José da Conceição Gomes Talhadas,
Sargento-Mor Fuzileiro Especial na situação de reforma
"Pouco se fala hoje
em dia nestas coisas mas é bom que para preservação
do nosso orgulho
como Portugueses, elas não se esqueçam"
Barata da Silva, Vice-Comodoro
HONRA E GLÓRIA
Elementos cedidos por
um colaborador do portal UTW
in Revista da Armada
n.º 597, de Julho de 2024
UMA LENDA VIVA DA
MARINHA PORTUGUESA
José da Conceição Gomes
Talhadas
Sargento-Mor Fuzileiro
Especial na situação de reforma
De grumete a um eterno
Sargento-Mor, foi agraciado com dez louvores
individuais, diversas condecorações, onde se destacam a:
Medalha de Cobre de
Valor Militar com palma
Medalha de Prata de
Serviços Distintos
Medalha de Cobre de
Serviços Distintos
Medalha de Mérito
Militar de 4.ª classe
Medalha de Cruz Naval
de 3.ª classe
4 Medalhas
Comemorativas das Campanhas das Forças Armadas com as
legendas:
Angola: 1965 - 1967 e
1974 - 1975
Guiné:1967 - 1969 e
1970 - 1971
2 Prémios Governador
da Guiné (em 1969 e em 1971)
José da Conceição Gomes
Talhadas, Sargento-Mor Fuzileiro Especial na situação de
reforma, nascido no mês de Fevereiro de 1947 em Moura
(Alentejo).
Na Baixa da Banheira completa o ensino primário.
Em Abril de 1964 ingressa como voluntário na Escola de
Fuzileiros
(Vale de Zebro);
Em 22 de Maio de 1965 conclui o 14º curso de fuzileiros
especiais, sendo promovido a 2º grumete fuzileiro
especial nº 22/64;
Em
10 de Julho de 1965 desembarca em Luanda do NRP 'São
Gabriel', integrado no Destacamento de Fuzileiros
Especiais nº 2 (DFE2);
Em 24 de Junho de 1967 inicia torna-viagem à Metrópole,
a bordo do NTT 'Vera Cruz';
Em
2 de Novembro de 1967 desembarca do NTT 'Uíge' ao largo
de Bissau, promovido a 1º grumete e integrado no
Destacamento de Fuzileiros Especiais nº 12 (DFE12);
Em
meados de 1969 é-lhe atribuído o Prémio Governador da
Guiné;
Em 15 de Outubro de 1969 inicia torna-viagem à
Metrópole, a bordo da F332 'Nuno Tristão';
Em
20 de Janeiro de 1970 regressa à Guiné, promovido a
marinheiro e integrado em nova comissão do Destacamento
de Fuzileiros Especiais nº 12 (DFE12);
De 4 a 12 de Abril de 1970 participa na 'Operação
Cocha', levada a efeito pelo Destacamento de Fuzileiros
Especiais nº 12 (DFE12) sobre base do PAIGC (Partido
Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde)
instalada em território senegalês;
Em 10 de Junho de
1970, perante Forças Armadas Portuguesas reunidas em
parada no Terreiro do Paço, condecorado com a Medalha de
Cobre de Valor Militar com palma;
Em 1971 recebe o segundo Prémio Governador da Guiné;
Em 2 de Dezembro de 1971 inicia em Bissau torna-viagem à
Metrópole, a bordo do NTT 'Angra do Heroísmo';
Em 4 de Dezembro de 1974, entretanto promovido ao posto
de cabo, embarca em Lisboa rumo às Instalações Navais da
Ilha do Cabo (Luanda), integrado na Companhia de
Fuzileiros nº 12 (CF12);
Em 23 de Novembro de 1975 desembarca em Lisboa do NTT
'Uíge'.
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O livro:
"Memórias
de um Guerreiro Colonial"
– «As
estruturas do nosso País deviam dar mais atenção aos
antigos veteranos de guerra. [...] Não há homenagens
para quem combateu pela Pátria. [...] Tenho 62 anos mas,
se o País precisasse de mim, ainda lutaria por ele.»
título: "Memórias
de um Guerreiro Colonial"
autor: José Talhadas¹
– «Este livro é o primeiro da série que abre uma
colecção apelidada de "Guerra Colonial".
É o registo memorial de uma guerreiro colonial, que, no
espaço de 10 anos, efectuou quatro comissões de serviço
em dois dos principais Territórios Operacionais (TO) do
antigo Ultramar Português: Angola e Guiné.
Foi, na realidade, um guerreiro colonial, que iniciou a
sua actividade profissional, praticamente, no início
real do conflito armado em Angola e finalizou essa mesma
actividade com o processo de transmissão do poder
militar aos guerrilheiros que combateu nessa mesma
antiga colónia. Foi, aliás, de armas na mão, já no
período derradeiro da sua presença na nova República
Popular de Angola, que teve de defender essa retirada
nas antigas Instalações Navais de Luanda. Era apenas um
jovem com 27 anos. Mas, com uma carga de guerra de uma
década em cima dos seus ombros.
Na escuridão desembarcam em silêncio, como equilibristas
ultrapassam o tarrafo e chapinham nas imensas bolanhas,
protegidos pelo cacimbo da aurora, aproximam-se da
presa.
Como leões esfomeados atacam.
Explosões, rajadas, gritos e de súbito... Silêncio.
Desaparecem como fantasmas, transportados pelos "patos
do rio" ou pelo "zumbido das moscas", voltando de novo
às suas bases para lamberem as suas feridas e afiar as
suas garras, entoando o seu grito de sempre:
"Fuzileiros, Prontos".
Actualmente na
reforma, o sargento-mor fuzileiro especial partiu para
África em 1965 e fez quatro comissões, em Angola e na
Guiné, até 1975, terminando a proceder "à entrega dos
postos fronteiriços aos guerrilheiros inimigos" que
antes combatera, conta no livro, ilustrado por 36
fotografias da época.
"Geralmente,
quem escreve sobre a Guerra Colonial são jornalistas que
estudam o assunto ou oficiais, e esses têm uma visão
distinta da minha. Este é o relato de um executante, de
um subalterno, é a perspectiva de um rapaz que começou
como grumete, aos 17 anos, e deixou África já cabo, com
27", contou o autor à agência Lusa.
O livro - que
tem por base apontamentos registados durante as
comissões e as cartas escritas por José Talhadas à então
madrinha de guerra e namorada, com a qual viria a casar
- recupera o melhor e o pior dos anos vividos pelo autor
na então África portuguesa.
Do primeiro
contacto com Luanda e Bissau à ferocidade das refegas em
que o cheiro a pólvora e o silvo dos projecteis não
deixavam "tempo para humanidades", o militar reconstrói
a excitação da aventura e o horror da guerra, tantas
vezes separados por breves instantes.
A mata
infindável, os ataques de mosquitos ou de formigas
africanas, a visão dos camaradas com membros
destroçados, o paludismo e os problemas intestinais que
os faziam parecer "um hospital ambulante" são algumas
das imagens de um conflito onde "o que contava eram os
guerrilheiros mortos e as armas capturadas", conta.
Mas também
figuram no volume os episódios de camaradagem
característicos de uma "segunda família", a expectativa
de um louvor e o deslumbramento perante as praias e as
mulatas sensuais de Luanda.
A obra, com
prefácio de Serafim Lobato, jornalista licenciado em
História e mestre em Estudos Portugueses, começou a
esboçar-se na mente do autor no final dos anos 90.
"Comecei a
pensar em pôr as memórias das minhas comissões no papel,
tendo escrito a maior parte delas até 2003. De então
para cá, foi o tempo dos reajustes e de algumas
considerações sobre uma guerra que, sendo justa ou
injusta, aconteceu", declarou José Talhadas à Lusa,
recordando a juventude da sua recruta.
"A minha
geração tinha uma concepção da Pátria que ia do Minho a
Timor. Só mais tarde compreendi que aqueles países
tinham direito à sua independência", afirmou, revelando
outras percepções que foi alterando com o tempo.
Algumas dizem
respeito à gratidão do Estado face ao empenho dos
militares: "Com a idade, os traumas de guerra vão
ficando mais vivos e, quando reencontro ex-camaradas que
se isolaram da vida, que são quase mortos-vivos, penso
que as estruturas do nosso país deviam dar mais atenção
aos antigos veteranos de guerra".
"Não há
homenagens para quem combateu pela Pátria, numa guerra
que - sendo certa ou errada - ceifou muitas vidas. Tenho
62 anos mas, se o país precisasse de mim, ainda lutaria
por ele. Pergunto-me, no entanto, se as estruturas
portuguesas me retribuiriam da mesma forma", reflecte.
Uma sensação
de injustiça que talvez justifique certas passagens do
livro, nomeadamente uma relativa aos seus camaradas
anónimos: "Eles pagaram com a vida, a doença, o
hospício, o menosprezo, o desprezo, enquanto os seus
oficiais-generais, os seus políticos se engalanaram de
benesses, voltaram as costas na primeira esquina ao que
propalavam aos quatro ventos ser a razão da sua
existência, e entraram no caminho da nova vida, lançando
loas agora à democracia, à liberdade, como se tivessem
sido eles os arautos da mesma".
José da
Conceição Gomes Talhadas nasceu em Fevereiro de 1947, em
Moura e frequentou diversos cursos militares na Marinha,
tendo desempenhado funções de auxiliar do Adido de
Defesa Junto da Embaixada de Portugal em Brasília
(1992-1995) e sido presidente da Associação dos
Auxiliares de Adidos Militares no Brasil.
Agraciado com
dez louvores individuais, foi ainda distinguido com
inúmeras condecorações, caso da Medalha Militar de Valor
Militar com Palma, Medalha Militar de Serviços
Distintos-Prata, Medalha Militar de Serviços
Distintos-Cobre, Medalha Militar de Mérito Militar 4ª
Classe ou Medalha de Cruz Naval 3ª Classe.
Coube-lhe
ainda a Medalha Comemorativa Campanhas das Forças
Armadas com Legenda Angola 1965-1967 e 1974-1975 e a
Medalha Comemorativa Campanhas das Forças Armadas com
Legenda Guiné 1967-1969 e 1970-1971, além da distinção,
pelo Marechal António de Spínola, com o Prémio
Governador da Guiné em 1969 e em 1971.
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in
Revista da Armada n.º
597, de Julho de 2024:
Uma lenda viva da
Marinha Portuguesa
José da Conceição
Gomes Talhadas, Sargento-Mor Fuzileiro Especial (FZE) na
situação de reforma, é natural de Moura e com 77 anos de
idade, é um dos militares da Marinha Portuguesa com mais
distinções pelos seus feitos.
A sua aventura começou aos 16 anos de idade, quando em
1964, ingressou como voluntário na Marinha Portuguesa.
Inicialmente, acreditava que a sua carreira neste ramo
das Forças Armadas seria na especialidade de
Eletricista, mas, acabou na especialidade de Fuzileiro,
onde rapidamente se apaixonou pelas suas funções.
Com apenas 17 anos, iniciou a sua primeira comissão na
Guerra do Ultramar, em Angola, tendo efetuado mais duas
comissões na Guiné.
A 10 de Junho de 1971, foi condecorado pelo Marechal
Spínola, perante tropas formadas em parada, em Bissau,
com a Medalha de Cobre de Valor Militar com Palma, a
mais elevada condecoração militar portuguesa.
Ao deixar África para trás, deixou, também, o seu
coração e os seus "fantasmas da guerra" por lá.
Mais tarde, prestou serviço na Escola Naval (EN), onde
marcou inúmeras gerações de futuros Oficiais de Marinha,
recordando com agrado a "disciplina, a educação e o
respeito", que presenciava enquanto formador dos cadetes
que por ele passaram. De seguida, prestou serviço como
Auxiliar do Adido na Embaixada de Portugal em Brasília e
rapidamente integrou a Associação dos Auxiliares de
Adidos Militares no Brasil, onde atingiu o cargo de
presidente.
No final da sua missão no Estrangeiro, concorre ao curso
de Sargento-chefe e retorna por mais sete anos ao local
onde foi muito feliz, a EN.
Em 2003, o Sargento Talhadas passou à reserva, mas desde
1964 até aos dias de hoje, nunca se separou da Marinha
Portuguesa, onde tem vindo a marcar a sua presença em
diversas atividades, nomeadamente, na Associação de
Fuzileiros, nos Cadetes do Mar e na Liga dos Reservistas
de Portugal.
Sargento Talhadas, obrigado pelo serviço prestado, pelo
profissionalismo e pelo exemplo para todos nós.
Colaboração do SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO, INFORMAÇÃO E
RELAÇÕES PÚBLICAS