo depreciativo da palavra Terrorista, que no tempo de guerra era designado aqueles que combatiam contra Portugal.
Vejamos agora um exemplo:
Manuel, um checa, guarda a entrada do quartel juntamente com um soldado experiente prestes a ir para casa, de seu nome José. Manuel é a sua primeira noite de serviço, já os seus ollhos pesavam sobre a vista e estava dormitando, José não o quis acordar por isso deixou-o dormir.
Passado umas horas, quando a noite já se fazia tardar, José com dores de barriga decidiu ir atrás de uns arbustos fazer as suas "necessidades", avisando o seu colega Manuel, tendo este acordado de leve e ter concordado, e ficando avisado sobre o seu colega. Poucos minutos depois, já o checa dormitava, quando José sai dos arbustos, ao sair calca um pequeno ramo fazendo barulho, Manuel acorda de repente, ao pensar ser um turra e dispara uma rajada de metralhadora sobre o seu colega, tendo morto este último.
Este exemplo demonstra o quão perigoso pode ser um soldado em início de actividade militar, dando para comparar até aos terroristas, sendo os checas mais perigosos que os próprios terroristas.
É um livro que retrata muitas memórias de guerra, abordando também o tema do stress pós-traumático. Este livro diz-nos também que o cenário de guerra não é tão fiel como nos filmes, mas é muito mais diferente, só sobrevivem os melhores e mais bem preparados, sendo também isto uma questão de sorte.
A personagem principal, de seu nome José António, especialmente dedicado aos irmãos do autor: José e António. É também em homenagem a um grande guerreiro que sobreviveu a inúmeras e decisivas batalhas, tendo sobretudo uma estátua em seu nome, em Portugal e Espanha.
"Checa é pior que Turra", é um livro escrito com muitas lágrimas nos olhos, muito suor de um combatente que sobreviveu a inúmeros desafios, e agora estando aqui para nos retratar com muito entusiasmo e tristeza (sim a guerra é um cenário triste), as suas experiências de vida e de guerra.
Aconselho a todos a lerem este livro: "Checa é Pior que Turra", é um livro que se lê bem.»
(dedicado à professora de Português, Dolores Garrido, e também ao escritor e professor Manuel Maria)
 

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