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Condecorações

José Paulo dos Santos, 2.º Sargento de Infantaria, da CCac165/BCac158

 

"Pouco se fala hoje em dia nestas coisas mas é bom que para preservação do nosso orgulho como Portugueses, elas não se esqueçam"

 

Barata da Silva, Vice-Comodoro

HONRA E GLÓRIA

 

José Paulo dos Santos, 2.º Sargento de Infantaria

 

Companhia de Caçadores 165 do Batalhão de Caçadores 158

«UNIDOS VENCEREMOS»

 

Angola: Jun1962 a 16Abr1963 (data do falecimento)

 

 

Grau de Cavaleiro, com palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito

(Título póstumo)

 

 

José Paulo dos Santos, 2.º Sargento de Infantaria, nascido no dia 7 de Novembro de 1930, nascido na freguesia do Peso, Concelho da Covilhã, filho de Manuel Paulo e de Maria José dos Santos, solteiro;

 

Furriel veterano do Estado da Índia Portuguesa, em 19 de Dezembro de 1961 capturado pelas tropas da União IndianaI invasoras, cativo no campo de prisioneiros de Pondá desde 16 de Janeiro de 1962 a 6 de Maio de 1962, regressado no NTT 'Pátria' em 12-26 de Maio de 1962;

 

Voluntariou-se para servir na Região Militar de Angola e foi colocado na Companhia de Caçadores 165 (CCac165) do Batalhão de Caçadores 158 (BCac158) «UNIDOS VENCEREMOS», aquela se encontrava em actividade operacional no sector de Nambuangongo, a qual em Junho de 1962 rodou para Nova Caipemba.

 

Faleceu no dia 16 de Abril de 1963 em Catalabanza, morro a noroeste de Nambuangongo, em consequência do arrebentamento de uma granada defensiva lançada por um turra da FNLA, a qual tinha caído entre os seus homens e que ao deflagrar não deixaria de produzir-lhe elevado número de baixas, permitindo, ainda, aos atacantes, apoderar-se do armamento, pelo que se lançou sobre ela evitando com o sacrifício da própria vida a perda dos seus subordinados.

 

Tinha 32 anos de idade.

 

Está inumado no cemitério da freguesia da sua naturalidade.

 

Paz à sua Alma

 

Grau de Cavaleiro, com palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito

(Título póstumo)

 

 

2.º Sargento de Infantaria
JOSÉ PAULO DOS SANTOS


CCac 165/BCac 158 - RI 2
ANGOLA


Grau: Cavaleiro, com palma (Título póstumo)


Transcrição do louvor concedido pelo Ministro do Exército e publicado na OE n.º 28 - 3.ª série, de 1963:


Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, louvar, a título póstumo, o 2.º Sargento de Infantaria, José Paulo dos Santos, da Companhia de Caçadores n.º 165, do Batalhão de Caçadores 158, do Regimento de Infantaria 2, que morreu em Angola gloriosamente em frente do inimigo no cometimento de excepcional acto de abnegação e coragem, ao lançar-se sobre uma granada de mão defensiva que, lançada pelo inimigo, caíra entre os homens da Secção de atiradores que comandava.


Conseguiu o 2.º Sargento Santos, com a dádiva da sua vida, não só evitar a perda dos seus homens, mas também que a Secção, galvanizada por tão alto feito, reagisse de tão excepcional maneira que supriu a desvantagem em que se encontrava e acabasse por pôr o inimigo em fuga.


Ministério do Exército, 17 de Setembro de 1963.
 

O Ministro do Exército, Joaquim da Luz Cunha.


Transcrição do Alvará publicado na Ordem do Exército n.º 36 - 3.ª série, de 1963:


Considerando as qualidades verdadeiramente extraordinárias de Chefe e condutor de homens reveladas em combate;


Considerando que, em Abril de 1963, quando seguia com a sua Secção na testa de um grupo de combate em operações na região de Catalabanza, enfrentou com grande calma e domínio absoluto da força que comandava, um ataque de aguerrido grupo de terroristas;


Considerando que, no decorrer do combate, ao aperceber-se de que caíra entre os seus homens uma granada de mão defensiva, arremessada pelo inimigo e que ao deflagrar não deixaria, certamente, de produzir-lhe elevado número de baixas, permitindo, ainda, aos atacantes apoderar-se de armamento, lançou-se sobre ela, evitando, com o sacrifício da própria vida, a perda dos seus subordinados;


Considerando o acto consciente praticado de excepcional heroísmo, abnegação e coragem;


Por Alvará de 15 de Novembro do corrente ano, publicado no Diário do Governo n.º 281 - II série, de 30 do mesmo mês, foi agraciado, a título póstumo, com o grau de Cavaleiro, com palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, o Segundo Sargento de Infantaria, José Paulo dos Santos.
 

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In Jornal do Exército n.º 42, página 31, de Junho de 1963

 

 

Região dos Dembos, Norte de Angola, Portugal.


O Sol estava a pino, dardejando os seus raios sobre a terra escaldante. O ar estava pesadíssimo, saturado de uma poeira branca, muito fina, que secava as gargantas e os olhos, cobrindo tudo.


A natureza parara, e, vencida, prostrada, esperava, que a hora do calor passasse.


Um insecto, zumbindo, poisou na testa de um soldado, que o sacudiu. Afastou-se, e o seu ruido monótono foi, ouvido por muito tempo.


A patrulha, soldados portugueses, com os seus fatos de combate camuflados e as suas armas de guerra, negras, avançava em duas colunas, flanqueando a estrada de terra batida. Os pés levantavam pequenas nuvens de poeira. O cansaço era tremendo e a atmosfera arrasante.


Só uma firme moral, uma força de vontade educada e corpos bem treinados podiam vencer a estranha sonolência que lutava para neles se instalar.


O suor escorria pelos rostos rijos e queimados.


Aproximavam-se dum morro (objectivo da missão) coberto de mato numa encosta, a outra nua, que oferecia um aspecto desértico e hostil.


Comandava a patrulha o 2.º Sargento José Paulo dos Santos, homem calejado por anos de campanha, em África e na Índia.


Conhecia os seus homens como a si mesmo; sabia das suas qualidades, - e porque não? - até dos seus defeitos. Eram os «seus homens», todos valentes, camaradas. Unia-os uma firme amizade, e quando um se deixava vencer pelos duros problemas que a cada passo lhes surgiam, tinha sempre uma palavra, um conselho amigo. Gostava deles como pai... como irmão... um irmão mais velho.


Com o Sol ainda a prumo, chegaram ao sopé do monte e bateram a região. Estava deserta. Nem vestígios de um terrorista; sempre em fuga; luta de guerrilhas, de traição.


Então, chegou a altura dum pequeno descanso e com ele um momento sempre difícil: o da escolha das sentinelas, os homens que ficariam velando, enquanto os companheiros se abandonavam a um sono quanto possível reparador.


Percorreu os homens com um olhar. Cansados, cobertos de poeira e suor, barba de dois dias. Todos esperando que mais um sacrifício lhes fosse exigido.


Deitem-se rapazes, e descansem. Bem o merecem. Eu vigiarei.


Tiveram um movimento de recusa, que logo se extinguiu ao verem a sua expressão. Já o conheciam. Não valia a pena oferecerem-se. Seria ele quem vigiaria, enquanto a patrulha descansasse. Houve nos olhos dos soldados um brilho intenso. O brilho da amizade e da gratidão.


Deitaram-se em círculo, escolhendo sombras, colados à terra, procurando conforto. Armas ao lado, aperradas. Só então o sono os venceu.


O Sargento procurou com a vista um lugar para se sentar. Uma enorme magnólia, com as suas raízes emergindo da terra, pareceu-lhe bem.


Foi até lá, lentamente, procurando com a vista qualquer possível perigo. Não, os sentidos não lhe indicaram nada, mas havia qualquer coisa no ar. Não, era a tensão, era o cansaço...


Sentou-se, e assim esteve muito tempo. Pelo menos, pareceu-lhe. Sentidos alerta. Havia qualquer coisa... Não, estava cansado, eram os nervos...


De repente ouviu partir-se um ramo à sua direita. Levantou-se rapidamente, apontando a metralhadora para o que desse e viesse.


E ainda as viu. Duas cabeças de negros, tentando esconder-se no capim, talvez a cinquenta metros. Premiu o gatilho. O chumbo partiu em rajada, sibilando e fervendo. Ouviram-se dois gritos. Depois muitos mais, porém, estes não de feridos, mas de guerra. Os terroristas atacavam, disparando à toa.


Os soldados, acordados pelos primeiros tiros, erguiam-se rapidamente pegando nas armas. A reacção foi imediata; as rajadas sucediam-se. Os assaltantes começaram a debandar, deixando mortos e feridos.


Foi então que ouviu um baque surdo. Olhou. Uma granada, prestes a explodir, caíra dentro do círculo formado pelos soldados. Rapidamente, viu que muitos dos seus tombariam; não tinha tempo de a atirar para longe.


Então o seu corpo voou, caindo sobre ela e protegendo os seus rapazes da morte.


Soou uma explosão abafada. O 2.º Sargento José Paulo dos Santos, um homem e um herói, morreu algures nos Dembos, Norte de Angola, Portugal…

 

 

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In Jornal do Exército n.º 66, páginas 9 e 8, de Junho de 1965

 

CONSIDERANDO as qualidades verdadeiramente extraordinárias de chefe e condutor de homens reveladas em combate;


Considerando que, em Abril de 1963, quando seguia com a sua secção na testa de um grupo de combate em operações na região de Catalabanza, enfrentou com grande calma e domínio absoluto da força que comandava um ataque de aguerrido grupo de terroristas;


Considerando que, no decorrer do combate, ao aperceber-se de que caíra entre os seus homens uma granada de mão defensiva arremessada pelo inimigo e que ao deflagrar não deixaria, certamente, de produzir-lhe elevado número de baixas, permitindo, ainda, aos atacantes, apoderar-se de armamento, lançou-se sobre ela evitando com o sacrifício da própria vida a perda dos seus subordinados;


Considerando o acto consciente praticado de excepcional heroísmo, abnegação e coragem;


Por alvará de 15 de Novembro de corrente ano, publicado no «Diário do Governo», n.º 281, II Série, de 30 do mesmo mês, foi agraciado, a título póstumo, com o grau de Cavaleiro, com palma, da Ordem Militar da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito o Segundo Sargento de Infantaria, JOSÉ PAULO DOS SANTOS.

 

 

 

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O seu nome faz parte da toponimia na freguesia da sua naturalidade e na cidade de Lisboa, freguesia de Santa Maria de Olivais, desde 26 de Novembro de 1964:

 

 

 

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