Mensagem do veterano Jofre Raposo,
1.º Cabo Escriturário, da CCS/BCav682

«Eu era 1.º Cabo escriturário, da
Companhia de Comando e Serviços do
Batalhão de Cavalaria 682
(CCS/BCav682).
Estive
sempre no Dinge.
Não me lembro de muita coisa:
infelizmente tive uma trombose no
ano 2000 e esqueci muita coisa! Mas
recordo que foram levar,
voluntariamente,
mantimentos
ao Batalhão de Caçadores 554
(BCac554). Eles não queriam sair do
quartel, morriam de fome mas não de
balas.
O maluco do Alf. Alçada (*),
que estava de castigo na Companhia
de Cavalaria 679 (CCav679),
ofereceu-se e pediu voluntários.
Estou a ver os caixões. Quando
chegaram ao quartel, chorei. Não!
Chorámos, por perder os nossos
camaradas, pedindo ao Divino
Espírito Santo que olhasse por eles
na eternidade.
Há coisas que não se esquecem!
Deste açoriano, que nunca se
esquecerá daqueles que lutaram e
morreram pela nossa Pátria, pobre
mas honrada!»
(*) Nota
do colaborador do portal do UTW:
No recordatório
enviado à consideração do UTW – e
dos seus visitantes –, o referido
«maluco do Alf. Alçada» é José Luís
Oleiro Moraes Alçada (nascido em 19
de Julho de 1941 na Covilhã),
agraciado com uma Cruz de Guerra de
4ª classe, por acções em combate.
Reporta-se à emboscada de um grupo
do MPLA que, na 6ªfeira, dia 22 de
Outubro de 1965, na picada para o
Belize e 2km após o destacamento do
Pelotão de Caçadores 964 (PelCac964)
no Luáli, a cerca de 400 metros do
Povo Uanda Conde, ao ter atingido
com um rocket o primeiro de dois
jipes do Exército, causou às Nossas
Tropas sete mortos e cinco feridos
graves: na acção de socorro imediato
aos feridos, destacou-se um dos
feridos graves, Manuel
Marques Sardão, Soldado Maqueiro da
CCS/BCac554, que veio a morrer
no local.
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Com o apoio de um colaborador do
portal UTW, descrevemos (resumo) o
que aconteceu sobre o conteúdo da
mensagem do veterano Jofre Raposo:
Para visualização dos conteúdos
clique em cada um dos sublinhados
Resumo da ocorrência:
Em 8 de Maio
de 1965 morrem dois militares em
combate na zona de Batassano.
Em 20 de Junho de
1965 durante a Operação "Cerr'os
Dentes", um pelotão da Companhia de
Cavalaria 679 (CCav679) é alvo de
emboscada e sofre um morto e quatro
feridos graves. O comandante do
sector avança com a
Operação "Nanda", prevista para
lançar 150 grupos de combate em
linha, entre o posto fronteiriço do
Miconge e o Caio-Guembo, no extremo
norte de Cabinda. O grupo de combate
do alferes miliciano de cavalaria
Moraes Alçada, desloca-se para o
Luáli em reforço ao Pelotão de
Caçadores 964 (PelCac964) adido ao
Batalhão de Caçadores 554 (BCac554),
estando este sediado a 12km. Naquele
destacamento ficam apenas alguns
militares em pior forma física e o
restante efectivo segue para a
operação.
Em 19 de Outubro de 1965, após as
primeiras baixas com minas
antipessoal e alguns tiros isolados,
a confusão instala-se entre as
tropas de quadrícula. Soldados
isolados na mata regressam à picada
principal Luáli-Dinge, onde a
operação é reorientada, passando a
cumprir-se em marcha os dias
previstos para a sua conclusão.
Em 22 de Outubro de 1965 o
tenente-coronel comandante do
Batalhão de Caçadores
554 (BCac554),
em vez de enviar reabastecimentos
para o destacamento do
Pelotão de Caçadores
964 (PelCac964)
no Luáli, ordena aos que lá estão
para os ir buscar ao quartel-sede:
mas o MPLA, sabendo onde se
encontram deslocados os efectivos
daquele sector e quantos ficaram no
Luáli, monta uma emboscada.
O alferes
miliciano de infantaria António
Leitão Malcatanho,
comandante daquele destacamento,
deixa o cabo Branco, o cozinheiro
Crossas e um soldado (com problemas
de epilepsia), seguindo com os
restantes em dois jipes para a sede
do batalhão. Após 2km de marcha caem
na emboscada e o jipe da frente é
atingido em cheio por uma granada de
LGF (Lança-granada foguete) inimiga,
causando a morte imediata de 3
primeiros-cabos do
Pelotão de Caçadores
964 (PelCac964)
e de 1 soldado da Companhia de
Cavalaria 679 (CCav679), ficando o
soldado-condutor José Fernandes
atingido no rosto e na cabeça por
estilhaços do pára-brisas, que lhe
provocam cegueira parcial; sob
intenso tiroteio inimigo, o condutor
salta da sua viatura, recolhe as
armas dos camaradas mortos e dispara
sobre os atacantes enquanto se
abriga junto do segundo jipe, onde
foram mortalmente atingidos outros
dois soldados da CCav679, o alferes
Malcatanho está ferido pela primeira
rajada em ambas as mãos, o 1º
Cabo Ângelo dos Santos Rodrigues (1) está
totalmente cego de um dos olhos, o soldado-maqueiro
Manuel Marques Sardão (5)
está gravemente ferido e apenas
resta ileso o soldado
Orlando de Jesus Costa, que
utiliza eficazmente a sua arma e
impede o inimigo de avançar para a
picada (2). Os
5 sobreviventes continuam a disparar
seguindo as instruções do oficial (3)
e o tiroteio é ouvido no
destacamento do Luáli, de onde
arrancam no único jipe o cabo e o
cozinheiro, que durante o trajecto
vão disparando curtas rajadas. No
local da emboscada, o inimigo
interrompe o ataque e o soldado-condutor
Fernandes aproveita a pausa
para pôr o segundo jipe em andamento
em direcção ao destacamento em busca
de socorros (4) ignorando
que os seus camaradas vêm a caminho;
os atacantes, permanecendo
emboscados e preparados para descer
à picada, liquidar os feridos,
esfacelar os mortos e capturar o
armamento, ao ouvir o tiroteio
aproximar-se pensam tratar-se de
fortes reforços e retiram
apressadamente, deixando no terreno
uma bazooka e outro
material-de-guerra; logo de seguida
o soldado-maqueiro, apesar de
gravemente ferido, procura socorrer
os camaradas feridos e morre no
local do combate, no exercício da
função da sua especialidade (5).
(1) promovido
por distinção a Furriel e agraciado
com o grau de Cavaleiro, com palma,
da Ordem da Torre e Espada
(2) agraciado
com uma Cruz de Guerra de 4ª classe
(3) agraciado
com uma Cruz de Guerra de 3ª classe
(4) agraciado
com uma Cruz de Guerra de 1ª classe
(5) a título
póstumo, promovido por distinção a
Furriel e agraciado com o grau de
Cavaleiro, com palma, da Ordem da
Torre e Espada - Manuel
Marques Sardão
Os militares que
morreram naquele dia, são:
- ANTÓNIO
ALCOBIA (²)
António Alcobia, Soldado Atirador,
n.º 1767/63, natural da freguesia de
Pias, concelho de Ferreira do
Zêzere, mobilizado pelo Regimento de
Cavalaria 3, para servir na Região
Militar de Angola, integrado na
Companhia de Cavalaria 679 do
Batalhão de Caçadores 682. Está
sepultado no cemitério de Cabinda,
em Angola, no talhão militar, campa
11-1-B
- ANTÓNIO
GOMES GUERRA
António Gomes Guerra, 1.º Cabo
Atirador, n.º 141/64, natural da
freguesia e concelho de Figueira
Castelo Rodrigo, mobilizado pelo
Regimento de Infantaria 2, para
servir na Região Militar de Angola,
integrado no Pelotão de Caçadores
964, adstrito ao Batalhão de
Caçadores 554. Está sepultado no
cemitério da freguesia de
naturalidade.
- ANTÓNIO JOSÉ FERREIRA MARQUES (²)
António José Ferreira Marques, 1.º
Cabo Atirador, n.º 1/64, natural de
Celeirô, da freguesia de São
Nicolau, concelho de Cabeceiras de
Basto, mobilizado pelo Regimento de
Infantaria 2, para servir na Região
Militar de Angola, integrado no
Pelotão de Caçadores 964, adstrito
ao Batalhão de Caçadores 554. Está
sepultado no cemitério de Cabinda,
em Angola, no talhão militar, campa
6-1-B
- FERNANDO
LOURENÇO MOTA (²)
Fernando Lourenço Mota, Soldado
Atirador, n.º 1602/63, natural da
freguesia da Barroca, concelho do
Fundão, mobilizado pelo Regimento de
Cavalaria 3, para servir na Região
Militar de Angola, integrado na
Companhia de Cavalaria 679 do
Batalhão de Caçadores 682. Está
sepultado no cemitério de Cabinda,
em Angola, no talhão militar, campa
9-1-B
- FRANCISCO DE JESUS ESTEVES LUCAS (²)
Francisco de Jesus Esteves Lucas,
Soldado Atirador, n.º 1765/63,
natural de Rochas de Baixo, da
freguesia de Almaceda, concelho de
Castelo Branco, mobilizado pelo
Regimento de Cavalaria 3, para
servir na Região Militar de Angola,
integrado na Companhia de Cavalaria
679 do Batalhão de Caçadores 682.
Está sepultado no cemitério de
Cabinda, em Angola, no talhão
militar, campa 10-1-B
- MANUEL
MARQUES SARDÃO
Manuel Marques Sardão, Soldado
Maqueiro, n.º 1898/63, natural de
Santo Amaro da Boiça, da freguesia
de Maiorca, concelho da Figueira da
Foz, mobilizado pelo Regimento de
Infantaria 15, para servir na Região
Militar de Angola, integrado na
Companhia de Comando e Serviços
(CCS) do Batalhão de Caçadores 554.
Está sepultado na localidade de
nascimento - (clique no sublinhado
que se segue): Manuel
Marques Sardão
-
ÓSCAR GOMES PIRES (²)
Óscar Gomes Pires, 1.º Cabo
Atirador, n.º 320/64, natural de
tremoceira, da freguesia de
Pedreiras,
concelho de Porto Mós, mobilizado
pelo Regimento de Infantaria 2, para
servir na Região Militar de Angola,
integrado no Pelotão de Caçadores
964, adstrito ao Batalhão de
Caçadores 554. Está sepultado no
cemitério de Cabinda, em Angola, no
talhão militar, campa 8-1-B
(²) (os
seus restos mortais, ainda se
encontram inumados em campas do
talhão militar no cemitério da
cidade de Cabinda)