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NOTÍCIA

Enviado por João Bizarro, editor do Jornal Aurinegra (Cantanhede)

 

"Resgatado em Fevereiro" e a relação de donativos chegados à Associação de Veteranos de Guerra do Centro, enviado por João Bizarro, editor do Jornal Aurinegra de Cantanhede (11/01/2007)

                                                                   

"Resgatado em Fevereiro"


CAMPANHA> José Lourenço não perdeu o direito de regresso

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para aceder à página do Jornal AuriNegra, de 2007/01/11, onde consta a relação de donativos chegados à Associação de Veteranos de Guerra do Centro

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Muito provavelmente em finais de Fevereiro será possível dar sepultura digna ao soldado pára-quedista José de Jesus Lourenço, filho dos Fornos, Cadima, e morto em combate na Guiné há quase 34 anos.

O soldado-menino, de rosto aberto e sorridente, ceifado à bala numa guerra de enganos e contradições, na Guiné, regressará à sua terra e será condignamente honrado na memória. Cantanhede prepara-se para cumprir um dever de cidadania que lhe compete, ajudando a recuperar um filho que não foi resgatado.

Feito adulto tão rapidamente quanto o interesse da Nação o exigiu, José de Jesus Lourenço foi deixado para trás por uma Mãe ingrata – esta nossa Pátria que tão infelizes filhos tem. Em sítio sem qualquer sinal, completamente anónimo, num campo aberto e repleto de inocência e juventude sufocadas pela morte. O pára-quedista parecia ter dado o último salto, o mais definitivo, para o esquecimento, em sítio do fim-de-mundo, sem o direito de repousar em cemitério digno desse nome, como se ao cumprimento do dever e ao sacrifício tivesse que corresponder o maior desprezo.

Apesar de remetido ao esquecimento, para muitos preferível a ter que desenterrar o erro e a desonra, o caso de José Lourenço acabou por ser descoberto por um antigo camarada de armas, agora homem de estudos, inconformado com a ideia de que o passado passou e o tempo apagou o que tinha que apagar. A memória, as responsabilidades, os deveres, ou até lágrimas, porém, não podem ser apagadas.

No último aerograma – as "cartas" que se escreviam aos militares e estes às famílias, "generosamente" com portes pagos pela Nação – Lourenço e seus dois companheiros pára-quedistas e os outros cinco militares do Exército, igualmente mortos em combate, sepultados e posteriormente esquecidos no campo de Guidaje, terão escrito, nas linhas finais, o tão familiar "Adeus. Até ao meu regresso".

Mais de 30 anos depois, pegando-lhe na palavra, estão ainda a reunir-se todas as condições (desde a preparação logística, à questão do estudo e identificação dos restos mortais) para que o regresso se concretize. Com honra e dignidade.

"Até ao Meu Regresso" – a campanha que decorre sobre a égide da Associação de Veteranos de Guerra do Centro, com sede em Cantanhede, chega agora a uma fase crucial. Foi possível reunir já alguns fundos para pagar as despesas com viagens e operação de exumação, estudo e transporte, do que for encontrado no chão de Guidaje; foi pedido ao Estado, junto do Presidente da República, do Governo e das câmaras municipais da origem dos militares deixados para trás, a compreensão para "acertar as contas" com parte do passado que ainda nos afecta.

Se, até ao momento, foram registadas excelentes colaborações pessoais e de autarquias, boas-vontades, algumas participações e compromissos, também se lêem algumas desculpas esfarrapadas e se conhecem ameaças veladas para que não se mexa no que não convirá mexer. Mas há também uma espécie de energia que ultrapassa o próprio pensamento e determina que se cumpra o que ficou por cumprir. Se as condições, a avaliar no final deste mês, o permitirem, a 16 de Fevereiro seguirá para a Guiné o grupo de ex-militares e especialistas cujo objectivo é Guidaje, onde um soldado conhecido, com nome, família e terra, tem ainda o direito de regresso.

João Bizarro

Editor do Jornal AuriNegra, de Cantanhede

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