

Angola - 7.ª Companhia de
Caçadores Especiais
7.ª Companhia de Caçadores Especiais
Angola 1961 / 1963
Texto da autoria de
Valdemar Diniz Clemente,
Coronel de Infantaria
Reformado,
extraído da internet
pela equipa do UTW.
Angola 1961: a
eclosão do terrorismo
Esclarecimentos de um
protagonista
Caros Camaradas e
Amigos
Tenho vindo, de
maneira superficial, a acompanhar estes comentários
sobre o início do designado «terrorismo» em Angola,
sobre os massacres então ali ocorridos, sobre os
primeiros reforços militares enviados e respectivas
actuações e, tal como já previa, acabo por constatar os
mesmos lapsos ou (no mínimo) omissões que de forma
lastimável, incompreensível e inadmissível se têm
verificado e repetido, nomeadamente, até em registos de
natureza, dimensão e importância qualitativamente muito
diferentes já que "se inscreverão na história", tais
como publicações e livros diversos - alguns deles
(infelizmente) de autores militares -, intervenções
avulsas ou contextualizadas nos "media" nacionais,
programas e séries de TV em que não deixo de incluir a
recente produção da autoria do jornalista J. Furtado.
Procurarei, assim, e para já exclusivamente no que
respeita à questão particular referente às primeiras
forças militares enviadas (mobilizadas) para Angola,
após a eclosão do conflito (noite de 15/16 de Março de
1961), repor a verdade sobre os factos ocorridos com
vista a clarificar os lapsos e/ou omissões acima
citados, mais que não seja, como acto de muito respeito
e testemunho de veneração por todos aqueles que já não
se encontram entre nós, precisamente por, nesse tempo
distante mas sempre tão presente, terem dado as suas
vidas no cumprimento do nobre dever que só a «condição
militar» (especificidade tão incompreendida e tão
maltratada, até, tem vindo a ser nestes últimos tempos)
obriga. Falo, como é óbvio, dos deveres para com a
Pátria, mormente, o do sacrifício da vida, inscritos no
Código e no Juramento de Honra do cidadão militar.
Passemos, porém, aos factos em apreço. A 16 de Março,
logo que conhecidos foram pelo poder político, na
(então) Metrópole, os sangrentos e criminosos actos
ocorridos em Angola na data acima referida, por decisão
superior foi determinado o imediato envio para ali, por
via aérea em aviões da TAP, da 7ª Companhia de Caçadores
Especiais - 7ªCCE (posteriormente denominada 78ª) que se
encontrava sedeada no B.C.5 em Lisboa e que muito
recentemente havia completado a sua instrução de
aprontamento operacional no Centro de Instrução de
Operações Especiais - CIOE, em Lamego. A urgência
imposta revestiu tal grau que a nenhum seu militar,
inclusive aos residentes em Lisboa e na sua cintura, foi
autorizada a saída do quartel para contacto e despedida
dos seus familiares; houve, nessa tarde, que se proceder
à vacinação de todo o pessoal no Institudo de Medicina
Tropical, fazer espólios, distribuir novas dotações de
fardamento camuflado, distribuir armamento ligeiro e
munições aos graduados e receber instruções adequadas à
situação.
Esta sub-unidade era comandada pelo Capitão de Inf.
Abílio Eurico Castelo da Silva, que ao princípio da
noite de 16 de Março de 1961, marchou com um 1º escalão
da mesma num Super-Constellation da TAP (via ilha do
Sal); face à total indisponibilidade de mais qualquer
aeronave da respectiva frota, nessa data, só a 18 e 19
de Março, nas mesmas condições, marcham os 2º e 3º
escalões da Companhia, sendo este último comandado por
mim (Alferes de Infª, cmdt do 1º Pelotão e Adj. do Cmdt.).
Esta primeira força militar rapidamente encaminhada para
o teatro de operações e, normalmente, pouco citada antes
quase sempre omitida, até, nas mais diversas referências
e descrições, quer faladas quer escritas, àcerca do
início do conflito em Angola, ocorre relativamente
apreciável tempo antes, ainda, da mobilização de
unidades de escalão Batalhão - e acaba por realizar, à
semelhança de outras muito poucas sub-unidades para lá
mobilizadas ainda antes de 15 de Março de 1961, assim
como das também poucas para lá deslocadas na
circunstância, missões difíceis em condições perigosas,
que exigiram sacrifícios de toda a ordem num ambiente de
enorme tensão e de grande e generalizada instabilidade
psicológica, por que não dizer mesmo de verdadeiro
pânico das populações e de muita preocupação por parte
das autoridades civis e militares.
É, pois, neste quadro que a 7ª CCE cumpre múltiplas
missões nos Distritos do Quanza Norte e do Uige,
centradas em toda a região dos Dembos (e rio Dange),
área das inúmeras e grandes roças produtoras de café,
que constituíram os «alvos» preferenciais da barbárie,
em pé de igualdade com a quase totalidade das pequenas
povoações, algumas das quais sedes de Administrações e
de Postos Administrativos, onde, em comum, se
desenrolaram os mais traiçoeiros e impiedosos ataques
efectuados pelo movimento dirigido por Holden Roberto,
designado, então, por "União das Populações de Angola" -
UPA.
Esta intervenção de grande mobilidade sobre os Dembos é
realizada pela 7ªCCE (-), já que dois dos seus pelotões
foram destacados para garantir a segurança da capital de
Distrito do Quanza Norte (Salazar), das povoações de
Dondo e de Lucala e da barragem de Cambamba à data em
plena construção, e pela 6ª C Caçadores (-) com a qual
se verifica idêntico emprego atribuindo-se-lhe a
segurança das povoações de Quibaxe, Bula-Atumba,
Pango-Aluquem entre outras. Estas forças foram, para o
efeito, integradas num Comando de Batalhão (muito
reduzido), denominado por "Batalhão Eventual" e cujo
comando foi atribuído ao (então) Major de Infª Rebocho
Vaz que, até aí, desempenhava as funções 2º Cmdt do RI
de Luanda.(Recorda-se aqui que o Ten Inf Jofre Prazeres,
morto poucos dias depois, era seu adjunto e pertencia,
igualmente, àquele RI).
Nas acções, inicialmente desenvolvidas, sempre em
condições muito complexas e sem o mínimo apoio
logístico, por total inexistência de meios, o seu
pessoal procede ao levantamento dos hediondos danos
cometidos pelo inimigo por toda essa vasta região, tenta
a identificação e trata dos inúmeros mortos encontrados,
salva e recupera bastantes colonos e nativos (bailundos)
assalariados nas roças, que haviam conseguido furtar-se
aos ataques (chacinas) fugindo e escondendo-se na mata e
noutros locais seguros, dando-lhes todo o auxílio e
protecção na desesperada busca de familiares não
encontrados assim como na recuperação de alguns bens
mais significativos, presta socorros a feridos que
surgiram nas mais díspares situações e ajuda as
populações a organizar-se em autodefesa nas povoações
não atacadas e não abandonadas. Simultaneamente e com
frequência, efectivos seus, na exploração de notícias
obtidas e na perseguição de grupos inimigos,
confrontam-se e travam com eles acções de combate,
sobretudo aquando vítimas de emboscadas, por norma,
montadas em locais difíceis e preparados com abatises.
É neste cenário e nestas condições que, decorridos que
foram cerca de 15 dias de permanência em Angola, não
obstante as inúmeras baixas provocadas ao inimigo, a 7ª
CCE contava já, também, com um considerável número de
baixas em combate - 7 mortos e 1 desaparecido.
De entre os mortos figurava o próprio comandante, Cap.
Castelo da Silva, chefe que todos, mas todos, os seus
subordinados veneravam profundamente e que, por todas as
formas, tentavam tomar como exemplo (morto e chacinado
com outros militares, em 02 de Abril de 1961, numa
emboscada sofrida no triângulo Aldeia Viçosa - Vista
Alegre - Cambambe, concretamente em Cólua).
Figura ímpar nas suas dimensões de Homem e de Militar
sobravam-lhe qualidades e virtudes que o tempo - não
fosse todo o infortúnio desse nefasto acontecimento -
inexoravelmente se encarregaria de conferir os devidos
reconhecimento e realce.
Ocorre de forma inverosímil, injusta e vergonhosa que
este Distinto, Valente e Exemplar Militar nem,
postumamente, merecedor foi de um singelo louvor.
O historial pátrio tem inscritos, também, exemplos
destes!!
Valdemar Diniz Clemente (Cor. Infª Reformado)
NOTA – O autor deste comentário pede a todo e qualquer
cidadão e agradece, profundamente, que faça dele a maior
divulgação já que, face ao pensamento corrente e
dominante nas actuais "elites", tão distraídas,
rejeitantes e altamente aleivosas desse passado
nacional, o simples conhecimento destes factos assim
como de tantos outros da mesma sorte, possa constituir
uma salutar lufada de natureza conceptual relativa à
Honra, ao Respeito e à Gratidão.
Por outro lado e da nossa parte, tal gesto representará
sempre uma pequeníssima Homenagem ao Cap. Infª A. Eurico
Castelo da Silva e a todos os demais militares vítimas
dos repugnantes acontecimentos desse período.
Este pedido abrange a inserção em blogues que, pela sua
estratégia editorial, possibilitem o esclarecimento dos
acontecimentos militares de 1961 em Angola e outros
semelhantes.
Fonte:
http://viriatos.blogspot.com/2008/05/angola-1961-ecloso-do-terrorismo.html
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Nota:
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A 7.ª Companhia de
Caçadores Especiais vai realizar o seu
Encontro Convívio em Ponte Sôr, no dia 18 de Abril de
2009
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