Apoio de um
colaborador do portal UTW
AM51
- Mueda (Moçambique)
A
cidente
aeronáutico: 02 de Maio de 1973
Pelas 20:55 de 4ªfeira do dia 02 de
Maio de 1973 o Nordatlas 6411, ao
fazer-se à pista do Aeródromo de
Manobra 51 (AM51-Mueda), com má
visibilidade, procedeu a aterragem
apertada e baixa, arrastando uma das
asas que embateu em árvore de grande
porte.
Daquele
fatídico acidente aeronáutico,
resultaram as mortes de nove
militares:
-
ALBERTO MANUEL LOPES SANTIAGO
(1Cb MMA)
- ALFREDO ANTÓNIO PENACHO DE
AZEVEDO (Cap milº grd Pil)
- ANTÓNIO JOSÉ RAMOS VALENTE
(1Cb MELEC)
- AUGUSTO AREDE CORREIA DA COSTA
(Fur milº Tms)
- CASSIANO LOPES SÃO BENTO
(1Sg SvcSaude)
- DANIEL PEREIRA DIAS (1Cb Rt)
- FRANCISCO DA CRUZ BOTELHO
(1Sg MELEC)
- JOSÉ ARMANDO SANTA RITA
VARANDAS (1Sg MMA)
- MANUEL AMADOR PESQUINHA DA
SILVA (Ten PilNav)
Paz às suas Almas.
--------------------------------------------------------------
Texto e imagens do veterano
Carlos Pedro,
da 1ªBAC/GAC6
Durante o tempo em que estive em
Mueda, dos finais de Abril de 1972
até finais de Junho de 1973, estive
integrado na 1ª Bateria de
Artilharia de Campanha, do Grupo de
Artilharia de Campanha Nº 6, sendo a
minha especialidade a de Munições de
Artilharia.
Dada a localização deste
Aquartelamento, fomos dos primeiros
a apercebermo-nos de alguma coisa
errada com o Nordatlas, pois
deixámos de ouvir o ruído dos
motores e ao vermos uma coluna de
fumo de onde sabíamos vir a
aeronave, não hesitei e disse a um
condutor de um unimog para nos
deslocarmos para onde começava a
descida para as Águas, tendo sido
acompanhados por mais alguns
camaradas. Fomos os primeiros a
chegar e o cenário que se nos
deparou era dantesco.
Fomos encontrar um Furriel
Miliciano, do sector dos
transportes, que estava destacado em
Nampula e que tinha vindo de
"boleia" para passar por Mueda e
outros locais por onde o avião
passou, agarrado à rede de arame
farpado, em choque, a chamar em alta
voz repetidamente pela mãe. Tentei
acalmá-lo para ver se não falava tão
alto, pois não sabíamos se o avião
tinha sido ou não abatido e poderia
haver atiradores por perto. Não
tinha um arranhão visível e no dia
seguinte quando falei com ele,
disse-me que vinha na parte de trás
do aparelho, o que lhe deve ter
salvo a vida. Os outros passageiros
e tripulantes não tiveram essa
sorte. Encontrámos um soldado preto
com fracturas expostas nas duas
pernas, ainda consciente, que tentei
acalmar e animar, dizendo-lhe que as
pernas iriam ficar boas e que o
socorro já vinha a caminho; soube
depois que tinha falecido durante a
noite no hospital, decerto devido a
outros traumas. Não encontrámos mais
ninguém com vida, pelo menos até
onde foi possível chegar dadas as
altas temperaturas que se faziam
sentir.
Mas o que mais me chocou foi ver 4
mãos que sobressaíam do que penso
ser o cockpit, provavelmente os
pilotos, envoltos num mar de chamas.
Como já era de noite, chamávamos
para ver se alguém ainda estaria
vivo e tentávamos ver no meio do
mato com a luz do próprio incêndio.
Com o calor, havia bidões de
combustível que ao dilatarem com os
gases que se iam gerando no seu
interior, a chapa dos mesmos rompia
e o combustível ao sair incendiava,
parecendo lança-chamas.
Houve uma altura que tive de correr
pela encosta abaixo com um calor
insuportável nas costas, pensando
que se tropeçasse e caísse, era o
meu fim.
Não posso precisar, mas penso que só
chegou ajuda organizada passado uma
meia hora e quando debaixo de toda
aquela carga nervosa comentei "Onde
é que estava Mueda para ajudar?",
houve um filho da p... dum capitão
que me mandou calar ameaçando-me que
me dava uma "porrada".
Eu estou presente nas fotos #9 e
#19. Embora na altura já tirasse
fotos a cores e diapositivos,
naquele momento o que tinha na
máquina fotográfica era um rolo a
preto-e-branco.
No dia seguinte lá fui bem cedo,
para ter uma melhor percepção do
teria acontecido. Era evidente que o
avião tinha capotado, depois de ter
embatido com a asa do lado esquerdo
numa árvore.
Não sou perito, mas penso que o
acidente se ficou a dever por o
piloto ter confundido as luzes
daquilo a que chamávamos "avenida"
com a iluminação, que no caso de
utilização da pista à noite, o que
era muito raro, era feita com
lamparinas de acetileno. A chamada
"avenida" e a pista faziam entre si
sensivelmente 90 graus.









Carlos Pedro, da 1ªBtr/GAC6










Carlos Pedro, da 1ªBtr/GAC6



--------------------------------------------------------------

