«Louvor n.º 288/2015
Louvo as antigas Enfermeiras
Paraquedistas, que tendo servido na Guerra do Ultramar
entre 1961 e 1974, desenvolveram obra marcante, fruto do
espírito de patriotismo, de audácia, de inovação, e de
devoção humana que sempre alardearam durante os anos de
serviço na Força Aérea. Desde o início da guerra do
Ultramar, trinta anos antes da inclusão do género
feminino nas Forças Armadas Portuguesas, souberam
responder ao chamamento da modernidade, abraçando uma
carreira de entrega e sacrifício físico e emocional em
prol dos militares seus camaradas chamados a combater
por Portugal.
A decisão de incorporar mulheres
nas Forças Armadas no princípio dos anos sessenta do
século passado, ainda hoje causa alguma perplexidade,
mas trabalhar no meio de homens, de igual para igual, na
frente do combate, agitou a sociedade daquela época. As
antigas Enfermeiras Paraquedistas foram precursoras e
souberam suportar o impacto de dar o salto que ninguém
antes delas tinha dado.
Para o Combatente Português, cada
uma delas era o anjo que descia do céu para o confortar
com uma palavra de irmã e de mãe, para lhe dar esperança
que iria haver um amanhã, para lhe tirar as dores
lancinantes que lhes percorriam o corpo. Ainda jovens,
souberam sempre ser as mulheres maduras que um militar
precisava ter a seu lado para lhe apontar o futuro;
ainda tão jovens, expostas às agruras da urgência da
guerra, sempre assumiram compromissos de dedicação e
eficácia perante quem tudo esperava delas, antes que a
vida se escoasse.
Sempre souberam resistir à
ansiedade de cada evacuação, ao contacto com o grito e
com o sangue; e conseguiram não chorar para não tirar a
esperança a quem olhava com medo para o futuro; as suas
palavras calaram desânimos e as suas mãos foram o
bálsamo para o momento aziago. No transporte de doentes
e feridos da frente de combate para os hospitais de
retaguarda foram exímias nas boas práticas de evacuação
aeromédica, inovando e melhorando procedimentos
aprendidos nos cursos. Foram também as psicólogas tão
necessárias no intervalo entre operações, confortando e
inspirando os mais carentes nos instantes de medo ou de
dúvida. Para além do teatro africano, tiveram também
oportunidade de apoiar decisivamente ações de evacuação
de civis e militares prisioneiros das tropas indianas e
de civis refugiados de Timor -Leste.
Com o seu sentido de dever, sempre
cumprido, com o seu espírito de superação das dores
alheias, as antigas Enfermeiras Paraquedistas ainda são
um exemplo de capacidade dos portugueses para realizar
ações ao mais alto nível; são merecedoras de respeito e
de gratidão e devem ser publicamente apresentadas como
exemplo de que a dádiva aos outros e à comunidade é uma
atitude superior, uma superação das naturais limitações
humanas.
Pelo exposto e pela importância de
toda a obra desenvolvida pelas antigas Enfermeiras
Paraquedistas, que serviram as Forças Armadas e
Portugal, na Força Aérea entre 1961 e 1974, é de inteira
justiça considerar que são totalmente dignas deste
público reconhecimento, que mereceu o apoio e
acolhimento por unanimidade do Conselho de Chefes de
Estado-Maior em sessão realizada a 15 de maio de 2015.
4 de junho de 2015. — O Chefe do
Estado-Maior General das Forças Armadas, Artur Pina
Monteiro, General.»
