"Guerra em
Moçambique: um repórter na zona dos
combates"

título: "Guerra em Moçambique: um
repórter na zona dos combates"
autor: Nuno Rocha
editor: Ulisseia
1ªed. Lisboa, 1969
191 págs (ilustrado)
Sinopse:
O autor, jornalista do vespertino
lisboeta 'Diário Popular', reuniu em
livro uma série de reportagens que
efectuou em Moçambique, incluindo
algumas junto de militares
portugueses nas frentes de combate.
Excerto do
Prefácio:
- «Desejei escrever um livro sobre a
guerra de Moçambique sem qualquer
cor política. Tão pouco quis ser um
juiz do conflito. Apenas e
simplesmente um frio narrador de
factos, de paisagens e de
comportamentos humanos.
É um livro sem cor política, por
quê? Se a guerra é a última
expressão da política, parece que
não poderá falar-se em guerra sem,
primeiro, se efectuar uma busca às
origens. Mas creio que é possível,
apesar desta análise elementar,
escrever um livro sobre a guerra
ignorando completamente a política.»
Índice:
Agradecimento |
Dedicatória |
Prefácio |
Abril de
1968 - as noites
Lourenço-marquinas. |
A caminho
da frente - em Nampula;
o contacto com o
ambiente militar; luta
esgotante; um programa
pesado. |
Um fato
camuflado - preparando
os planos no covil da
guerra; preparativos
para um ataque a um
acampamento inimigo; o
início da operação. |
O funeral
do sargento Pacífico -
os preparativos para uma
grande operação. |
A visita
às águas - sobre as
áreas infestadas de
terroristas; visita a
Macomia; no
aquartelamento de
Mocímboa da Praia; o
regresso dos Comandos. |
Domingo
de Páscoa no acampamento
de Mueda - um povo
isolacionista. |
Uma festa
na escola. |
Regresso
a Nampula - um branco
disparou sobre as nossas
tropas; a Companhia de
Engenharia na "Curva da
Morte"; leitores do
'Diário Popular' sempre
atentos. |
Visita ao
centro da "Guerra
Psicológica" - 123 horas
semanais de programas
sobre Moçambique;
propaganda inimiga;
alguns aspectos
económicos da guerra;
visita à Ilha de
Moçambique. |
Em
direcção ao Lago Niassa
- a mini-saia invade a
África; processos
pacíficos de ganhar a
guerra; uma "arma" de
grande efeito, poços de
água; uma "operação
espectacular";
importante conhecer a
organização inimiga;
encontro com a Marinha
nas margens do Niassa. |
Em
Metangula - um belo dia
de sol; "Meu comandante,
posso arranjar mulher?";
o abastecimento de armas
do exterior. |
Na
fronteira com o Malawi -
estradas e
caminhos-de-ferro em
construção; será sempre
indispensável a ocupação
militar em Moçambique; a
caminho do mato;
encontro com um caçador
de leões. |
Como se
desenrola uma operação
táctica - a caminho da
Cantina Dias; o
helicóptero passou por
nós; emboscados três
vezes. |
O adeus a
África - "Há aí um
ferido?"; consciência
histórica; uma guerra
pegajosa. |
Documentos |
Documento
I - Os excepcionais
resultados da "Operação
Marte". |
Documento
II - Declarações do
secretário provincial do
efectivo militar da
Frelimo. |
Uma
guerra sem frente. |
Terrorismo: a arma
atómica dos pobres. |










Nuno Rocha um jornalista no norte
de Moçambique
Desde que o terrorismo eclodiu nas
nossas províncias ultramarinas, que
a Imprensa compareceu nos cenários
de luta, deslocando enviados
especiais, que acompanharam o
esforço titânico empenhado pelas
nossas Forças Armadas no
restabelecimento da ordem e da paz.
Nuno Rocha foi um dos jornalistas
que o «Diário Popular» colocou numa
das frentes de combate, mais
exactamente, em Moçambique. Um ano
depois, o repórter evoca para o
«Jornal do Exército» o que foi a sua
experiência em campanha, ao lado dos
nossos Soldados.
«Cumpre-se precisamente neste mês de
Abril de 1969 um ano sobre a minha
visita às frentes de combate em
Moçambique. Na vida de um
jornalista, os grandes
acontecimentos acumulam-se, em
imagens, por vezes fundamente
gravadas na nossa memória. Mas há,
realmente, alguns factos que emergem
dos outros e que os anos avivam.
Este é um desses casos. Não é uma
experiência vulgar esta, de um homem
habituado à vida serena de Lisboa se
encontrar, de súbito, deslocado para
paragens longínquas, contactando com
um autêntico clima de guerra.
Recordo facilmente a minha primeira
viagem ao encontro do Norte
moçambicano. Num bojudo Nord-Atlas,
carregado de Soldados e de caixas
com alimentos, fiz o percurso entre
Lourenço Marques e a Beira. Pela
primeira vez na minha vida,
esperava-me um camuflado em Nampula.
Mas foi ainda na Beira que tive
verdadeiramente contacto com a
guerra: na pista, centenas de
rapazes preparavam-se para um
embarque a caminho de Tete onde,
nessa altura, o terrorismo havia
aparecido subitamente. O mesmo Nord-Atlas
levou-me para Nampula e aí, ainda
nessa noite, fui ao depósito e
deram-me dois fardamentos completos,
que eu ia envergar, quotidianamente,
durante mais de uma quinzena.
No dia seguinte, parti para Moeda [Mueda],
no planalto dos Macondes onde,
então, a guerra estava
verdadeiramente acesa. Ao chegar,
ainda se viam vestígios recentes de
um bombardeamento feito com
morteiros ao campo de aviação, que
causara alguns estragos. Acontecera
na véspera. Naquele clima vivi oito
dias, em que se alternava um certo
medo, com alguns momentos
verdadeiramente agradáveis ao lado
de valentes rapazes para quem a
guerra era já uma rotina.
Figueiredo, o piloto dos caças;
Capitão Gaspar; Tenente Vicente -
eis nomes de amigos que os anos não
me hão-de fazer esquecer.
Viajei em todos os tipos de aviões
e, a bordo de pequenos monomotores,
percorri as longas distâncias do
Norte moçambicano, em busca de zonas
de terrorismo. Segui em colunas
militares. De perto, acompanhei a
luta diária de bravos soldados,
sempre prontos para o combate,
sempre ágeis e dispostos para a
luta.
Um ano decorrido, recordo com
saudade esses momentos. Dentro de
alguns dias terei a satisfação de
ver publicado um livro de
reportagens sobre esta minha
experiência de guerra. Esse livro
destina-se a contar ao grande
público, a heroicidade dos que têm
lutado nas plagas africanas do Norte
de Moçambique.»
Nuno Rocha