Evocamos, hoje, o início de um conflito em que as
Forças Armadas portuguesas estiveram envolvidas,
durante quase 14 anos, em África. Fazemo-lo frente
ao monumento “Aos Mortos da Guerra do Ultramar”,
numa homenagem sentida àqueles que, entre 1961 e
1974, foram chamados a combater por Portugal e se
dispuseram a perder as suas vidas pela Pátria.
Foi um esforço tamanho da Nação. Foram anos de
incorporações sucessivas, envolvendo cerca de um
milhão de jovens de todas as regiões do País que, de
forma exemplar, cumpriram a sua missão por terras
africanas.
Ao percorrer com o olhar a parede em redor do
monumento, encontramos os nomes dos cerca de 9 mil
portugueses mortos em campanha nessa guerra ainda
bem presente para muitos de nós. Podemos, aí, rever
nomes de familiares ou de amigos. E recordar,
também, aqueles que, ao longo de quase nove séculos,
deram a sua vida para que Portugal seja hoje uma
nação livre e independente.
Para lá da memória, impõe-se o reconhecimento de
todos os que, pela sua acção na defesa de Portugal,
sofreram no corpo e na alma o preço do dever
cumprido. São merecedores de todo o nosso profundo
respeito.
Saudamos com especial apreço, pelo muito que lhes
devemos, os militares de etnia africana que, de
forma valorosa, lutaram ao nosso lado. Todos,
combatentes por Portugal!
Hoje aqui não homenageamos uma época, um regime ou
uma guerra. Trata-se, simplesmente, de uma homenagem
da Pátria àqueles que se encontram entre os seus
melhores servidores.
É, aliás, de toda a justiça distinguir a intervenção
militar que permitiu que um País com a dimensão e os
recursos de Portugal pudesse manter o controlo sobre
três teatros de operações distintos, vastos e
longínquos. É internacionalmente reconhecida a forma
como foi concebida a estratégia da guerra e travados
os combates, o que demonstra o esforço do País e
dignifica a memória dos seus combatentes.
Os laços e as ligações resultantes da continuada
cooperação entre as forças de Terra, Mar e Ar, nas
operações em África, são um importante legado para
os dias de hoje, devendo constituir inspiração para
um emprego conjunto cada vez mais eficaz.
Todos têm presente a importância capital do apoio e
da evacuação aérea para as operações terrestres ou,
como foi o caso na Guiné-Bissau, da acção conjunta
do Exército com a Marinha e os seus fuzileiros.
Combatentes,
Importa reconhecer que os soldados portugueses
foram, em África, soldados de excepção. Fizeram da
distância e da saudade um desafio a vencer,
assumiram a falta de recursos como razão para a
iniciativa e para a adaptabilidade, tomaram a
juventude e os seus receios, temperados pela
camaradagem e pelo patriotismo, como ingredientes
para uma conduta digna e, muitas vezes, heróica.
É desta lembrança de uma camaradagem fortalecida em
tempos difíceis de guerra que resultam, também, os
convívios que anualmente juntam, nos lugares de
Portugal, os antigos combatentes e as memórias dos
que ficaram em África.
São manifestações com uma dimensão e significado sem
precedentes no todo nacional.
É a evocação de um período que deixou uma marca
indelével numa geração que herdou, desses tempos,
uma consciência aguda das consequências da guerra e
do reconhecimento claro das prioridades da vida.
Foi a capacidade de sofrimento e o exemplo de
coragem das mulheres de Portugal, a quem tantos
sacrifícios foram pedidos, pela ausência ou perda
dos seus, e que tudo suportaram na sua solidão e nos
seus silêncios, tantas vezes esquecidas.
Foi o enorme desafio vencido por aqueles que,
regressados de África, tiveram que refazer as suas
vidas, começando tudo de novo, fazendo apelo ao
espírito empreendedor e à capacidade de lutar que
sempre os caracterizaram. Foi toda uma rede de
apoios e de afectos criada no seio das famílias e do
País, que facilitaram a sua integração no tecido
laboral e social, ultrapassando as muitas
dificuldades criadas pelo ambiente instável que se
vivia.
A guerra em África materializou, como salientei em
2010, no Dia do Combatente, “o fim violento de um
ciclo nacional, mas que deixou, nas picadas
sangrentas que trilhou, honra militar capaz de abrir
o caminho a uma cooperação fraterna e frutuosa” com
aqueles países irmãos.
Temos, hoje, a oportunidade de consolidar esta
cooperação num espaço de partilha de valores, de
cultura, de língua, de laços familiares e de
interesses. O desafio, agora comum, é o de lutar por
um futuro melhor, de desenvolvimento e de paz.
Às gerações mais novas, é importante transmitir o
testemunho de quem enfrentou a adversidade ombro a
ombro com aqueles a quem confiava a vida e por quem
a daria também; o testemunho de quem conhece a
relevância de valores como a solidariedade, o
profissionalismo, o mérito e a honra, a família e o
País.
País que será mais bem defendido se contar com a
mais-valia da vossa experiência e da vossa
participação activa, como exemplo e fonte de
motivação para os mais jovens que, tendo crescido
num ambiente de maior conforto e de paz, enfrentam o
futuro num Mundo incerto, onde as crises e o
conflito não deixam de ser uma constante.
Combatentes,
A vossa geração criou, também, as condições para que
Portugal seja um País democrático, mais livre, mais
solidário e mais aberto ao Mundo. Importa que os
jovens deste tempo se empenhem em missões e causas
essenciais ao futuro do País com a mesma coragem, o
mesmo desprendimento e a mesma determinação com que
os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação
na guerra do Ultramar.
Como Portugueses, não haverá causa maior do que
dedicarmos o nosso esforço e a nossa iniciativa ao
serviço da Nação e dos combates que é necessário
continuar a vencer, para promover um futuro mais
justo, mais seguro e mais próspero para todos.
Juntos, continuaremos a afirmar Portugal.
O meu bem-haja pela vossa presença, em nome dos
Portugueses e de todos aqueles que hoje aqui
recordamos. Foi por eles, por vós e por Portugal que
aqui viemos.
Viva Portugal.