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Falecimento

Maurício Leonel de Sousa Saraiva, Coronel de Infantaria 'Comando'

 

"Pouco se fala hoje em dia nestas coisas mas é bom que para preservação do nosso orgulho como Portugueses, elas não se esqueçam"

 

Barata da Silva, Vice-Comodoro

 

HONRA E GLÓRIA

e

nota de óbito

Elementos cedidos por um

colaborador do portal UTW

 

Faleceu, no dia 15 de Março de 2002, o veterano

 

Maurício Leonel de Sousa Saraiva

Coronel de Infantaria 'Comando'

na situação de reforma extraordinária

 

Guiné - Abr1961 a Out1963:

Comandante da

4.ª Companhia de Caçadores Indígena do Comando Territorial Independente da Guiné

«AUT VINCERE AUT MORI»

 

Angola - Out a Dez1963:

Centro de Instrução 16 - Quibala

«AUDACES FORTUNA JUVAT»

 

Guiné - Jan1964 a Set1965:

 

Operação "Tridente": [Memórias de um veterano] - [Antes e depois]

 

Comandante do

Grupo de Comandos «FANTASMAS»

«A SORTE PROTEJE OS AUDAZES»

Instrutor do

Centro de Instrução de Comandos (1.º e 2.º Cursos)

«A SORTE PROTEJE OS AUDAZES»

 

Moçambique - Ago1967 a Abr1968:

Comandante da

9.ª Companhia de Comandos

«FANTASMAS» - «A SORTE PROTEJE OS AUDAZES»

 

Condecorações:

 

 

 

 

OBS.: No texto que se segue há sublinhados, o que quer dizer que estão linkados a outros conteúdos, para aceder aos mesmos clique neles

 

Maurício Leonel de Sousa Saraiva, Coronel de Infantaria ‘Comando’ na situação de reforma extraordinária.

Nasceu no ano de 1939, na (então) Vila de Mariano Machado, à época sede do concelho da Ganda do distrito de Benguela, na Província Ultramarina de Angola.


Em 31 de Agosto de 1960 incorporado na Escola Prática de Infantaria (EPI -Mafra) «AD UNUM» como Soldado-Cadete nº 2065/60, para frequentar o curso de oficiais milicianos (COM);

Em 29 de Janeiro de 1961 promovido a Aspirante-a-Oficial Miliciano (n/m 61049359) Atirador de Infantaria e colocado no Regimento de Infantaria 2 (RI2 – Abrantes) «EXCELENTE E VALOROSO»;

Em 10 de Abril de 1961, tendo sido mobilizado para servir Portugal na Província Ultramarina da Guiné, embarca em Lisboa com destino a Bissau;


Em 19 de Abril de 1961 deslocado para Bedanda, a fim de comandar o destacamento local da 4.ª Companhia de Caçadores Indígena do Comando Territorial Independente da Guiné (4ªCCacI/CTIG) «AUT VINCERE AUT MORI»;


Meses depois transferido para a capital provincial, onde passa a comandar o Pelotão de Comando e Serviços da Companhia de Comando e Serviços do Quartel General do Comando Territorial Independente da Guiné (CCS/QG-CTIG) «A LEI DA VIDA ETERNA DILATANDO»;


Em 29 de Outubro de 1963, com outros oficiais e sargentos metropolitanos, e praças guineenses do Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG), inicia no noroeste de Angola um curso acelerado de 'comandos' no Centro de Instrução 16 (CI16-Quibala) «AUDACES FORTUNA JUVAT»;

Em 6 de Dezembro de 1963 regressa a Bissau:



- «
Quando chegámos à Guiné, no princípio de 1964 estava para se realizar uma operação "muito secreta"; mas ao ir a uma cervejaria [em Bissau], o empregado perguntava quando é que íamos para a Ilha do Como. Depois de ter estado em Angola a ver como estavam a ser preparados os comandos, estive na Guiné a formá-los destacado juntamente com outros oficiais e sargentos. Mas em lugar de irmos formar comandos, fomos para a operação chamada 'Tridente'
[Memórias de um veterano] - [Antes e depois] na Ilha do Como: intervieram fuzileiros, pára-quedistas, companhia de caçadores, batalhão de cavalaria nº490, Força Aérea com aviões e helicópteros, Marinha. E os instrutores dos futuros comandos, que éramos nós mais uns soldados e sargentos que nos entregaram, porque eram os mais aguerridos das suas unidades, tais como: furriel [miliciano António Manuel Constantino Vassalo] Miranda, primeiro-cabo Cruz, primeiro-cabo Marcelino da Mata, primeiro-cabo [Abdulai Queta] Jamanca, soldado Soldas [António João Paulista Solda], e tantos outros a quem demos uma lambuzadela de instrução antes da Operação Tridente [Memórias de um veterano] - [Antes e depois]. Dos 25 'comandos' citados, alguns deles - três oficiais, sete sargentos e mais quinze homens cheios de boa vontade e que queriam ser comandos -, foram transportados [de Bissau com o BCav490] para a ilha na fragata Nuno Tristão [às 10:00 de 14Jan1964].


[...]


Aquilo parecia um desembarque em toda a regra: o objectivo da operação era limpar a ilha de inimigo, que tinha aí um autêntico celeiro, com muito gado e arroz, e estava muito bem organizado. Eu estava com certo receio daquilo: desembarcar de noite na praia os 'comandos' numa LDP [lancha de desembarque pequena], para constituirmos a cabeça de praia e escolher o sítio da mesma onde seria estabelecida uma base logística e de comando; as outras forças intervenientes desembarcaram noutros pontos e os Comandos desembarcaram sem grandes problemas. Fizemos os nossos 'buracos' e instalámo-nos, mas eu não sabia que na Guiné as marés têm uma amplitude muito grande - chegam a 3/4 metros -, e ao fim de uma horas os 'buracos' estavam todos cheios de água e tivemos de ir fazer outros mais adiante; levei uma repreensão do brigadeiro Louro de Sousa, devido ao local que tinha escolhido para base logística e de comando - nunca percebi bem porquê, ao fim e ao cabo tudo ficou no sítio escolhido. Quando começámos a infiltrar-nos na mata central (havia outra no norte da ilha e nós tínhamos desembarcado no sul), aquilo tornou-se muito duro. Fizemos uma série de operações e entrámos na mata: fizemos golpe-de-mão a acampamentos inimigos e emboscadas; capturámos algum material e provocámos baixas ao inimigo; fizemos algumas operações conjuntas com o destacamento de fuzileiros [DFE8] do comandante [primeiro-tenente fze Guilherme Almor] Alpoim Calvão e com os pára-quedistas [PelPQ111 comandados pelo alferes de artilharia António Manuel Bairrão Pombo dos Santos].


[...]


Numa ocasião, os fuzileiros estavam cercados e nós recebemos ordem para largarmos o que estávamos a fazer e ir lá dar-lhes uma ajuda e, entre ambos, conseguimos sair de lá: aquilo era uma depressão de terreno, o inimigo estava nas árvores e havia rajadas por todos os lados; nós metemo-nos lá dentro com eles, os fuzileiros eram uma tropa bem preparada e 'sui generis', todos com uma barba muito grande. Às tantas disparei uma engenhoca, inventada por um aventureiro italiano chamado Dante Vacchi que tinha estado em Angola: um tubo com um SNAB-37mm, projéctil da Força Aérea autopropulsionado, que quando acertava era por acaso pois nem sequer tinha aparelho de pontaria; acertei na copa da árvore e caiu um tipo que eu nem sequer tinha detectado. Aliás, deles tínhamos apenas a percepção de onde saíam as rajadas.


[...]


A determinada altura juntaram-se os fuzileiros, os pára-quedistas e os comandos: havia sempre o bom costume de contar os militares que levávamos, para ver se tinham voltado todos, até porque tínhamos feito uma operação tremenda e com problemas muito sérios, em que enfrentámos um inimigo muito valente, na mata grande no centro da ilha; os pára-quedistas tinham tido situações muito difíceis e com algumas baixas. Reunimo-nos na orla da mata pequena, em frente a um terreno aberto com cerca de quinhentos metros desde a orla da mata grande; tínhamos passado da mata grande à pequena e da pequena íamos para o canal que separava a ilha de terra firme, por onde vinham as lanchas para nos levar a uma fragata. Na contagem, numa das unidades faltavam dois soldados: houve cenas muito duras com toda a gente muito tensa e eu resolvi voltar à mata grande, para ir buscar os soldados que faltavam; não sabia se estavam mortos ou feridos e levei comigo dois soldados, um meu e outro fuzileiro. Quando estávamos a cruzar a clareira, foi infernal com rajadas por todo o lado: no meio do descampado havia morros de formiga branca, chamada baga-baga na Guiné, que chegam a ter dois metros de altura e são duríssimos; abrigámo-nos aí e lá conseguimos chegar à orla da mata grande. O primeiro soldado que vimos estava morto: trouxemo-lo desde a mata até aos morros de baga-baga e fomos outra vez ao outro lado; encontrámos o ferido, era um homem enorme, um militar chamado Palha, estava ferido na coluna e ficou paraplégico; transportámo-lo até aos morros - um morto transporta-se de qualquer maneira, mas um ferido é muito difícil. Mas conseguimos fazê-los chegar à outra mata pequena.


[...]


A Operação Tridente
[Memórias de um veterano] - [Antes e depois] foi dura, não conseguimos surpreender o inimigo que estava muito bem preparado; a operação era para durar poucos dias, mas durou algumas semanas [até 24Mar1964] e as nossas tropas tiveram alguns feridos e mortos.» ¹


Em 4 de Maio de 1964 louvado pelo cessante Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné (CCFAG) brigadeiro Fernando Louro de Sousa, porque...
 


-
«Tendo tomado parte em todas as numerosas acções em que estes [comandos] intervieram na Operação Tridente
[Memórias de um veterano] - [Antes e depois], nas condições mais diversas, sempre demonstrou entusiasmo, agressividade, iniciativa, coragem e audácia invulgares. Foram vários os rasgos de bravura praticados pessoalmente por este oficial e pelas tropas sob o seu comando, que destemidamente actuaram em campo aberto e se internaram nas matas à procura do inimigo, que se apresentava forte e bem armado, sabendo sempre reagir às emboscadas e procurando aniquilar o adversário».



Em 2 de Junho de 1964 agraciado pelo Ministro do Exército com a
Medalha de Prata de Valor Militar com palma.

 

Alferes Miliciano de Infantaria
MAURÍCIO LEONEL DE SOUSA SARAIVA
 

CCS/QG/CTIG
GUINÉ
 

Transcrição do louvor publicado na Ordem do Exército n.º 13 – 2.ª série, de 1964:


Por Portaria de 2 de Junho de 1964:


Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, adoptar, para todos os efeitos legais, o seguinte louvor, conferido em Ordem de Serviço do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné Portuguesa, n.º 7/64 de 4 de Maio do corrente ano, ao Alferes Miliciano de Infantaria, Maurício Leonel de Sousa Saraiva, da Companhia de Comando e Serviços, do Quartel-General do Comando Territorial Independente da Guiné e prestando serviço como comandante do grupo de comandos, porque, tendo tomado parte em todas as numerosas acções em que estes intervieram na operação "Tridente"
[Memórias de um veterano] - [Antes e depois], nas condições mais diversas, sempre demonstrou entusiasmo, agressividade, iniciativa, coragem e audácia invulgares.


Foram vários os rasgos de bravura praticados pessoalmente por este oficial e pelas tropas sob o seu comando, que destemidamente actuaram em campo aberto e se internaram nas matas à procura do inimigo, que se apresentava forte e bem armado, sabendo sempre reagir às emboscadas e procurando aniquilar o adversário.


De salientar a sua acção pessoal e das suas forças em 1 de Março de 1964, quando, embrenhando-se numa cerrada mata a nordeste de Curco, conseguiram, apesar do cansaço e esforço despendido, detectar e destruir um dissimulado, vasto e bem apetrechado acampamento inimigo. Também digna de realce a sua actuação, em 7 de Fevereiro de 1964, quando com as suas forças se deslocou em campo aberto e numa extensão de mais de 300 m, debaixo de intenso fogo inimigo, para retirar o corpo de um soldado atingido mortalmente pelo adversário.


A forma como conduziu a sua unidade, impulsionando e orientando os seus homens, servindo-lhes constantemente de exemplo e criando-lhes espírito de corpo digno de relevo, muito contribuiu para o bom êxito das operações e as suas qualidades de intrepidez, abnegação e valor, impõem-no como verdadeiro Chefe guerreiro, que o tornam digno de respeito e admiração de subordinados e superiores e merecedor da consideração das Forças Armadas e do reconhecimento da Nação.


Ministério do Exército, 2 de Junho de 1964. O Ministro do Exército, Luz Cunha.

Transcrição da portaria que concede a condecoração, publicada na mesma Ordem do Exército:


Por Portaria de 2 de Junho de 1964:


Condecorado com a Medalha de Prata de Valor Militar com palma, nos termos do artigo 7.º, com referência ao § 1.º do artigo 51.º, do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, o Alferes Miliciano de Infantaria, Maurício Leonel de Sousa Saraiva, da Companhia de Comando e Serviços, do Quartel-General do Comando Territorial Independente da Guiné, porque, tomando parte em numerosas acções nas condições mais diversas, demonstrou entusiasmo, agressividade, iniciativa, coragem e audácia invulgares contra um inimgo que se apresentava forte e bem armado.


É de salientar a sua acção e a das suas forças que, embrenhando-se numa cerrada mata, conseguiram, apesar do cansaço e esforço dispendido, detectar e destruir um simulado, vasto e bem apetrechado acampamento inimigo. Também é de destacar a sua actuação quando, com as suas forças, se deslocou em campo aberto e numa extensão de mais de 300 m, debaixo de intenso fogo inimigo, para retirar o corpo de um soldado atingido mortalmente pelo adversário.

 

 

No dia 10 de Junho de 1964, foi condecorado com a Medalha de Prata de Valor Militar com palma, perante as Forças Armadas Portuguesas reunidas em parada no Terreiro de Paço (Lisboa), por relevantes feitos em combate no teatro-de-operações da Guiné.

 

29-10-Jun1964

 

 

Veio a ser também agraciado com o Prémio Governador da Guiné, por feitos em combate na Operação Tridente [Memórias de um veterano] - [Antes e depois].
 

- «Depois desta operação começou a formação e constituímos três grupos: os 'Fantasmas' era o meu; os 'Camaleões' era o do alferes [miliciano Justino Coelho] Godinho; e os 'Panteras' era o do alferes [miliciano de artilharia] Pombo [dos Santos].» ¹

 


 

 

 

Em 23 de Julho de 1964 colocado em Brá para iniciar a formação da Escola de Quadros do Centro de Instrução de Comandos (CICmds); e a partir de 3 de Setembro de 1964 os instruendos do 1º Curso de Comandos da Guiné começam a Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (IAO) nas matas do Morés.


Em 1 de Dezembro de 1964 promovido a tenente miliciano;


- «Uma vez [28Nov1964] perto de Madina do Boé rebentou-nos uma mina por baixo de um Unimog, a gasolina que matou [sete] e feriu praticamente as duas equipas [do GrCmds Fantasmas]: o Unimog incendiou-se e as munições explodiram, foi uma coisa tremenda e horrível. Fiquei com o grupo bastante dizimado [três queimados evacuados, e sete sepultados a 30Nov1964 em Bissau], e resolvi logo uns dias depois, para não deixar cair o moral, fazer uma operação de emboscadas e golpe-de-mão com os homens que restavam, que resultou muito bem.» ¹



Em 22 de Maio de 1965 regressa à Metrópole e fica colocado no Regimento de Infantaria 10 (RI10 – Aveiro) «UBI HONOR, GLORIA» - «SENTINELA DO VOUGA»;


Em 3 de Junho de 1965 promovido por distinção a capitão miliciano e agraciado com a
Medalha de Promoção por Distinção;

Naquele mesmo dia, agraciado pelo Ministro do Exército com a
Medalhas de Ouro de Valor Militar com palma.

 

 

Tenente Miliciano de Infantaria, “comando"
MAURÍCIO LEONEL DE SOUSA SARAIVA
 

CICmds
GUINÉ
 

Grau: Ouro, com palma
 

Transcrição do louvor publicado na Ordem do Exército n.º 15 – 2.ª série, de 1965


Por Portaria de 3 de Junho de 1965:


Manda o Governo da República Portuguesa, pelo Ministro do Exército, adoptar, para todos os efeitos legais, o seguinte louvor, conferido em Ordem de Serviço n.º 7, de 17 de Maio de 1965, do Comando-Chefe das Forças Armadas da Guiné Portuguesa, ao Tenente Miliciano de Infantaria, Maurício Leonel de Sousa Saraiva, do Centro de Instrução de Comandos, pela muita prestimosa colaboração que, na presente conjuntura, tem dado ao Comando Territorial Independente da Guiné e, em especial, ao Exército, com a sua proficiente acção.
Como instrutor dos quadros dos grupos de "comandos", comandou um grupo constituído por instrutores e monitores, no final do primeiro curso realizado neste Comando Territorial Independente da Guiné, com o qual foi efectuada uma operação de combate, que resultou prova excelente e irrefutável de que os seus instruendos tinham sido cuidadosamente preparados, mercê das inegáveis qualidades excepcionais do instrutor.


Como comandante do grupo de "Comandos Fantasmas" executou 21 acções em curto período de tempo, sempre culminadas por retumbantes resultados, indubitavelmente devidos à técnica perfeita empregada pelos seus componentes, nos quais imprimiu, pelo exemplo, o seu cunho pessoal de combatividade e outros atributos e virtudes militares que deram ao grupo uma tão notável eficiência que pode afirmar-se ser ela a razão primordial dos constantes sucessos alcançados e tudo isto graças às invulgares qualidades de combatente corajoso, valente, destemido e munificente do seu chefe, que tão inteligentemente o soube mentalizar e criar no conjunto espírito de corpo.


Em Novembro de 1964 o seu grupo sofreu perdas elevadas em combate; não obstante, transcorridos poucos dias levava a efeito uma nomadização com óptimos resultados.


É de salientar que este brioso e valente oficial se encontra no termo do prolongamento, por oferecimento, da sua comissão normal por imposição, não obstante o precário estado de saúde em que por vezes se tem apresentado ao serviço.


Na última operação realizada, tendo o grupo sob o seu comando sido detectado pelo inimigo com forte poder de fogo, assaltou valorosamente a posição e apreendeu grande quantidade de material, incluindo algumas das armas dos bandoleiros, não só dos abatidos, como também daqueles que, precipitadamente, abandonaram a luta, perante o ímpeto do ataque.


Pelos seus actos brilhantes e extraordinários de firmeza, audácia, rara decisão, coragem moral e física, desprezo pelo perigo e desmedido arrojo em frente do inimigo, considero valorosos e distintos os feitos de armas praticados pelo Tenente Miliciano Sousa Saraiva, e que dos mesmos resultaram lustre e glória para o Exército.

Transcrição da Portaria que concede a condecoração, publicada na mesma Ordem do Exército:


Por Portaria de 3 de Junho de 1965:


Condecorado com a Medalha de Ouro de Valor Militar, com palma, nos termos da alínea b) do artigo 6.º, com referência ao § 1.º do artigo 51.º, do Regulamento da Medalha Militar, de 28 de Maio de 1946, o Tenente Miliciano de Infantaria, Maurício Leonel de Sousa Saraiva, do Centro de Instrução de Comandos, do Comando Territorial Independente da Guiné.

 

Na manhã de 10 de Junho de 1965, perante tropas em parada no Terreiro do Paço, condecorado pelo Presidente da República com as Medalhas de Ouro e de Prata de Valor Militar com palma;

 

 


 

Em 21 de Julho de 1965, tendo sido “nomeado, por um período de dois meses, para ministrar instrução de Comandos no Comando Territorial Independente da Guiné (CTIG)”, apresenta-se em Bissau no Quartel General (QG) “com guia de marcha passada pelo Regimento de Infantaria 10 (RI10)”, ficando integrado no corpo de instrutores do 2º curso de comandos como director de instrução.


No final de Setembro de 1965 regressa à Metrópole e ao Regimento de Infantaria 10 (RI10 – Aveiro) «UBI HONOR, GLORIA» - «SENTINELA DO VOUGA»;.

Em 29 de Março de 1967 conclui o curso especial de infantaria.

Em 17 de Abril de 1967 convidado para formar uma companhia de comandos.
 

 

- «Tive a sorte de conseguir convencer o Estado-Maior de que poderia preparar uma unidade, seleccionar muito bem o pessoal e dotá-lo com os materiais necessários. Especialmente o CEME general Câmara Pina estava convencido de que a companhia devia ir bem preparada, mas também bem equipada e que isso era fundamental. Eu era um defensor acérrimo dos pequenos grupos bem preparados, fui aos quartéis seleccionar os oficiais, os sargentos e os soldados: realizaram-se exames psicotécnicos, exames médicos, provas físicas, e depois fomos todos para o CIOE em Lamego. Se um homem fez centenas de tiros durante a instrução, tem confiança no tiro que faz quando vai para combate e sabe utilizar a arma, o que era uma questão fundamental nos comandos; um soldado não pode ir combater com cinquenta tiros feitos durante a instrução, porque não acerta, gasta as munições, é preciso levar mais munições por vezes com helicópteros; gastava-se muito mais dinheiro do que se ele tivesse sido bem instruído.» ¹


Em 15 de Julho de 1967, tendo sido nomeado pelo Regimento de Artilharia Ligeira 1 (RAL1 – Sacavém) «EM PERIGOS E GUERRAS ESFORÇADOS» para servir Portugal na Província Ultramarina de Moçambique, embarca em Lisboa no NTT 'Angola' com destino final a Porto Amélia, como comandante da 9.ª Companhia de Comandos (9ªCCmds) «FANTASMAS»:

 

- «Fomos [em 14Ago1967] os primeiros comandos a ir para Montepuez: nos grupos da minha companhia havia soldados que iam para o mato e não levavam toda a dotação de munições, porque sabiam que os tiros que iam fazer eram eficazes; durante o ano a 9ª Companhia mostrou de facto o que valia, fazendo belíssimas operações, causando baixas ao inimigo e capturando material.


[...]


De vez em quando apareciam lá uns jornalistas que iam escrever sob determinado prisma, mas poucos deles queriam ir ao combate: comigo, ou iam ao combate ou não - eu nunca colaborei em preparar uma 'guerrinha' atrás do quartel.» ¹


Durante a madrugada de 9 de Abril de 1968, no decurso da Operação Dragão Vermelho, gravemente ferido na perna direita em consequência da deflagração de mina antipessoal:
 

- «Eu não cumpri a comissão completa porque fui ferido. A última comissão que fiz foi em Moçambique, onde por acção de um artefacto explosivo fui ferido numa perna; não a perdi imediatamente, fiz muitíssimas operações para tentar recuperá-la e a última foi a amputação, porque cheguei à conclusão que era o melhor: os enxertos partiam-se constantemente, tinha infecções e concluí que o melhor era amputá-la.» ¹


Evacuado para o Hospital Militar Principal (HMP – Estrela) «INTER ARMA FONS VITAE», onde fica internado.

Em 22 de Agosto de 1969 agraciado com a
Medalha de Prata de Serviços Distintos com palma, porque...
 


- «Como comandante da 9ª companhia de comandos, em operações no norte de Moçambique, durante cerca de nove meses, demonstrou possuir notáveis qualidades militares, de valentia, estoicismo e desembaraço, que estiveram na base dos bons resultados obtidos pela sua subunidade nos diversos golpes de mão a bases e acampamentos do inimigo e das populações sob o seu controle, resultados que se traduziram pela destruição de meios de vida, baixa em pessoal (mortos, feridos e prisioneiros diversos), e apreensão de várias armas e munições.


Dinâmico, disciplinador e aprumado, instruiu e mentalizou a companhia por forma que a preparação psicológica, táctica e física dos seus homens lhe permitiu impulsionar a sua actividade operacional com agressividade e espírito de sacrifício, duramente postos à prova nas flagelações e emboscadas de que a subunidade foi alvo no decurso das diversas operações que realizou.


Actuando em zonas de subversão violenta, onde o inimigo, além de mais, recorria frequentemente à implantação de engenhos explosivos nos itinerários, alguns dos quais a sua companhia accionou, enfrentou sempre os riscos inerentes com notória coragem, decisão e serena energia, como o demonstra a sua predilecção pelas operações nocturnas, propiciadoras de mais elevado grau de surpresa. Na operação 'Dragão Vermelho', realizada em Abril de 1968, o capitão Saraiva accionou uma armadilha que o feriu na perna e no pé direitos, tão gravemente que se admite que só muito dificilmente venha a ser recuperável para os serviços de campanha.


Oficial de elevados méritos, que se constituiu sempre em relevante exemplo para os seus subordinados, notabilizou-se na Região Militar de Moçambique por forma a honrar o Exército, mercê dos serviços extraordinários, relevantes e distintos que prestou e o tornam merecedor de ser apontado à consideração pública.»


Em 3 de Junho de 1970 agraciado o
grau de Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

 

 

Capitão de Infantaria
MAURÍCIO LEONEL DE SOUSA SARAIVA
 

Grau: Oficial


Transcrição do Alvará publicado na Ordem do Exército n.º 15 – 2.ª série, de 1970:


Presidência da República Chancelaria das Ordens Portuguesas


Alvará de concessão de 3 de Junho último:


Considerando de justiça distinguir o Capitão de Infantaria, Maurício Leonel de Sousa Saraiva, que, por mais de uma vez, ganhou jus a condecorações por acções em campanha desde 1961;


Considerando que na prática de feitos em combate na Guiné, revelou personalidade em cujo carácter estão vincados o valor, a lealdade e o mérito;


Américo Deus Rodrigues Thomaz, Presidente da República e Grão-Mestre das Ordens Honoríficas Portuguesas, faz saber que, nos termos do Decreto-Lei n.º 44 721, de 24 de Novembro de 1962, confere ao Capitão de Infantaria, Maurício Leonel de Sousa Saraiva, sob proposta do Presidente do Conselho, o grau de Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.


(Diário do Governo, n.º 176, II série de 31 de Julho de 1970).


Medalha de Prata de Valor Militar, com palma (Guiné): Ordem do Exército n.º 13 – 2.ª série, de 1964.


Medalha de Ouro de Valor Militar, com palma (Guiné): Ordem do Exército n.º 15 – 2.ª série, de 1965.
 

 

Em 26 de Junho de 1972 considerado oficialmente desligado do Regimento de Artilharia Ligeira 1 (RAL1 – Sacavém) «EM PERIGOS E GUERRAS ESFORÇADOS»;

Em 1 de Fevereiro de 1973 passa à situação de reforma extraordinária:


-
«Resolvi passar à reforma extraordinária porque, por motivo de lei, não estava apto para todo o serviço: ora eu perdi uma perna em combate mas não me sentia deficiente ou incapaz - um homem só fica incapaz quando perde a cabeça; e eu não a perdi. Pouco depois de eu ter passado à reforma extraordinária, ocorreu o 25 de Abril. Pedir a reforma custou-me bastante, eu gostava daquilo, gostava das Forças Armadas, mas como tinha feito estudos e sempre me dediquei a fazer algo, comecei a trabalhar em empresas civis em Portugal e depois no estrangeiro; porque se um civil é capaz de ser militar, um militar também é capaz de ser civil - e geralmente tem uma boa formação.» ¹
 


Comandou a 9.ª Companhia de Comandos (9ªCCmds) «FANTASMAS»,
foi distinguido com vários louvores, agraciado com a Medalha de Ferimentos em Combate, e com as Medalhas Comemorativas das Campanhas de Angola, da Guiné e de Moçambique.

 


 

- «Houve coisas que se passaram e que me deram condecorações e promoções por distinção, e louvores vários: tudo isto se deve ao trabalho de um conjunto e ao verdadeiro espírito de equipa; um oficial comandante não é ninguém sem os seus soldados. Eu tive sempre muita vaidade nos meus soldados, sargentos e oficiais, que eram realmente valentes; e o que eu fui, foi à custa deles, com eles e por eles.


[...]


As Forças Armadas combateram em África sem ter havido cronistas, como aqueles cronistas militares que havia antes e que transmitiam ao povo português os exemplos do que as Forças Armadas faziam: vai ser difícil contar aos vindouros o que foi aquela guerra, porque pouca coisa escrita ficou.


[...]


Quase ninguém hoje [1995] deve estar convencido de que o 25 de Abril não devia ter existido; não como foi e com as consequências que teve, que foram desastrosas, pois em alguns aspectos houve uma inversão completa de valores. Sofri uma prisão em Caxias, a 11 de Março, sem saber porquê. Depois tive de voltar a ser operado devido à imobilidade que tive na prisão. Não tenho uma perna mas tenho uma prótese, o que também tem as suas vantagens: se me pisam, não me dói... »
¹
 


Posteriormente, desligado do serviço e com o posto de coronel, passou uma temporada em Israel ao serviço da 'intelligence' daquele país; e anos depois radicou-se em Espanha.

Faleceu no dia 15 de Março de 2002, como Coronel de Infantaria 'Comando' na situação de reforma extraordinária.

 

A sua Alma repousa em Paz.
 

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¹ (excertos do seu depoimento, publicado em 14Nov1995 no livro "Os Últimos Guerreiros do Império")

 

 

 

 

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