
NOTÍCIA |
Enviado por
João Bizarro, editor
do Jornal Aurinegra (Cantanhede) |
"Guidaje em breve - Governo da Guiné
exige negociações"
Resumo da reunião
ocorrida no Salão Nobre dos Paços do Concelho de
Cantanhede, em 29 de Janeiro de 2007 (com
imagens)
O resgate dos restos
mortais do três pára-quedistas e cinco seus camaradas do
Exército sepultados em Guidaje, na Guiné, e aí
esquecidos desde Maio de 1973, tem que ser negociado com
o Governo daquele país.
Na sua recente viagem
a Bissau (de 19 a 26 do corrente), Manuel Rebocho não
foi autorizado a recolher em Guidaje quaisquer elementos
relativos ao sítio onde foram sepultados os militares
portugueses, obtendo, porém, do Governo da Guiné o
compromisso de considerar "situação especial" o resgate
dos três pára-quedistas. Essa consideração permitiria
proceder à exumação, identificação e transladação das
ossadas dos três, mas deixa de fora os restantes
militares do Exército (cinco de Portugal e dois nativos)
que o Governo guineense engloba no vasto conjunto
sepultado naquele país e considera "património
nacional".
Em reunião realizada
em Cantanhede, na segunda-feira, 29 de Janeiro, para
fazer "um ponto de situação" de todas as diligências já
efectuadas, o doutorado em Sociologia e ex-sargento mor
pára-quedista contou que a sua viagem exploratória foi
sobretudo de contactos com o Ministério da Defesa da
Guiné e com a embaixada de Portugal em Bissau.
Dessa diplomacia foi
possível passar da primeira consideração de "património
nacional que não sai da Guiné senão com base num acordo
entre os dois Estados" para a situação de excepção no
que toca aos restos mortais dos pára-quedistas.
Perante a nova
situação, a primeira programação da missão, feita por
Manuel Rebocho, que tinha já definido a data de
realização do resgate para 16 de Fevereiro deixou se ser
possível cumprir-se. Por um lado, mesmo que,
tecnicamente, seja possível dividir a missão em duas
(uma a realizar rapidamente e apenas para recuperar os
restos mortais dos pára-quedistas e outra para estudar
todo o sítio de enterramento e recuperar os restos
mortais dos outros soldados), é condição primeira
solicitar formalmente ao Governo guineense a autorização
prometida, explicitando todos os passos da programação e
as pessoas que participam.
OS PÁRA-QUEDISTAS E OS OUTROS
Na reunião de
Cantanhede, os elementos ligados ao movimento que se
criou para concretizar a missão souberam que os
especialistas (antropólogos, arqueólogos e médicos
forenses) consideram ser mais aconselhável fazer uma
única missão, preparada para todas as eventualidades (se
o mapa que existe corresponde aos enterramentos; se os
corpos foram sepultados inteiros cada um em sua campa ou
todos numa única vala...). Não deixa de ser possível
tecnicamente proceder a uma abordagem global do sítio de
enterramento, determinando quais são (ou qual é) as
campas dos pára-quedistas, proceder à respectiva
exumação, identificação (com dados de campo e genética)
e deixar tudo preparado para concluir a missão, logo que
seja autorizada pelas autoridades da Guiné.
Concludente, no
encontro de Cantanhede, é que a missão tem objectivo não
apenas nos pára-quedistas, embora seja, por enquanto,
apenas das respectivas famílias que tenha mandato, e
deve acautelar o conjunto dos militares "esquecidos" em
Guidaje, seja para igualmente os fazer transladar para
Portugal, seja para o cemitério de Bissau (talhão da
Liga dos Combatentes). Para que assim possa suceder, vai
agora insistir junto do Governo Português para um
envolvimento directo com a missão, pelo menos realizando
os contactos bilaterais com a Guiné.
Também à Liga dos
Combatentes, ausente da reunião, o general Avelar de
Sousa, coordenador-geral da missão, vai transmitir a
necessidade de contactos com as autoridades da Guiné,
sabendo que a instituição tinha (e tem) já um plano de
recuperação e tratamento dos sítios de enterramento na
Guiné, a desenvolver até 2008, feito aliás com base em
mandato oficial do Governo de Portugal.
Perante uma situação
de grande complexidade, onde os dados oficiais e os
testemunhos são muitas vezes contraditórios, a missão
percebeu melhor, ouvindo especialistas médicos e
antropólogos, que Guidaje pode ser uma missão
"extraordinariamente simples" mas também
"extraordinariamente complicada". Do ponto de vista da
composição técnica, concluiu-se, por isso, é preciso
incluir na missão mais especialistas, para além dos já
anteriormente incluídos, antropólogos e arqueólogos de
Évora . Sejam dois da Universidade de Navarra que, com
tecnologia de ponta, podem pesquisar o terreno e, sem
nele mexer, estabelecer à partida a disposição das
campas e enterramentos (comprovando ou negando o mapa
oficial que foi produzido na altura).
Sejam dois ligados ao
Instituto Nacional de Medicina Legal, muito
experimentados neste tipo de operações técnicas.
PASSO A PASSO
Uma missão global,
com maiores garantias de que eventuais surpresas têm
resposta adequada, mais dotada de especialistas, custa
obviamente mais dinheiro, mesmo registando que todos
eles não cobram quaisquer honorários pelo seu trabalho.
Viagens, estadia e logística poderão elevar os custos da
missão, sobretudo se for necessário prolongá-la por mais
do que uma semana.
Outra razão para que
as decisões de programação tenham sido adiadas para nova
reunião, a realizar no dia 5 de Fevereiro, em Vila Nova
da Barquinha, na sede da União Portuguesa de
Pára-quedistas, a entidade que assumiu a liderança da
missão e assegurou já, entre a família pára-quedista, um
conjunto razoável de fundos que asseguram a realização
da missão na sua forma mais simples.
Envolvendo dirigentes
da UPP, representantes das câmaras municipais das
localidades de origem dos soldados "esquecidos", a
Associação de Veteranos de Guerra do Centro,
representantes das famílias, técnicos, e Manuel Rebocho,
o homem que descobriu, há cerca de um ano, o
"esquecimento" de Guidaje e tudo tem feito para o
resolver, deste encontro deverá já sair decisão sobre a
constituição da missão e data prevista para a sua
realização. Passo a passo, procurando ainda ao apoio
oficial que, apesar de informado, ainda não se
pronunciou.
João Bizarro
Editor do Jornal AuriNegra, de
Cantanhede
Imagens



















(imagens
da equipa do ultramar.terraweb)
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