MOÇAMBIQUE - "À Conquista da Serra" (Drama e
tragicomédia) - 1.ª parte

J. Antero Ferreira
Joaquim
Antero Ferreira, Furriel Mil.º, mobilizado pelo
Batalhão de Caçadores 10 (Chaves), para servir
na província ultramarina portuguesa de
Moçambique integrado na Companhia de Caçadores
2321 «OS PIONEIROS DA SERRA DO MAPÉ» do Batalhão
de Caçadores 2837, no período de 1968 a
1970
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um dos sublinhados que se seguem:
"À
Conquista da Serra" - 1.ª Parte
G. C. Alf. Milº. FONSECA - L.M. 1968 - Destino - CABO
DELGADO
Momento da Partida da
CCac2321 de Macomia para a Serra do Mapé:
24Dez1968
Baixas em combate, condecorações e louvores no período
de Nov-Dez1968 a Jan1969
Louvor do Comandante do Batalhão
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De: J. Antero
Ferreira
Enviada: terça-feira, 1 de Maio de 2007 23:35
Para: UTW
Assunto: "À CONQUISTA DA SERRA" (DRAMA E TRAGICOMÉDIA)
Numa tentativa
de exorcizar fantasmas, com quase 40 anos de memória,
envio narrativa de factos ocorridos (no já longínquo dia
17 - Dez - 1968) a quando da abertura da "Picada da
Serração Mecânica", no sector de Macomia, em Cabo
Delgado.
"À
CONQUISTA DA SERRA"
(DRAMA E
TRAGICOMÉDIA)
...Já
tinham decorriam algumas semanas, desde que se iniciara
a abertura da famigerada "Picada da Serração Mecânica",
rasgando-se o único "trilho", até então existente que,
só a pé, permitia o acesso ao "Cruzamento do Alto"
(Serra do Mapé). Partindo da picada - Macomia - Chai
- terminava, cerca de 20 km acima, no local, no qual,
dias mais tarde, se viria a construir aquele que seria
(durante longos meses) o “Aquartelamento” da Compª. Caçº.
2321.
Num esforço
sobre-humano, face à forte inclinação do terreno (para
nós, era "sempre a subir") aos inúmeros obstáculos
naturais, à falta de meios adequados (a única máquina
disponível para o efeito, quase sempre se "recusava" a
progredir, passando mais tempo em "reparações" do que em
"devastações") e ao risco! de sermos constantemente
"importunados" pelo inimigo, finalmente, no dia 17 - Dez
-1968, um primeiro Grupo de Combate, da Compª. Caçº.
2321, conseguiu atingir o "objectivo", passando então a
ser possível!..."circular", com viaturas, desde Macomia
até ao "Cruzamento do Alto".
No início da
tarde, desse mesmo dia, um outro Grupo de Combate
(comandado pelo então Alf. Milº. Fonseca) partia, em 3
viaturas "Unimog", com o mesmo destino, tendo como
objectivo reforçar a "posição conquistada",
transportando; mais Camaradas, armas, munições,
mantimentos e "novos" meios de comunicações, via rádio,
(dado o existente no local se ter avariado). Incumbido
que fui, pelo Comandante do Batalhão (por também ser
essa uma das minhas obrigações) de me deslocar à "Serra"
para reparar a avaria, ocupei lugar na 2ª viatura, ao
lado do soldado condutor auto (Manuel Oliveira Pato -
da CCS) juntamente com uma dezena de outros Camaradas,
sentados (como era habitual) nos bancos traseiros da
viatura.
Concentrado nas recentes palavras do Comandante do Batº.
(Coronel - Octávio Galvão de Figueiredo) «Só
estás autorizado a regressar da "Serra"... quando o
"Rádio"
funcionar!...» fui, subitamente confrontado
com outra "preocupação" quando, numa zona da "picada",
com curvas e contracurvas (e onde a vegetação "abraçava"
ambos os lados da mesma) as 1ª.e 2ª. viaturas foram
"varridas" com a metralha do inimigo que "despejando"
tudo o que dispunha logrou atingir o maior número de
Camaradas que tinham sido apanhados na "Zona de Morte".
"Catapultámos"
instintivamente das viaturas, procurando no solo o
abrigo possível, lá reagimos como era habitual!.. em
tais circunstâncias...
Felizmente o confronto durou "escassos" momentos e a
oportuna reacção dos Camaradas da 3.ª viatura (que não
foram directamente visados pelo fogo do inimigo) ajudou
a pôr cobro à emboscada.
Após alguma
confusão, gritos, ordens e alguns disparos de morteiro,
sobre o inimigo em fuga, procedeu-se ao reagrupamento e
ao inevitável "inventário" de mortos e feridos:
- Ferido de
morte, o soldado Agostinho Figueiredo Rodrigues (O
"Régua", entre Camaradas), veio a sucumbir horas depois;
- Alf. Milº.
Fonseca viu perfurado, ao nível da cintura, o camuflado
que envergava (a marca do projéctil, que o atingiu de
raspão, ficar-lhe-ia como “recordação”) caso, 3 semanas
depois (05-Jan-69) não tombasse, no ataque ao
"Aquartelamento";
- O condutor da
"minha viatura", (Soldado Pato) estilhaçado em ambos os
membros inferiores, lá se arrastou penosamente até junto
dos restantes camaradas;
- Os
soldados: José Luís Rodrigues, Fernando Augusto Serra e
eu próprio, feridos mais ligeiramente,
acabámos por constatar que os "estragos" provocados
pelas armadilhas, previamente colocadas nas bermas da
"picada", só não foram maiores porque, parte delas, não
chegaram a detonar!...
Face aos
acontecimentos impunha-se restabelecer o controlo da
situação, socorrer, no local, os feridos mais ligeiros e
evacuar o condutor, “da minha viatura “, para Macomia
(dado ser o ferido com maior gravidade) sendo, a
evacuação aérea, impraticável, face à falta de condições
no local. Para tal foi necessário “desenrascar” alguém
que conseguisse conduzir uma das viaturas, enquanto as
restantes duas tentariam alcançar o “objectivo”.
De imediato (“em
desespero de causa”) dei por mim ao volante da viatura,
com o condutor Pato sentado ao meu lado (tinham-se
invertido as posições anteriores) e alguns Camaradas
ocupando os lugares traseiros do Unimog.
Com um enorme
solavanco, lá consegui arrancar com a viatura, serra
abaixo (em rota de colisão com “tudo” o que era
obstáculo) e com a ajuda da lei da gravidade, lá
conseguimos, em desordenada condução (bem patente nas
frases que o soldado Pato ia vociferando, gritando-me
constantemente: « oh
! meu Furriel… não morremos na emboscada… vamos
“lerpar” num acidente !...», chegar a Macomia,
sem mais emboscadas, sem acidentes, mas também, sem os
restantes Camaradas (que provavelmente !...) logo de
início, apercebendo-se do risco, que tal situação
comportava, depressa optaram por “dispensar a boleia”.
Uma vez chegados
a Macomia e face ao inesperado da situação, o próprio
Comandante do Batalhão, dirigiu-se, de imediato, à
enfermaria, indagando sobre o que tinha acontecido e
verificando que felizmente, os ferimentos de ambos, não
eram tão graves quanto inicialmente aparentavam, “do
alto dos seus galões”, com o dedo indicador bem
direccionado para mim (com algum ironia) proferiu, num
tom “ameaçador”: «eu
ornei-te que só devias regressar da “Serra”… quando o
“rádio estivesse a funcionar… e não para “teres aulas de
condução”!... se a “Serra” não fosse “suficiente”… era
para a Xefina (presídio militar)
que te mandava!...».
Dito o sermão,
(colocando ambas as mãos nas partes laterais da boca)
gritou pelo soldado corneteiro (por tudo quanto era
sítio) no sentido de “tocar a reunir”!... (coisa que já,
há largos meses, não se ouvia naquelas paragens) para
que outro G.C. se organizasse, o mais rapidamente
possível, para partir para a “Serra”.
Momentos depois,
uma dúzia de viaturas (de todos os tipos disponíveis)
com algumas dezenas de outros Camaradas, lá arrancou, de
novo, com destino ao Cruzamento do Alto. Uma vez mais
(poucos km depois de entrarem na “picada da Serração
Mecânica”) a coluna de viaturas acabou imobilizada. Uma
vintena de granadas de morteiro 82, disparadas de
distância considerável, rebentaram aleatoriamente ao
longo da “picada”, sem consequências pessoais… Mais uma
vez, o “objectivo”, ficou, nesse dia/noite, por
alcançar…
…O dia 17- Dez.
- 68 foi, tão somente, mais um dia que passou!... mais
um dia para ”esquecer”… mais um “daqueles “ dias, …
que sempre recordaremos!...
J. Antero
Ferreira
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G. C.
Alf. Milº. FONSECA - L.M. 1968 -
Destino - CABO DELGADO:

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Momento da Partida da
CCac2321 de Macomia para a Serra do Mapé, em 24 de
Dezembro de 1968:

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Instalação da CCac2321 no Alto da Serra Mapé:

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Baixas em combate, condecorações e
louvores no período de Nov-Dez1968 a Jan1969


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Louvor do Comandante do Batalhão

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