“Era tempo de
morrer em África”, foi
editado em 2004, pela
Prefácio Editora, na sua
colecção Memórias de
guerra”, da autoria de
Nogueira e Carvalho,
prefaciado por José Pinheiro
da Silva e com um comentário
do General -
Governador-geral de Angola
(1962-1966 e 1974-1975) -
Silvino Silvério Marques.
É um testemunho apaixonante
da experiência do combatente
que viveu e combateu em
Angola e Moçambique e que dá
um contributo para
esclarecer os motivos que
originaram a guerra em
Angola, desde 4 de Fevereiro
de 1961 até 11 de Novembro
de 1975, data da
independência.
O seu autor, José Victor de
Brito Nogueira e Carvalho
foi Capitão Miliciano de
Infantaria, Inspector da DGS
em Angola, funcionário
superior da Polícia de
Informação Militar e do
Gabinete Especial de
Informações Militares do
Comando-Chefe das Forças
Armadas em Angola.
As suas duas comissões
militares efectuadas em
Angola e Moçambique, foram
sempre em zonas operacionais
e não na “rectaguarda do ar
condicionado”.
Foi um dos impulsionadores
dos “Flechas” (comandos
especiais africanos negros)
que eram recrutados e
treinados pela DGS, muitos
deles oriundos das forças
inimigas e que seriam
«abatidos a sangue frio, e
cujo único crime foi o de
defenderem os interesses da
Nação Portuguesa» (P. 205).
Foi um dos Comandos
Especiais que participou sob
as ordens do Tenente-Coronel
Gilberto Santos e Castro na
tentativa de assalto militar
a Luanda - antes da data da
proclamação da
independência, 11 de
Novembro de 1975 -, com as
forças da FNLA e da África
do Sul mas acabou vítima da
traição sul-africana que, à
última da hora, recuaram
para a fronteira – por ordem
e pela voz americana de
Henry Kissinger - sem antes
tirarem os dispositivos de
tiro e as culatras dos
canhões deixando assim
abandonados à sua sorte os
Comandos Especiais e a FNLA.
Diz:
«À FNLA e a nós, só restava
a retirada.
A guerra e os sonhos duma
terra prometida estavam
perdidos.
Nada mais havia a fazer.
Dias depois com as lágrimas
nos olhos, dirigi-me ao
avião que de Kinshasa me
traria de volta a Portugal.
Sabia que jamais iria
voltar.
Lembrei-me de todos os
amigos e camaradas de armas
que tinham tombado.
Lembrei-me daqueles que
ficavam, e que em mim tinham
confiado, acreditando na
esperança que lhes tinha
incutido.
Era uma sensação de
desconforto, como que de
traição e conivência com a
covardia, já que a coragem
não tinha de ficar, e com
eles encarar a morte que se
antevia e avizinhava.
Como era possível
apregoar-se a liberdade, a
defesa dos oprimidos, e
cantar-se a ignomínia, a
falsidade e a traição.
O avião levanta voo.
Tinha-se gorado a última
tentativa.» (P. 230).
Um livro a ler com muito
interesse.
Pena é que o autor se fique
apenas pelas 244 páginas do
livro, na certeza que -
graças à sua acção como
Inspector da DGS em Angola,
funcionário superior da
Polícia de Informação
Militar e do Gabinete
Especial de Informações
Militares do Comando-Chefe
das Forças Armadas em Angola
- muito ficou por dizer.
Aliás, o próprio o confirma
na nota de rodapé da página
230:
“Este capítulo é apenas um
resumo muito sucinto do que
foi a guerra a caminho de
Luanda. Descrevê-la em
pormenor, com os seus altos
e baixos, as esperanças e as
desilusões, os actos de
bravura e de heroísmo,
constituiria por si só
matéria para um livro.”
Talvez um dia se venha a saber toda a Verdade.
in: http://nonas-nonas.blogspot.com/2008/06/livro-era-tempo-de-morrer-em-frica-de.html